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Juiza de 9a Vara Civel de João Pessoa. Especialista em Gestão Jurisdicional de Meios e Fins e Direito Digital

A ERA REBORN

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publicado em 21/05/2025 ás 18h14
atualizado em 21/05/2025 ás 18h17

 

Ontem, durante a missa, o padre, em seu sermão, advertiu os presentes: “ninguém apareça na minha paróquia com um bebê reborn para ser batizado ou bento, pois vou chamar, imediatamente, o SAMU e um psiquiatra, para providenciar a internação do responsável”.

Na era da internet 4.0, onde tudo se automatiza, parece que o ser humano está cada vez mais bestializado. A mais preciosa matéria-prima de Deus — o ser humano, o ápice da criação — perdeu seu valor. Hoje, pets e bonecos de plástico parecem ter mais importância que uma criança real. O senso de sensatez foi completamente perdido.

Shoppings centers aceitam animais de estimação. Lojas oferecem água e ração na porta de entrada para atrair os donos dos bichinhos. Mas, se uma criança com aparência humilde entra no local, logo surge um segurança para colocá-la para fora, sem a menor cerimônia.

Enquanto as crianças ao redor do mundo passam fome — e o mapa da fome só cresce —, pessoas trocam fraldas de bebês de plástico, compram roupinhas de grife, criam clínicas para cuidados com reborns e até comemoram seus aniversários.

Nas redes sociais, como Instagram e Facebook, não param de exibir vídeos de “partos” de bebês reborn, protagonizados por mulheres que, ou estão à beira da loucura, ou buscam likes suficientes para monetizar seus perfis e faturar alto em suas contas. Afinal, chamar a atenção rende uns bons trocados.

Segundo a Forbes, a influenciadora Carol Street viralizou com um único vídeo simulando o parto de um reborn, com isso, 1.669.633 de visualizações.

Esse mercado segue em plena expansão, com bonecos que podem custar até R$ 12.000 (doze mil reais). Enquanto isso, crianças reais seguem amontoadas em abrigos, esperando por pais não rebons que nunca aparecem.

Crianças sofrem maus-tratos, negligência e discriminação — mas os bebês reborn são o centro das atenções do momento. Aquilo que parecia um brinquedo para estimular a imaginação infantil ou um passatempo, virou objeto de deleite para adultos com graves carências afetivas, fazendo com que o marketing digital já enxergue neste mercado um novo nicho lucrativo.

O absurdo chegou a tal ponto que, já existem três projetos de lei protocolados na Câmara dos Deputados propondo a proibição de atendimentos a bonecos hiper-realistas em instituições públicas, além da oferta de apoio psicossocial para quem desenvolve vínculos afetivos.

Em escritório de advocacia, já há caso de divórcio em que casal que discute a guarda do bebê reborn. Não só pelo apego emocional, mas porque o boneco possui perfil monetizado no Instagram, gerando renda com publicidade — sendo esta a verdadeira causa da disputa.

Em Florianópolis foi inaugurada a primeira clínica especializada em bebês reborn no Brasil. Enquanto isso, a sociedade se divide entre o saudável e o patológico. Brincar com bebês reborn pode ser positivo — para crianças. Faz parte do imaginário infantil. Mas, para adultos, revela um lado carente que merece atenção e, muitas vezes, cuidados psicológicos.

Enquanto isso, sigamos no nosso mundo  não reborn!

ADRIANA BARRETO LOSSIO DE SOUZA

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB