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Pesquisador no LIM do CI- UFPB | Docente no UNIESP | Consultor Empresarial | Head de Marketing | Branding strategy | Marketing Growth Hacking

A vitória fora de campo: como a gestão estratégica transformou os clubes brasileiros em protagonistas globais

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publicado em 21/06/2025 ás 08h50

O futebol brasileiro vive um novo ciclo de protagonismo internacional. Clubes como Flamengo, Palmeiras e Fluminense têm frequentado com regularidade as finais da Copa Libertadores, disputado o Mundial de Clubes da FIFA e, mais importante, demonstrado que é possível competir em alto nível com os gigantes europeus mesmo enfrentando uma desigualdade estrutural gritante. Essa virada não aconteceu apenas no campo. Ela começa na sala da presidência, nos conselhos administrativos e nas decisões estratégicas de longo prazo.

Durante muito tempo, o futebol sul-americano  e o brasileiro em particular foi marcado por uma cultura de gestão amadora, instável e personalista. As decisões eram baseadas em pressões externas, resultados imediatos e relações políticas, ainda existe, mas vem perdendo força, pois isso criava um ambiente de curto-prazismo crônico, sem espaço para planejamento, inovação ou sustentabilidade financeira. O talento sempre esteve presente, mas era sabotado por estruturas frágeis e mal administradas.

O case do Flamengo é emblemático, que após reestruturar suas finanças, reduzir dívidas e profissionalizar sua gestão, o clube carioca conquistou duas Libertadores (2019 e 2022) e chegou à final do Mundial de Clubes em 2019. O mesmo caminho foi seguido por Palmeiras e, mais recentemente, pelo Fluminense, que também chegaram ao topo do continente com projetos bem definidos e consistentes.

Esse cenário começou a mudar a partir da década de 2010, quando alguns clubes entenderam que não bastava mais depender de craques ou da força da camisa. Era preciso agir como uma empresa, o caso mais emblemático é o do Flamengo que em 2013, com uma dívida de quase R$ 800 milhões, o clube iniciou uma reestruturação baseada em responsabilidade fiscal, renegociação de passivos, aumento de receitas e profissionalização das diretorias. Em seis anos, tornou-se o clube mais valioso do país e campeão da Libertadores e do Brasileirão no mesmo ano.

Segundo a consultoria Sports Value, os 20 maiores clubes do Brasil geraram juntos cerca de R$ 11 bilhões em receitas em 2023. Um número expressivo, mas ainda modesto se comparado ao mercado europeu, de acordo com a Deloitte, o futebol da Europa movimentou mais de € 35 bilhões no mesmo período, o que equivale a cerca de R$ 210 bilhões. Ou seja, os clubes europeus arrecadam mais de 15 vezes o volume financeiro dos brasileiros e isso sem considerar a diferença em infraestrutura, calendário, transmissão e patrocínios.

Ainda assim, os clubes brasileiros têm conseguido rivalizar com gigantes europeus e essa competitividade ganhou um marco simbólico histórico no Mundial de Clubes de 2025. Foi quando o Botafogo surpreendeu o Paris Saint‑Germain, até então o atual campeão da Liga dos Campeões, com uma vitória por 1 a 0 no Rose Bowl, em Pasadena.

Apesar dessa assimetria, os clubes brasileiros têm conseguido disputar títulos com consistência, o que revela um ponto central da gestão estratégica: não é apenas a quantidade de recursos que importa, mas a forma como eles são aplicados, o planejamento, a governança e a clareza de posicionamento institucional são elementos que transformam ativos em vantagem competitiva.

Hoje, clubes como o Palmeiras operam com centros de inteligência de mercado, uso intensivo de análise de dados, categorias de base estruturadas e equipes técnicas integradas. O Fluminense, com um orçamento bem mais modesto, apostou em uma gestão coerente, inovação tática e desenvolvimento de jovens talentos, chegando à conquista inédita da América em 2023.

Além disso, a noção de marca tornou-se central na estratégia dos clubes, a construção de identidade, o engajamento de torcedores-consumidores, o reposicionamento visual e a presença digital tornaram-se ferramentas essenciais de diferenciação e receita. O futebol passou a dialogar diretamente com o branding e os clubes deixaram de ser apenas instituições esportivas para se tornarem marcas globais com propósito, narrativa e posicionamento.

A lição que fica é clara: quando a gestão entra em campo, o futebol brasileiro se torna mais do que competitivo. Ele se torna relevante, moderno e sustentável, a profissionalização não é uma tendência é uma necessidade. E quando feita com estratégia, transforma clubes em plataformas de alto desempenho, dentro e fora dos gramados.

Por Alessandro Pinon – Professor, pesquisador e consultor líder da APM. Estratégico 

www.apmkt.com.br

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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