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Marcos Pires é advogado, contador de causos e criador do Bloco Baratona. E-mail: [email protected]

Tragédia no Senado

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publicado em 07/11/2025 ás 19h12

“- Senhor Presidente, com a permissão de Vossa Excelência falarei de frente para o Senador Silvestre Péricles de Góes Monteiro, que ameaçou me matar hoje ao começar meu discurso”.

E em seguida a bala cantou.

Sessenta e dois anos depois acho que vale a pena recordar um dos momentos mais trágicos do Senado brasileiro.

Vamos ao que importa. A politica do Estado de Alagoas elegera como Senadores o já citado Silvestre Péricles e Arnon de Melo, este ultimo pai do ex-Presidente Fernando Collor de Melo. Viviam uma intriga permanente em seu Estado natal e evidentemente transportaram essa briga para o Senado. Naquele dia o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, fora avisado que a temperatura entre os dois Senadores aumentara muito, com informações de que ambos haviam mandado vir de Alagoas seus pistoleiros para abrir um azar no plenário do Senado Federal. O Presidente Auro Andrade determinou que os seguranças da casa revistassem todos que entrassem no salão. Até o irmão do ex-Presidente Fernando Collor, Leopoldo Collor de Melo, filho mais velho do Senador Arnon de Mello, à época com 22 anos, teve seu revólver tomado à entrada do plenário. Atentai: um jovem de apenas 22 anos com uma arma na cintura naquele ambiente não era promessa de boa coisa.

E realmente circulava o boato de que o Senador Silvestre Péricles havia prometido matar seu inimigo caso ele discursasse naquele dia. Quando Arnon de Melo foi à tribuna e proferiu as primeiras palavras do que seria seu discurso, avisando que falaria de frente para Goes Monteiro, este partiu para cima do orador. “- Canalha, filho da puta!”. Imediatamente Arnon sacou seu trinta e oito e atirou. Silvestre jogou-se ao chão e rastejou entre as poltronas com seu revólver na mão para revidar, porém foi desarmado pelo Senador João Agripino (depois Governador da Paraíba). Ocorre que na confusão o Senador José Kairala (39 anos), do Acre, que como suplente de Senador estava em seu ultimo dia de mandato, tentou ajudar Agripino a conter Silvestre e foi atingido no abdômen. Seu filho pequeno, sua esposa e sua mãe, que ali estavam para assistir à ultima participação de Kairala no Senado testemunharam sua morte.

Arnon ficou algumas horas preso, porém foi liberado e posteriormente julgado, sendo inocentado. Voltou a exercer o mandato de Senador, que só deixou quando morreu em 1983.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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