João Pessoa, 15 de maio de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Pedro trabalhava como técnico em informática e resolveu abrir sua própria assistência. Alugou um ponto no centro, comprou móveis novos, imprimiu panfletos, anunciou em rádio local e… nada aconteceu. Um mês depois, mal cobria os custos. O erro? Começou pela estrutura, não pelo cliente. Quis montar o negócio perfeito antes de validar se havia mesmo demanda, quem era seu público e o que, de fato, essas pessoas valorizavam. Essa história se repete mais do que se imagina em João Pessoa, Campina, Patos, Cabedelo e tantos outros lugares onde sonhos viram prejuízo porque ignoram o essencial: começar do jeito certo.
Muita gente ainda acredita que empreender é montar uma loja. Mas empreender é resolver um problema. E isso exige escuta ativa, humildade para observar e paciência para construir. Abrir um negócio antes de entender o cliente é como cozinhar um banquete para alguém que não disse se está com fome. A ansiedade por ter um ponto bonito, um nome impactante ou um logotipo estiloso pode custar caro se não for acompanhada de uma estratégia de validação. Antes do CNPJ, vem o CPF: conhecer pessoas, entender dores, mapear hábitos, testar hipóteses.
Um dos passos mais ignorados pelos empreendedores iniciantes é fazer uma boa pesquisa de mercado. Isso não exige uma consultoria cara nem planilhas complicadas. Às vezes, basta circular no bairro, conversar com moradores, observar redes sociais, analisar concorrentes. Por que as pessoas compram desse? O que reclamam daquele? O que está faltando aqui? Essas perguntas simples constroem um mapa poderoso. Com ele em mãos, o empreendedor erra menos e avança mais rápido.
Outro ponto importante é a definição do público-alvo. “Todo mundo pode comprar de mim” é uma ilusão perigosa. Quando se fala com todo mundo, não se conecta com ninguém. É preciso saber com clareza quem você quer atingir. É o público jovem ou mais velho? Pessoas com renda mais alta ou que procuram economia? Gente que busca conveniência ou personalização? Essas decisões ajudam a direcionar preço, linguagem, canal de vendas e até o formato do produto.
Também é essencial começar pequeno e testar. Um erro comum é investir tudo logo no início, sem margem para ajustes. O ideal é lançar uma versão mínima da ideia — um cardápio reduzido, uma edição piloto, um serviço personalizado para poucos clientes. Com isso, o empreendedor coleta feedbacks valiosos, aprende com os erros e melhora a oferta antes de escalar. Errar no pequeno é mais barato e mais didático do que descobrir tarde demais que algo não funcionava.
A precificação é outro campo de armadilhas. Muita gente baseia seus preços no concorrente, sem calcular corretamente os custos e sem pensar na percepção de valor do cliente. Uma boa precificação leva em conta custo fixo, custo variável, margem de lucro desejada e, claro, o quanto o cliente está disposto a pagar. Não é sobre ser o mais barato, mas o mais adequado. Quem só compete por preço acaba preso em um ciclo de desvalorização.
Além disso, muitos se esquecem de planejar o fluxo de caixa. Entradas e saídas precisam ser monitoradas desde o primeiro dia. Misturar finanças pessoais e empresariais é uma receita quase certa para o caos. É fundamental ter clareza sobre quanto se gasta, quanto se ganha, quando se investe e quando se segura. Pequenos descuidos financeiros viram grandes dores de cabeça ao longo dos meses.
Outro desafio está na comunicação. Não basta ter um bom produto. É preciso saber como comunicar isso. E aqui vale um alerta: redes sociais não são vitrines, são canais de relacionamento. Quem só posta preço ou só compartilha promoções, cansa o público. A comunicação empreendedora precisa contar histórias, resolver dúvidas, mostrar bastidores, valorizar clientes. Cada postagem é uma chance de se conectar, de gerar valor antes da venda.
Empreender exige técnica, sim, mas também exige emoção. Paixão, resiliência, paciência. Os dias difíceis virão. As dúvidas baterão à porta. Mas quem começa com base sólida, com humildade para aprender e clareza de propósito, tem mais chance de construir algo duradouro. O segredo não está em acertar tudo, mas em ajustar rápido e seguir aprendendo.
O erro de Pedro virou lição. Com o tempo, ele entendeu que precisava conversar mais com seus clientes e menos com o próprio ego. Fechou a loja física, apostou em atendimento a domicílio, investiu em marketing digital e começou a crescer. Não foi sorte. Foi revisão de rota. E talvez seja isso que você precisa agora: não desistir, mas recomeçar do jeito certo. Porque todo grande negócio começa com uma escuta atenta e uma pergunta sincera: o que eu posso fazer de diferente que realmente faça sentido para alguém?
BOLETIM DA REDAÇÃO - 15/05/2025