João Pessoa, 15 de janeiro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
ESPAÇO K

Marly Lúcio: “Jornalismo é lugar para quem tem talento”; veja entrevista

Comentários: 0
publicado em 15/01/2024 às 11h11
atualizado em 15/01/2024 às 08h13

Kubitschek Pinheiro

Jornalista que é jornalista tem que ter paixão pela escrita, pelos fatos, a notícia, o bom texto. Se não tiver, não consegue enfrentar o velho “batente”. Marly Lúcio é formada em Comunicação pela UFPB, mas passou logo no teste na redação. Começou lá no extinto Correio da Paraíba, no Caderno de Cidades e chegou a Editora de Politica. 

La foi evoluindo, crescendo, fez seu nome, embora confesse que o sobrenome Lúcio lhe pareceu estranho, mas a paixão pelo texto sempre foi correspondida. Talento ela tem de sobra. “A vida toda convivi com esse questionamento, pela estranheza de um nome próprio masculino seguido do feminino. Mas é sobrenome sim. E essa composição terminou virando meu cartão de apresentação na profissão” revela.

Marly Lúcio tem MBA em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas. Desde 2004 que ela atua em assessoria de imprensa para campanhas eleitorais prestando serviços para candidaturas a prefeito e a governador. Foi secretária de Comunicação da Prefeitura de João Pessoa, na gestão de Luciano Agra, e atualmente é sócia-diretora da Múltipla Comunicação Integrada, empresa criada por ela em 2015, especializada em assessoria de Comunicação estratégica e gerenciamento de reputação.

Marly Lúcio é casada com o também jornalista Heron Cid, (ele, excelente profissional, o mestre da Hora Agá) e são pais de Benjamim, e Daniel. Marly e Heron atuam juntos nessa história de fazer a notícia em série e fazem bem, juntos no amor, na família e na vida profissional.

Em conversa com Espaço K ela conta parte da sua história de vida, profissão e trabalho, muito trabalho.

Espaço K – Vamos começar por aqui – é difícil ser jornalista hoje em dia com toda essa parafernália de robôs, redes, onde cada um tem seu perfil e diz o que quer ou escreve o que quer?

Marly Lúcio – Acho que se tornou mais desafiador pela confusão que se passou a ter sobre a profissão nesses tempos de compartilhamento de conteúdo e novas tecnologias. O jornalista é um técnico, é preparado por uma graduação. Ele tem uma visão diferenciada sobre os fatos. Ele não apenas expõe um acontecimento. Ele narra, checa, apura outros ângulos, escreve de forma diferenciada, fala com precisão e interpreta de acordo com uma técnica específica e dá o tom da notícia. Jornalista tem uma ética, compromisso social, um olhar de cidadania. Jornalista não se conforma com o que está posto. Ele questiona, contrapõe, busca, contribui com uma sociedade melhor. Hoje, de fato, há muita gente expondo acontecimentos, mas jornalista ainda é uma atividade profissional que tem seus pré-requisitos, como qual outra profissão. E, portanto, deve ser respeitada como tal. É lugar para quem tem talento e se dedica a ser.

Espaço K – Quando o jornalismo entrou na vida de Marly Lúcio?

Marly Lúcio – Ah, ainda na adolescência. Nessa fase meu interesse pela leitura aflorou. Devorava romances, poesias, biografias, crônicas, revistas. E foi justamente com estas últimas que me encantei pelo jornalismo. As grandes reportagens produzidas à época me motivaram a entender mais sobre a profissão e a querer seguir esse caminho quando chegara a hora do vestibular.

Espaço K – Aliás, o Lúcio de Marly é sobrenome?

Marly Lúcio – Sim, sobrenome da parte de mãe. Minha família materna tem raízes no Sertão paraibano, na região de Patos. A vida toda convivi com esse questionamento, pela estranheza de um nome próprio masculino seguido do feminino. Mas, é sobrenome sim. E essa composição terminou virando meu cartão de apresentação na profissão.

Espaço K – Lembro que trabalhamos juntos no Correio da Paraíba – você editora de Política, acho que foi sua última passagem pelo impresso, né?

Marly Lúcio – Sim, e que bons tempos, Kubi. A fervorosa redação do Correio, que não apenas contava a história, mas em muitos casos, contribuiu e interferiu diretamente com ela, com um jornalismo investigativo e pulsante. Eu nunca tive dúvidas que queria atuar no impresso. Sempre quis escrever. Ali foi uma grande escola. Aprendi na prática o ofício, fiz bons amigos e um casamento! Na redação do Correio conheci o amor da minha vida, Heron Cid.

Espaço K – Antes da Editoria Política, como você chegou ao Correio?

Marly Lúcio – Eu cheguei ao Jornal Correio recém-formada, em 2005. Terminei o curso de Jornalismo em dezembro de 2004 e em março fiz um teste para repórter de Cidades com a editora setorial Andrea Batista. O teste foi valendo. No primeiro dia fui à rua e voltei com três matérias. Acabei sendo contratada. O texto ainda imaturo e com muitos erros, que apenas hoje os enxergo. Mas pude aprender muito ao longo da caminhada com professores pacientes e generosos.

Espaço K – Diga uma coisa, ser mulher bonita e jornalista incomoda os marmanjos da redação?

