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Efeito da prisão de Ricardo chega à política nacional

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publicado em 19/01/2020 às 12h00
atualizado em 19/01/2020 às 13h15
Ricardo Coutinho e Fernando Haddad em 2018 - Foto: Maurílio Júnior/MaisPB

Reportagem do jornal Folha de S. Paulo neste domingo (19) destaca que a avalanche de acusações contra o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), preso no fim do ano passado e denunciado na última segunda-feira (13) sob acusação de liderar uma organização criminosa, afeta as articulações eleitorais no campo da esquerda por atingir em cheio o principal elo entre o PT e o PSB.

O jornal lembra que Ricardo Coutinho é um fiel escudeiro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele foi voz dissonante no PSB quando a grande maioria da sigla decidiu apoiar Aécio Neves (PSDB) nas eleições de 2014 e o impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2016.

A Folha ainda traz a informação, já noticiada no Portal MaisPB, que a executiva do PSB sofre pressão para que o paraibano seja expulso o quanto antes do partido. Leia, abaixo, a matéria completa.

Prisão de ex-governador da Paraíba fiel a Lula fragiliza aliança entre PT e PSB

João Valadares
RECIFE

A avalanche de acusações contra Ricardo Coutinho (PSB), ex-governador da Paraíba que chegou a ser preso no fim do ano passado e denunciado neste mês sob acusação de organização criminosa, afeta as articulações eleitorais no campo da esquerda por atingir em cheio o principal elo entre o PT e o PSB.

Fiel escudeiro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Coutinho pode voltar à prisão. Ele foi ainda voz dissonante no PSB quando a grande maioria da sigla decidiu apoiar Aécio Neves (PSDB) nas eleições de 2014 e o impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2016.

Em fevereiro, o Supremo Tribunal Federal e o STJ (Superior Tribunal de Justiça) devem analisar recursos da Procuradoria-Geral da República contra a liminar do ministro do STJ Napoleão Nunes Maia, que soltou o ex-governador um dia após a prisão.

Protagonista da política paraibana nos últimos 16 anos, foi preso no dia 19 de dezembro do ano passado por suspeita de comandar um esquema que, segundo o Ministério Público da Paraíba, desviou R$ 134 milhões da área de saúde estadual.

O enfraquecimento de Coutinho cria obstáculos para Lula nas articulações com o PSB em razão das próprias disputas internas do partido socialista, avaliam lideranças petistas ouvidas pela Folha.

Na prática, com o ex-governador paraibano fragilizado, há um clima de incerteza nas possíveis negociações eleitorais que Lula pretende conduzir em nível regional.

O PSB de Pernambuco, que só em 2018 voltou a se aliar com o PT, define, historicamente, os rumos do partido. Com a tormenta enfrentada por Ricardo Coutinho, passa a ter ainda mais força.

A avaliação é de alguns integrantes do próprio PSB.

Parte da sigla, ainda com ressentimentos do acordo construído com Lula a partir de Pernambuco no primeiro turno das eleições de 2018, pressiona a executiva do PSB para que o paraibano seja expulso o quanto antes.

Uma liderança nacional do PT avalia em reserva que, sem o contraponto de Coutinho, há sempre um risco maior de o PSB se desgarrar novamente, mesmo que a ala pernambucana do partido esteja temporariamente ao lado dos petistas.

Após a costura feita pelo governador de Pernambuco, Paulo Câmara, em 2018, que conseguiu isolar Ciro Gomes (PDT) na corrida presidencial em troca da retirada da petista Marília Arraes na disputa pelo governo do estado, há grande indefinição quanto a se PT e PSB chegam juntos na eleição no Recife. A partir da capital pernambucana, o jogo pode ser embaralhado de novo.

Ela foi presa em março de 2019. Em delação, depois de ganhar a liberdade, disse que propinas foram entregues em caixas, de 2014 a 2018, na Granja Santana, residência oficial do governador paraibano. As acusações envolvem membros do TCE (Tribunal de Contas do Estado) e alguns deputados do estado.

Os valores dos repasses a Coutinho, conforme informações da ex-aliada, chegavam a até R$ 1 milhão em espécie.

Em liberdade desde maio do ano passado, a ex-secretária disse na delação que foram feitas seis remessas de dinheiro na residência oficial em um valor total de R$ 4 milhões.

Diálogos gravados durante a 7ª fase da Operação Calvário, da Polícia Federal, por um dos delatores agravaram a situação do ex-governador.

Em um dos áudios, ele aparece debatendo supostos valores de propina com um dos responsáveis por uma organização social que presta serviço de saúde ao Governo da Paraíba. Em outro trecho, Coutinho cobra o interlocutor para saber se os repasses estão sendo feitos como foram acordados. Ele nega as acusações.

A investigação apontou que organizações sociais montaram uma rede de prestadores de serviços terceirizados e de fornecedores com contratos superfaturados.

De 2011 a 2019, a Cruz Vermelha do Brasil recebeu mais de R$ 980 milhões do Governo da Paraíba. O Ipcep, de 2014 a 2019, ganhou R$ 270 milhões.

Livânia Farias também envolveu o atual governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB). Em delação, ela afirma que, por intermédio de Coutinho, ele recebia uma mesada de R$ 120 mil para bancar gastos pessoais e de sua campanha em 2018.

Engenheiro e professor universitário, Azevêdo era um técnico que comandava uma supersecretaria na gestão de Coutinho.

Apadrinhado pelo ex-governador, Azevêdo, que nunca havia se lançado candidato, conseguiu ser eleito em primeiro turno com 58% dos votos. Ele manteve inicialmente em sua equipe grande parte do secretariado nomeado por Coutinho.

Com os desdobramentos da operação, Coutinho e Azevêdo romperam. O atual governador da Paraíba deixou o PSB há pouco mais de um mês.

Pessoas próximas ao ex-governador, conhecido por preferir o enfrentamento, dizem que a operação da PF o estimulou a encarar a disputa pela Prefeitura de João Pessoa neste ano, se não houver impedimentos legais até a eleição.

Farmacêutico com trajetória ligada ao sindicalismo, iniciou seu percurso no PT, partido pelo qual foi eleito vereador em João Pessoa em 1992 e 1996. Em 2000, foi expulso da sigla após ser derrotado em prévias para disputar a Prefeitura de João Pessoa.

Filiou-se ao PSB e elegeu-se deputado estadual em 2002. Dois anos depois, foi eleito prefeito com 64% dos votos. Em 2008, se reelegeu ao cargo.

MaisPB

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