João Pessoa, 26 de junho de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Poucas coisas são mais interessantes que a vida alheia. Em geral, ninguém gosta de admitir, mas, é a pura verdade. O normal é, com a cara fechada, o sujeito fechar a questão: “A vida dos outros não me interessa”. Quem ouve assim, tanta certeza, quase acredita. Mas, não tem jeito. Depois de negar o interesse, rapidamente abrem-se os ouvidos , para saber das novidades.
Não cola mais a velha e esfarrapada desculpa machista, que fofoca é coisa de mulher. Bom, pode até ser, afinal , quem não conhece fofoqueiras eméritas? Mas, homens também exercem o mister de falar dos outros, com a mesma intensidade e competência. Então, não é uma questão de gênero.
Em tempos de redes sociais, parece que a nobre arte de falar da vida de terceiros mudou em alguns sentidos. Ora, as próprias pessoas cuidam de ostentar todos os passos que dão, o que compram, o que vendem, o que comem, os lugares que frequentam, com quem estão namorando, e mais uma porção de aspectos da vida que, antes da internet, faziam parte da vida privada do indivíduo. Com essa fartura de material dando sopa, exposto praticamente na cara de todo mundo, o linguarudo fica sempre um pouco defasado. Quando vai começar a contar uma novidade, alguém diz: “ah, eu já sei, vi na internet”.
Restam ao falador os detalhes sórdidos, que por acaso tenham-lhe chegado ao conhecimento. Aquelas coisas terríveis, inconfessáveis, que ninguém é besta de publicar na rede de computadores. Aliás, parece que a fofoca vai ficando mais interessante na proporção em que os fatos são indecorosos. Quanto mais escabrosos, mais interessantes.Tem quem se acomode melhor na cadeira, para ouvir com mais atenção o mexerico.
Em alguns casos, entretanto, os sujeitos exageram. Há muito tempo, antes da internet, estava numa mesa de um barzinho na praia, com alguns amigos. Na mesa ao lado, outro grupo, cinco ou seis pessoas, comentava com riqueza detalhes uma história daquelas, brabas, cabeludas, acontecida com um casal amigo deles. Falavam de intrigas, tapas, chifres , sacanagens, flagrantes, ingratidões, o repertório completo. Falavam alto e acaloradamente. Inevitável ouvir. A história foi ficando tão interessante, que aos poucos a nossa mesa ficou em silêncio. Todos atentos ao desenrolar da narrativa. E assim, foram-se muitos minutos, 10, 15, ou mais. De repente, quando se aproximava o desfecho, o que tinham feito os cônjuges desavindos para retaliar os traidores, o pessoal paga a conta e começa a levantar para ir embora. Provavelmente, iriam terminar a história no carro, no caminho de volta.
Foi uma grita só. Meus amigos levantaram da mesa e pediram, pelo amor de Deus, que o pessoal terminasse a história, antes de ir embora. “Isso não se faz, estamos aqui há meia hora, acompanhando a conversa, e vocês querem ir embora assim?”. O argumento foi válido. O pessoal que não havia percebido a plateia, sentou e contou o final. Ainda tem gente boa no mundo.
Imagem – IA
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BOLETIM DA REDAÇÃO - 26/06/2025