João Pessoa, 20 de junho de 2013 | --ºC / --ºC
Dólar - Euro
O Banco Central intensificou suas atuações no mercado de câmbio nesta quinta-feira (20) após o dólar chegar a R$ 2,278 no mercado à vista, alta de mais de 4%, com os investidores avessos ao risco diante da sinalização de que os estímulos econômicos nos EUA poderão começar a ser cortados ainda este ano.
No Bolsa, o principal índice de ações do mercado nacional, o Ibovespa, registrava queda de 1,38% às 13h25 (horário de Brasília), para 47.231 pontos. O índice chegou a cair mais de 4% pela manhã, alcançando a pontuação mínima de 45.929 pontos.
Visando conter os efeitos de um cenário adverso para o câmbio, com falta de liquidez e elevado fluxo cambial negativo, o Banco Central anunciou no início da tarde dois leilões de linha de crédito em dólar de até US$ 3 bilhões.
Esse tipo de intervenção foi bastante usada pelo BC brasileiro para conter a volatilidade do mercado após a crise de 2008. "É um mecanismo usado para compensar a demanda que está havendo por dólar e que busca tentar diminuir a alta da moeda", explica Alcides Leite, economista e professor da Trevisan Escola de Negócios.
A autoridade já havia realizado nesta manhã um leilão de swap cambial tradicional, que equivale a uma venda de dólares no mercado futuro. Foram vendidos 60 mil contratos, com vencimentos em 2 de setembro e 1º de outubro de 2013, no valor total de US$ 2,986 bilhões.
Foi o nono leilão de swap cambial tradicional que o BC realizou em pouco mais de uma semana.
Após as intervenções, o dólar à vista –referência para as negociações no mercado financeiro– tinha valorização de 2,86% às 13h26, cotado em R$ 2,239 na venda. O dólar comercial –utilizado no comércio exterior– subia 0,9% no mesmo horário, para R$ 2,240.
O governo brasileiro também está realizando nesta quinta-feira a venda de títulos públicos, que normalmente possuem forte participação de investidores estrangeiros.
A operação já havia sido anunciada ontem, e o objetivo seria conter o excesso de volatilidade do mercado, evitando uma queda muito acentuada dos preços desses ativos.
MEDIDAS
A tentativa do governo brasileiro de injetar mais recursos no mercado brasileiro acontece um dia após o Federal Reserve, banco central americano, ter anunciado que poderá começar a reduzir o estímulo econômico nos EUA ainda neste ano.
Desde 2009, o Fed compra, mensalmente, US$ 85 bilhões em títulos públicos para estimular a economia dos EUA. Ontem, em comunicado, a autoridade afirmou que os riscos para o crescimento do país já diminuíram.
O presidente do Fed, Ben Bernanke, disse que a autoridade vai começar a reduzir o ritmo de compras mensais de títulos ainda neste ano, e que o programa de estímulo deve ter fim na metade de 2014, caso as projeções econômicas se confirmem até o período.
"Bernanke deu de ombros para o mercado, que se irritou bastante. De um modo geral o cenário traçado para a economia americana em 2014 está bem otimista. Não bastasse a ‘insensibilidade’ de Bernanke conosco, o Banco Central chinês resolveu, em momento extremamente infeliz, contrair liquidez por lá", diz Paulo Gala, estrategista da Fator Corretora.
Mesmo diante de um cenário desafiador para o mercado financeiro, Gala mantém otimismo sobre o país, e diz que o Brasil tem fundamentos para enfrentar a crise.
"Apesar da conta corrente ter piorado e a inflação estar no teto da meta, nossa posição externa ainda é relativamente boa. Somos menos dependentes de capitais de curto prazo, como México, Turquia e África do Sul, e temos posição de reservas robusta. Contas públicas pioram na margem, mas a relação entre dívida e PIB ainda é razoável. Podemos, sim, ter nosso rating [nota] de dívida rebaixado, mas me arriscaria a dizer que o Brasil ainda tem posição relativamente boa no cenário dos emergentes", completou Gala.
No entanto, para Bruno Gonçalves, analista da WinTarde/Alpes Corretora, enquanto não for feito um ajuste nas contas externas, o País continuará vulnerável ao capital especulativo. "Quando você tem essa situação de déficit na conta corrente, quanto pior o déficit, mais efeito tem sobre a moeda brasileira", afirma.
Para Gala, a queda da Bolsa hoje, bem como o preço dos títulos, deixou alguns papéis "excessivamente baratos", o que abre oportunidades de compra. "É difícil acertar o timing exato, mas quem estiver atento às oportunidades poderá fazer excelentes negócios."
ALTA DOS JUROS NOS EUA
Para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, o mercado se assustou com a próximidade do corte nos estímulos nos EUA, por isso a reação negativa tão forte nos mercados hoje.
"O prazo para encerrar o estímulo está perto", avalia Perfeito. "Ele [o Fed] basicamente disse que vai deixar de injetar cerca de US$ 1 trilhão na economia americana —e consequentemente global– em um prazo de 12 meses."
Para especialistas, o segundo passo do Fed após o corte nos estímulos seria a elevação do juro básico nos EUA, o que deixaria os títulos do Tesouro americano, remunerados pela taxa e considerados de baixo risco, mais atraentes aos investidores globais do que aplicações em emergentes.
"Esse processo reduziria o volume de dólares no mercado mundial. Isso também diminuiria a já fragilizada entrada da moeda americana no Brasil, pressionando a cotação do dólar para cima", explica Waldir Kiel, operador da H.Commcor.
Para a Bolsa, a saída de estrangeiros pode provocar uma tendência de queda, já que mais de 40% do mercado de ações brasileiro é representando por estes investidores, segundo analistas.
"Se subirem os juros nos EUA, pode haver a migração de investimentos do Brasil para os EUA. Os investidores vão preferir deixar seu dinheiro em lugares de risco pequeno, como os títulos americanos, ao invés de deixá-los aqui, onde a economia ‘patina’ e o governo não tem conseguido êxito em suas medidas", diz Pedro Galdi, analista da SLW Corretora.
Folha.com
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