João Pessoa, 18 de junho de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Tudo começa com um desejo. Antes da esperança, da ação, da mudança, existe algo silencioso que nasce dentro de nós e diz: “Eu quero”. É assim com as crianças que apontam o que querem antes de aprender a falar, com os artistas que cantam seus sonhos no palco, com os líderes que transformam o mundo e com qualquer pessoa que, em algum momento da vida, se perguntou: “E se?”. Desejar é mais do que capricho, é o ponto de partida da nossa humanidade.
Jane Addams queria ajudar os pobres quando ainda era uma menina doente, inspirada pelos livros que lia sozinha. O que parecia impossível virou realidade porque o desejo foi acompanhado de ação, de propósito e de coragem. Ela fundou a primeira casa de acolhimento dos Estados Unidos, virou referência no serviço social e foi a segunda mulher a ganhar o Prêmio Nobel da Paz. Tudo porque um dia, ainda pequena, ela ousou querer.
O desejo, quando se transforma em esperança, ganha força. Mas não é qualquer desejo. Para ser esperança, ele precisa ter um objetivo real e parecer possível, mesmo que difícil. É como querer vencer uma maratona. Não basta sonhar com a medalha, é preciso acreditar que existe um caminho para conquistá-la. Esse caminho pode ser curto ou longo, mas ele precisa ser visível para que a esperança não se transforme em frustração.
Na prática, muitos de nós desejam coisas sem acreditar que são possíveis. Quantos sonhos já deixamos de lado porque alguém nos disse que não ia dar certo? Quantas vezes o medo venceu a vontade? É aí que a esperança se diferencia da ilusão. Ela exige que a gente se envolva. Não basta torcer, é preciso caminhar, por menor que seja o passo. E sim, às vezes é difícil. Mas a ciência já comprovou que pessoas esperançosas são mais resilientes, mais determinadas e mais propensas a alcançar seus objetivos.
Existe um conceito na psicologia chamado efeito Pigmalião, baseado no mito do escultor que se apaixonou pela própria criação e viu seu desejo ganhar vida. Em outras palavras, quando você acredita em alguém ou em si mesmo, isso pode se tornar real. Isso vale para lideranças, para professores, para pais e mães. A forma como olhamos o outro pode acender ou apagar possibilidades. Seu desejo pode ativar o desejo do outro. Sua fé pode ser o início da esperança de alguém.
Mas não basta querer para os outros. Também é preciso desejar por si. Às vezes nos tornamos bons em apoiar os sonhos alheios, mas esquecemos dos nossos. Quando foi a última vez que você parou para escutar seu próprio querer? Que reconheceu o que ainda pulsa em você, mesmo que o tempo tenha passado ou as circunstâncias tenham mudado? Enquanto houver desejo, há vida. E enquanto houver vida, há caminho.
A esperança verdadeira envolve vontade e direção. Charles Snyder, estudioso do tema, dizia que esperança é a combinação de motivação com estratégia. Não adianta só querer, é preciso saber como tentar. Quando falta vontade, ficamos apáticos. Quando falta caminho, ficamos desesperados. A esperança mora no meio disso, quando ainda queremos e ainda acreditamos que há como chegar lá, mesmo que com ajuda, mesmo que devagar.
Algumas esperanças nascem de dentro, outras vêm de fora. Confiar em forças maiores como Deus, o amor ou a justiça pode ajudar, desde que isso não nos paralise. Esperar que o mundo melhore não é o mesmo que agir para melhorá-lo. Às vezes, a forma mais poderosa de esperança é a que começa pequena: reciclando, votando, educando, cuidando. A soma dos gestos anônimos pode mover estruturas gigantescas.
E há também a esperança pelos outros. Esperar que alguém melhore, que tenha uma boa noite, que faça uma boa viagem. Parece pouco, mas esses gestos criam redes invisíveis de cuidado. E mais que isso, influenciam. Estudos mostram que a esperança que um profissional deposita em seu paciente pode afetar o resultado do tratamento. Quando alguém acredita que você vai melhorar, você tem mais chances de melhorar. Somos seres que florescem sob os olhos de quem espera o melhor de nós.
No fim, tudo começa com um desejo. Não aquele que depende da sorte ou do acaso, mas aquele que vem com propósito, com direção, com vontade de construir. O que você quer de verdade? Não o que disseram que você deveria querer, mas o que realmente faz seu coração vibrar. É desse lugar que nascem as mudanças. E talvez seja hora de voltar a ouvir esse desejo. Porque é nele que mora a centelha da esperança.
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PÓS GUERRA - 18/06/2025