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ESPAÇO K

De Rubens Nóbrega a Rubão: jornalista abre baú de histórias e vida profissional

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publicado em 06/11/2023 às 09h29
atualizado em 06/11/2023 às 07h01

Kubitschek Pinheiro

 O jornalista Rubens Nóbrega é, aparentemente, um homem sisudo, ou melhor: parece tímido e não é muito dado às gargalhadas. Ele é do tempo livresco, do respeito a pai e a mãe,  e da seleção dos bons jornalistas que foi parido em nossa Paraíba. Aliás, muita gente pensa que Rubens nasceu em Bananeiras. Não, ele é da capital, mas Bananeiras não lhe sai do pensamento.

Rubão, como chamam os confrades e muitos que o conhecem e leem seus textos, com certeza, ele não  gosta de badalação. É o pacato, Rubão. Acho que nem Instagram ele tem. Nem  gosta de se exibir, é um homem tranquilo, na dele. Não é fácil encontrá-lo na cidade, raramente no shopping com a mulher Madriana Feitosa e os filhos, sagrada família.

Ele é dado ao aperto de mãos, mas pode  surgir um abraço, e não acha muita graça nem olé, ola. Não enche a boca para contar vantagens, para dizer que  é o tal. Jamais.

Quando procurado pelo Espaço K, topou na hora  e não deixou de responder a nenhum perguntar, até a mais remota – O machete do Correio da Paraíba,“Foi Braga”, quando ele era o editor e a gente traz à tona e ele responde – de onde veio a informação que gerou a manchete “Foi Braga”.

Bom texto, bom entrevistado, o Rubão é filho de Seu Vicente e Dona Aparecida tem esse jeito diplomático, mesmo vestido de jeans e camisa de manga comprida. É um profissional, é parcial, sabe ouvir e quando é amigo, é para valer. Acolheu em casa, o jornalista Wellington Farias, o cuidou dele, como filho, um irmão.

Leiam a nossa conversa e aprendam com ele, sobre a vida, o trabalho sem fim, seu primeiro romance ‘Baixa do Mel’ e tanta coisa mais. Na próxima semana, a gente traz a primeira mulher ao Espaço K, a jornalista Edilane Araújo.

 Espaço K  – Desde quando Rubens Nóbrega virou Rubão?

Rubens Nóbrega – Apesar de baixinho e magrinho na maior parte da vida, colegas e amigos do jornalismo passaram a me chamar de Rubão em meados dos anos 1980. Adotei o apelido no blog criado para o Jornal da Paraíba online, em 2013, e mantenho até hoje.

Espaço K  – Você lembra do dia em que botou o pé numa redação de jornal?

Rubens Nóbrega – Não lembro a data, mas foi numa tarde qualquer de abril de 1974, em O Norte. Marconi Góes, boss dos Diários Associados na Paraíba, deu-me emprego. Confiou na suposta ligeireza de datilografar e escrever do “menino de Vicente”. Referia-se a Vicente de Paula Nóbrega, meu saudoso pai, então colega de Góes no curso de Direito da antiga ‘Universidade Autônoma’, antecessora do centro universitário conhecido como Unipê.

Espaço K  – Nasceu em Bananeiras, que é hoje é o paraíso de ricos e centauros (a tal Classe Média) como você olha para a cidade Natal – tipo o progresso é necessário, mesmo quando chega pela força do capitalismo selvagem…

Rubens Nóbrega – Nasci em João Pessoa, mas muita gente acha que sou de Bananeiras, que é a terra da minha infância e adolescência, lugar de meu apreço e de muita saudade, por mim exaltado em todos os espaços que confiaram na imprensa paraibana. Creio que essa exaltação contribuiu um pouco para a imagem que colou em Bananeiras a partir de 2004, quando a ser governada por Marta Ramalho. Contou muito também, claro, com o empreendedorismo de Alírio Trindade e Josa Cirne, instaladores dos primeiros condomínios serranos de alto padrão que impulsionaram a economia do município. Até 2012 e depois, com o prefeito Douglas Lucena, sucessor de Marta, o que se viu lá foi uma evolução constante. O município como um todo desenvolveu-se como atrativo e ativo turístico, mas tudo puxado pelas ações e programas implementados pela Secretaria de Cultura e Turismo da prefeita Marta, que teve a sabedoria e a felicidade de contar, à frente do órgão, com Ana Gondim, que levou adiante políticas públicas e iniciativas centradas na valorização da arte e da cultura autenticamente produzidas na cidade, no Brejo, na Paraíba e no Nordeste.

