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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Toda fogueira é bela

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publicado em 23/06/2020 às 07h00
atualizado em 22/06/2020 às 19h34

Existem fogueiras que queimam a vida inteira. E existem fogueiras para quem a vida não chega e outras, para quem a vida é demasiada longa. Não estou a falar da fogueira das vaidades. Essa queima geral. A minha é outra. Sou pop, primo de Lampião, sou um cabra de fé, sou do Nordeste.

Não tem coisa mais bonita que o fogo, a juntar para o que celebrávamos São João no Sertão, que era uma alegria imensa. Tinha sido exatamente, quando meu pai me deu uma roqueira, um brinquedo que parecia um martelo, que eu enchia de pólvora e estourava na quina das esquinas. Pou! Nada de chuvinha, traque ou esses fogos deslumbrantes… coloridos.

A primeira vez que vi Ryveka, filha do desembargador Assis Martins e dona Vanda, acendendo vulcões coloridas, fiquei impressionado com sua beleza, não com a luz dos fogos que subia rapidamente para o céu de uma cidade do interior. Aquela cena breve, concisa e talvez explicativa demais para mim, não me fez largar minha roqueira. Naquele tempo eu sabia onde estava o movimento, o carnaval e, “sobre a cabeça os aviões, sob meus pés os caminhões”.

A calçada era dos avôs dela, Joaquim Ribeiro e dona Maria, amigos de meu pai. Era uma modesta. Era a única casa que tinha um primeiro andar. sob o luar do sertão. Eu tinha tanta vontade de subir naquela varanda suspensa, mas minha cabeça já escalava montanhas.

Tinha escolhido a noite de São João para andar nas ruas, sob a minha afoita existência. Sempre fui dos mais chegados. Eu queria mais que as fogueiras, mais que as pamonhas da minha mãe. Queria contemplar a beleza de Ryveka. Não queria que minha vida fosse uma coisa simples, claro, mas queria que fosse absoluta e esteticamente direcionada.

Ainda hoje gosto de decifrar o puzzle. Alguém aí saca?

Ser o caçula de uma recua de 9 filhos, foi o que de melhor me aconteceu. Não me lembro de ser mimado, mas de ser cuidado, educado, capaz de sensibilizar pessoas.

À medida que o tempo passou fui pulando outras fogueiras, sem, evidentemente ter medo de me queimar e perder a libertação já garantida.

Pisando em brasas cheguei perto de Virgínia Woolf, Clarice Lispector, Marguerite Yourcenar, Adélia Prado, Gal Costa, Simone de Beauvoir, Ella Fitzgerald, Nina Simone, Grace Kelly, Fernanda Montenegro, Hilary Swank e Joan Baez, mas nenhuma com a beleza de Ryveka

Fogueiras em pandemia e toda cidade brilha no auge de minhas capacidades, consciente de que viveremos mais por uma vida de encanto, desencanto, ilusão e desilusão. Até sábado!

Kapetadas

1 – A pessoa mais idosa do mundo sou eu. Só não tenho a idade, mas dentro de mim habita uma senhor de 120 anos.

2 – Hoje fiz bolinho de chuva molhou a casa toda.

3 – Som na caixa: “Olha pro céu meu amor….”, José Fernandes e Luiz Gonzaga.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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