Marly Lúcio – Eu acho que as mulheres ainda incomodam nos espaços profissionais que atuam e no jornalismo não é diferente. Tive a generosidade de me deparar com oportunidades de crescimento na profissão ainda muito jovem. Não as desperdicei. Ao contrário, fiz a minha parte, agarrando-as com muita dedicação, trabalho e seriedade. Mesmo assim, sofri com alguns comentários machistas e sexistas de colegas – homens e mulheres. Lembro que recém-chegada à editoria de Política, como repórter, o jornal estava fazendo uma série de matérias sobre obras estaduais inacabadas. A cobertura se constituía em um tipo de expedição semanal, uma caravana. Ninguém – ou quase ninguém – queria ir porque era muito cansativo e não se ganhava mais por isso. Passavam-se dias na estrada, registrando tudo, às vezes em pleno final de semana de verão. Nessa época eu tinha dois empregos. Mas topei ir. Eu fiz toda a série e após essa experiência fui promovida à editora adjunta e depois a editora.


Espaço K – Você teve passagem pelo Governo do Estado, acho que era coordenadora da Secom. Podemos falar sobre isso, o trabalho árduo que é lidar com a imagem de um homem do poder?

Marly Lúcio Sim, atuei na Secom estadual em 2011, ao lado do jornalista Nonato Bandeira na montagem da equipe e da estratégia de comunicação do governador recém-eleito Ricardo Coutinho. De lá, nesse mesmo ano, fui convidada para assumir a Secretaria de Comunicação do então prefeito Luciano Agra, que nesse período era quase um desconhecido da população da cidade. Foi o trabalho mais desafiador que exerci até hoje. Eu tinha apenas 30 anos, liderava uma equipe de cerca de 50 pessoas, gerenciava um robusto orçamento e tinha que estar à frente de estratégias de reputação pública, gestão de imagem e comunicação política da maior cidade do estado, em meio a uma grande crise política interna e externa.

Espaço K – Eu nunca me imaginei casado com uma jornalista, até namorei com uma. Como é a vida de dois jornalistas na mesma casa, embora com trabalhos bem diferentes?

Marly Lúcio – É maravilhoso! Eu também nunca me imaginei casada com um (risos). Nunca me interessei e nem namorei ninguém da área. Eu conheci Heron Cid na redação do Correio. Mas naquela época, tanto ele como eu, tínhamos outros pares e interesse zero um pelo outro. Anos depois, ambos com casamentos desfeitos, nos aproximamos e não nos largamos mais. No nosso casamento as conversas intrigantes, as reflexões políticas, cheias de opinião e análise são constantes, mas o respeito e a admiração são o que nos sustentam – e o amor, claro.

Espaço K – Como foi que Heron Cid conquistou Marly Lúcio?

Marly Lúcio – Com seu humor inteligente, sua ousadia e decência. Ele sempre me pareceu alguém muito sério. De repente, descobri um Heron engraçado, leve e cheio de tiradas sagazes. Eu tinha cada vez mais vontade de estar perto dele. Na época, quem olhasse para nós dizia que éramos água e óleo. Não se misturavam. Mas, ele foi muito ousado na conquista. Discreto, mas insistente e afeito a surpresas. Também fui conquistada por seu caráter reto, sua fé inabalável e a forma honesta e verdadeira como vive a vida.

Espaço K – Ter filhos hoje em dia, ainda pequenos, é uma barra. Como Marly administra casa, trabalho e família?

Marly Lúcio – É como se fosse um malabarista em plena corrida de obstáculos. Enquanto administra todos os pinos para que nenhum caia no chão, ainda tem que se concentrar no percurso, livrando-se das barreiras e calculando a velocidade certa.

 

Espaço K – O MaisPB é um portal veloz, que tem muita credibilidade. Como é trabalhar com a mídia digital?

 

Marly Lúcio – O jornalismo digital testa a todo instante nossa redação, apuração, criatividade e zelo com a notícia. O desafio maior é ser relevante e creditado. A má informação e as notícias falsas encontraram na internet terreno fértil. O jornalismo digital tem a obrigação de ser o contrário disso. Senão, não é jornalismo. É outra coisa.

 

Espaço K – Tem alguma história curiosa da Marly jornalista? Conta pra gente?

 

Marly Lúcio – Eu já dirigi carro de reportagem tentando sair de uma comunidade marcada pela disputa de facções aqui em João Pessoa e não soube fazer a meia embreagem numa ladeira íngreme. Tive que deixar o carro descer para conseguir seguir. Já presenciei conversas políticas impublicáveis. Já fui de aventuras a amarguras (risos).

 

Espaço K – Eu seria jornalista mil vezes de novo. Você sente isso também?

 

Marly Lúcio – Eu seria mil coisas, inclusive jornalista. Amo a profissão que exerço, mas não teria medo de me reinventar.

 

Espaço K – Já perdemos muitos amigos jornalistas, de outros segmentos e familiares. Marly tem medo da morte?

 

Marly Lúcio – Não tenho medo de morrer, embora tema perder quem amo. Eu sou cristã e acredito no controle de Deus sobre as nossas vidas, sem esquecer do livre-arbítrio que nos foi concedido para fazer escolhas e traçar a nossa trajetória. Sei que Ele já tem o tempo determinado para minha partida e ‘a vontade dele é boa, perfeita e agradável’.

 

Espaço K – Me diga uma coisa, aonde vai parar essa violência ampliada contra as mulheres?

Marly Lúcio – Espero que na cadeia. Só o fim da impunidade nos blindará para a redução dos crimes contra as mulheres. Enquanto for normalizado, banal e até condecorado, nunca haverá avanços. Políticas punitivas aliadas às educativas nos proporcionarão alcançarmos outra condição pelo fim da violência contra as mulheres na sociedade.  

 

 

 

Leia Também