João Pessoa, 31 de agosto de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Claro que, hoje, tudo anda plastificado e carente de poesias. Até o futebol. Eu ainda tive o privilégio de viver parte de um tempo em que a bola era a mais pura brincadeira. Sim, toda enfeitada de sonhos, graça e prazer autênticos, mesmo que fosse toda feita de meias.
Ali, tivemos nossos deuses, afinal, deles precisamos para exemplo e também para nos tirar das realidades tristes do cotidiano. A arte serve para isto. A arte, em sua mania de enfeitar a vida, de vez em quando cria gênios.
Caititu: o melhor jogador de todas as eras e de todos os campos. Pelé? Quem era Pelé para Caititu? Com todo o respeito, mas o Rei já era a forma perfeita de possibilidades em uma cidade grande; Caititu, a fórmula perfeita da bola; Pelé tivera as atenções e cuidados do Santos futebol Clube; Caititu tinha as pernas despreparadas de cuidados e uma vida de carências de tudo quanto é possibilidades de viver dignamente! E quem era Garrinha? Um gênio que em comparação a Caititu haveria de saudá-lo como seu rei! Nem falarei de Messi, Cristiano Ronaldo ou Neymar. Com esses, nem comparação há de haver! Maradona!? Qual o que, respeitem Pelé e Garrinha.
Caititu, conheci pelas várzeas do Sitio Saco e de Areias, zona rural de Uiraúna. Eu ainda era um adolescente. Ele, o Rei. Veloz como o mais sagaz dos ventos; calmo como o mais perspicaz dos felinos. Caititu e a bola eram uma só pessoa. Desculpem-me, uma só entidade amalgamados um no outro como o símbolo do Yin-Yang. Entre a bola e Caititu não havia distância porque ente eles um redemoinho de poesias se formava em questão de instantes, principalmente quando ele estava próximo ao gol.
Nunca vi direito a formação de um gol de Caititu. A gente só via o resultado, supremo ápice de uma jogada estonteante. Todos os gols daquele gênio se enrolavam em uma ligeireza absoluta. Se fosse hoje, diria que seus gols e dribles seriam quânticos! E no ar a bola era seu ímã. Inexoravelmente atraída pelo maior dos gênios do futebol. A bola, como que ensandecida de paixão e necessidades, pararia em suas pernas fortes e, por elas, como quem em côncavo e convexo filosofais, pululavam dominadas pela suprema inteligência daquele mulato viril e ousado. Inteligência pura toda engendrada pela natureza para as razões do futebol.
Sim, a bola estava para ele como o ímã está para todos os metais. De cabeça, Caititu levantava-se altaneiro para só ele ter a bola. Ali, plainando no ar, como o beija-flor ao escolher o melhor néctar, Caititu, como se não tivesse peso e gravidade – e sequer asas as tivesse – escolhia o canto indefensável do gol; E se quisesse, como quisesse, porque seu futebol era técnica e poesia, esperava a bola no ar, e de um salto mortal, como que estrambótico e certeiro, acima de todos os zagueiros, suas cambalhotas divinas eram mortais para qualquer defesa ou goleiro.
Caititu, em qualquer canto do campo estaria melhor posicionado. Seus dribles eram cortantes e destruidores de qualquer lógica de defesa; ah, e na assistência, Caititu assistia todas as mesóclises que o futebol quisesse. Um Deus do futebol!
Quão estou feliz hoje! Descobri que o gênio do futebol lá do povoado de Areias – aquele a quem todos acorriam para admirá-lo, que me inspirava em minhas fantasias de ser jogador de futebol tem um filho (na verdade, muitos) – O Carlos Alves.
O Carlos, malgrado as dificuldades de quem mora em zona rural, levantou-se daquela terra cáustica e de poeira e conseguiu daquela sequidão e precisões de toda sorte ser Mestre em Letras!
E mais, porque a natureza nele inscreveu outro tipo de poema, o garoto escreveu um livro “Quem roubou as crianças de rua” (Está na Amazon). Não tenho dúvidas que Caititu seria o verdadeiro rei do futebol se as condições lhe tivessem caídas ao seu tempo. Ao filho, só desejo a genialidade de seu pai – cada um no seu mister, em seu poema e sina.
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