Espaço K  – Tem uma história em sua vida que quase o matou, uma doença e tal – foi um milagre e milagres estão no imaginário da população ou foi a ciência que lhe salvou?

Rubens Nóbrega – Talvez as duas coisas juntas. Quando criança, fui acometido do que chamavam de ‘foco de paralisia infantil’. Passei cerca de dois anos praticamente condenado a me transformar em cadeirante pelo resto da vida. Mas meus pais me levaram a diversos médicos e um deles prescreveu uma fisioterapia bem rústica que me recobrou parte da mobilidade e alguma força para os membros esquerdos, os mais afetados.

Espaço K – Falando em ciência, nosso amigo Wellington Farias já foi.  Meu amigo Zé Alberto que era médico e abriu milhares de cabeças em João Pessoa,  dizia que quem tem câncer morre de câncer ou em consequência. Mas foi foda ter perdido Fodinha, né?

Rubens Nóbrega – Para mim, particularmente, foi como ter perdido um irmão. Wellington era meu compadre. Tive a felicidade de ser escolhido por ele e por Eloise, minha querida Comadre Loló, para ser padrinho de Vanine, ser maravilhoso que os dois legaram ao universo. A madrinha, Águida Lúcia, com quem fui casado e que adotou WF como filho. Um filho que ela tratou com desvelo de mãe mesmo, ajudando-o fortemente a superar problemas que só uma pessoa como ele, abençoadamente determinada, seria capaz de superar. Refiro-me ao alcoolismo, que ele soube enfrentar e manter em zero consumo até o final da vida. Não podia ser diferente. Wellington era, antes de tudo, um ser humano maravilhoso, um cidadão do bem a toda prova e um jornalismo brilhante, super competente e versátil, além de virtuose no violão.

Espaço K – Seu pai tinha o nome do meu pai – Vicente – e ele trabalhava com música quando vocês moraram em Bananeiras. A gente sempre herda algo de nossos pais. Sua arte literária, jornalística tem algum parentesco com a música?

Rubens Nóbrega – Vicente, meu pai, aprendeu a tocar cavaquinho ainda adolescente, em Santa Luzia, onde nasceu. Migrou para Bananeiras, onde estudou na Escola Agrícola. Fez a mestria, equivalente ao antigo ginásio, e depois o curso técnico em Agropecuária. Lá, no Colégio Vidal de Negreiros, do qual foi também professor por 16 anos, aprendeu a tocar instrumentos de sopro. Aliás, tocando sax ou tenor nos bailes da vida, também cantando – porque cantava muito bem – ganhava uns bons trocados para ‘interar’ a feira. Robson, primogênito de Vicente e Maria Aparecida, é o herdeiro natural desse lado artístico do nosso pai. Quanto a escrever, acredito que isso vem dos meus pais, também. É uma coisa natural, sem rebuscamentos ou refinamentos, comum a todos e todas lá de casa.

Espaço K – “Foi Braga”. Essa manchete nunca saiu do imaginário dos antigos leitores do Jornal Correio da Paraíba, quando você era o editor. – Perguntando diferente – tudo passou, mas a manchete está emoldurada. Podemos falar sobre esse tempo?

Rubens Nóbrega – Primeiro, preciso dizer que quem disse mesmo ‘Foi Braga’ foi a Polícia Federal, quando investigou e indiciou o então governador Wilson Braga como mandante do assassinato do Paulo Brandão, um dos donos do Correio da Paraíba, executado a tiros de metralhadora em 13 de dezembro de 1984. O ‘Foi Braga’ veio para a manchete do jornal a partir da conclusão do inquérito que identificou que a arma do crime pertencia ao arsenal da Casa Militar do governador do Estado. Uma manchete inspirada numa similar do Correio Braziliense, que um dia antes da execução de Paulo havia sido abalado pela morte de Mário Eugênio, repórter daquele jornal, eliminado a facadas e tiros de escopeta. Mas, evidentemente, as manchetes são bem posteriores aos crimes a que se referem. E foram produzidas, tanto lá como cá, com o lastro do trabalho policial homologado pela Justiça, na sequência, através da condenação dos autores materiais dessas mortes. Wilson Braga não foi denunciado pelo Ministério Público e, portanto, não foi pronunciado pelo Judiciário. Formalmente, não deve por aquele crime. De minha parte, formei a opinião de que ele, pessoalmente, não encomendou o homicídio. Mas acredito que sabia de onde partiu e, mais ainda, de onde partiria se algo semelhante viesse a acontecer, como acabou acontecendo. Afinal, quem assumiu e pagou por tudo foi o Coronel Alencar, secretário-chefe da Casa Militar de Braga e, diziam, “irmão de criação” do então governador.

Espaço K  – Você escreveu um romance, ‘Baixa do Mel’. Como foi a repercussão, como os leitores e os jornalistas que escreveram sobre a obra a definiram? ‘Baixa do Mel’ foi o ponta pé para outros romances?

Rubens Nóbrega – Espero escrever outros romances, sim. ‘Baixa do Mel’ caiu no agrado de muitos, mas também recebeu algumas críticas valiosas, procedentes. O professor Hildeberto Barbosa, por exemplo, não gostou. E, de certa forma, provoquei-o publicamente a declarar que não gostara. Uma colega jornalista que prezo muito e é dona de uma escrita poderosa, super criativa, disse-me recentemente que começou a ler e de logo sentiu que “o jornalista atrapalhou o romancista”. Uma professora de História da Universidade, pessoa a quem devoto admiração, estranhou a inserção de determinado personagem no enredo, como se não houvesse link entre essa história, em particular, e a trama geral do livro. São coisas que a gente vai ouvindo, lendo e assimilando. Espero que esse aprendizado se reflita no próximo romance, se houver.

Espaço K  – Você me parece longe das redes malditas sociais. Não lhe agrada o panorama ou, além do ódio explicito, tem muita bobagem, mas tem coisas interessantes…

Rubens Nóbrega – Não dá pra viver hoje sem elas, né? Digo no sentido de não perceber ou não dar importância. As redes sociais são um espaço de comunicação e interação muito poderosíssimos. Gostaria de usar mais, produzir mais, mas penso que dá muito trabalho fazer coisas que se destaquem, que chamem a atenção, que façam a diferença. Porque há milhares de conteúdos de muita qualidade convivendo com milhões de bobagens, além, é claro, das ofensas, de ódio, da desinformação, deformação, distorção, manipulação… É uma selvageria que afugenta, afasta ou reprime. 

Espaço K  – Acho que você foi o único editor com quem não trabalhei e certamente teria aprendido mais, como aconteceu comigo e Frutuoso Chaves. Quem sabe noutra vida, né?

Rubens Nóbrega – Aprendizado jamais é via de mão única. Nem uma questão de vínculo trabalhista ou convivência numa mesma empresa, num mesmo veículo, numa mesma redação. Tenha a certeza de que lamento não ter tido esse convívio profissional com você. Mas tive a felicidade de ser discípulo de Frutuoso n’A União. Dele e de Agnaldo Almeida, de Barreto Neto, de Werneck Barreto e de tantos outros colegas que me enriqueceram profissionalmente e pessoalmente, também.

Espaço K  – Essa é a última pergunta e eu não queria parar por aqui, mas me diga: quem é Rubens Nóbrega?

Rubens Nóbrega – Filho de Vicente de Paula Nóbrega e de Maria Aparecida Barbosa da Nóbrega. Pai de Túlio, Danuta e Ila. Marido de Madriana Feitosa, minha Branca. É o que tenho de melhor pra mostrar ou oferecer. Porque tudo o mais, o que fiz ou deixei de fazer ou ainda farei, é decorrência do que sou ou tento ser para essas pessoas amadas.

 

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