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entrevista exclusiva

Ao MaisPB, Caetano Veloso fala de parceria com Gal e detalha show Transa

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publicado em 07/08/2023 às 18h10
atualizado em 07/08/2023 às 15h49

Kubitschek Pinheiro

Fotos –  Pedro Paulo Koellreutter, Cafi, Hannah Carvalho e arquivos

Hoje é aniversário de Caetano Veloso, 81 anos. Um gênio sem precedentes no espaço músico-literário do Brasil e lá fora também. Caetano Veloso não parece ter noção de sua grandeza.  Não é um artista que vive se gabando; ele ama suas origens, a Bahia de Todos os Santos, os amigos e a família. Um brasileiro autêntico.

No próximo domingo (13) o artista vai se apresentar no Festival Doce Maravilha, com o show “Transa”, cujo disco foi lançado em 1972 e produzido durante o exílio em Londres. O álbum é considerado um marco em sua trajetória. O evento vai acontecer na Marina da Glória, no Rio de Janeiro,  nos dias 12 e 13, com 28 atrações nacionais. A curadoria musical é do jornalista Nelson Motta.

Caetano sobe ao palco com Jards Macalé, Tutty Moreno e Áureo de Sousa, os músicos que gravaram com ele o disco “Transa”. É o sexto álbum de estúdio do cantor e compositor, gravado em 1971 no Chappell’s Recording Studios, em Londres, e lançado pela gravadora Philips em janeiro de 1972. Macalé foi produtor do disco. Ainda participaram do “Transa” Gal Costa, em “Neolithic Man”, e  Ângela Ro Ro, tocando gaita na faixa “Nostalgia”.

Ensaio do disco Transa em Londres (foto: arquivo)

Assim que o line-up oficial da primeira edição do Festival Doce Maravilha foi anunciado, fãs de todo o país se movimentaram e estão de malas prontas para assistir a esse momento histórico na vida do artista e de seus admiradores.

Em entrevista exclusiva ao MaisPB, Caetano fala da saudade de Gal Costa, do show “Transa”, dos ensaios e das homenagens que fará aos músicos Moacyr Albuquerque (falecido em outubro de 2000 e que também toca no disco “Transa”) e ao seu irmão Perinho Albuquerque, a quem Caetano tem dedicado a turnê “Meu Coco” (assim como a Arto Lindsay). “Perinho vive, mas faz anos que não nos vemos. É um gênio da música. Foi produtor de discos meus como meu adorado ‘Jóia’. Mas muito, muito mais”, disse o artista.

Caetano Veloso cantando Transa (foto: arquivo)

MaisPB  –  Seis dias depois de seu aniversário, próximo domingo (13) você vai revisitar o clássico álbum “Transa”, lançado originalmente em 1972, com um show no Festival Doce Maravilha, na Marina da Glória, no Rio. A apresentação celebrará os 50 anos desse disco moderno. Vamos começar por aqui?

Caetano Veloso – Sim. Bom lugar para começar. Um lugar que é um nó. Transa é um disco cheio de História e estórias. Broken English, exílio, aceitação de Londres, saudade do Brasil.

MaisPB – “Transa” chegou aos ouvidos do mundo há 51 anos e parece ter sido feito este ano, de tão atemporal. O mercado musical recebeu “Transa” feito no seu exílio, iniciado em 1969. O disco, produzido por Ralph Mace, foi e é, um dos mais importantes da sua carreira. Segundo a Rolling Stone, o décimo melhor disco brasileiro de todos os tempos.  Discão, né Caetano?

Caetano Veloso – Não sei se acho Transa merecedor da posição em que a Rolling Stone brasileira o colocou. Só tenho certeza de que Jards Macalé, Tutty Moreno, Áureo de Souza e a memória de Moacyr Albuquerque merecem a honraria – e mais amor de nossa parte. Ralph Mace foi um carinhoso produtor, mas o fato de eu ter voltado pro Brasil logo depois de concluí-lo fez com que ele não tivesse mais interesse em forçar a gravadora a lançá-lo na Inglaterra e no resto do mundo. Virou um disco brasileiro, amado por muitos brasileiros, mas quase inexistente para o mundo anglófono.

Disco “Transa” de Caetano Veloso sendo gravado em Londres (foto: arquivo)

MaisPB – Como estão acontecendo os ensaios?

Caetano Veloso – Estou ensaiando com a banda do “Meu Coco”. Eles tiraram tudinho do disco, reproduzindo o que foi feito por Macal, Tutty, Áureo e Moacyr. No começo desta semana, logo depois do meu aniversário, os três músicos vêm se juntar a nós nos ensaios. Somente Moacyr não estará. Exceto na saudade que sempre teremos dele.

Aureo de Souza, Maurice Hughe, Jards Macalé e Moacir Albuquerque com Caetano Veloso em Londres (foto: arquivo)

MaisPB – Você já disse, acho que nos 4O anos de “Transa”, que adora Triste Bahia e Mora na Filosofia, porque eram cantadas só em português. Tem alguma canção desse disco de sua predileção?

Caetano Veloso – Faz anos que não ouço esse disco. Prometi aos músicos do Meu Coco que estudaria faixa a faixa, mas acho que só vou fazer isso agora, depois de responder a suas perguntas. Tomara que eu consiga. Meu inglês problemático deve ter me afastado dele. Acho que os acenos em português, citando canções divinas de Edu Lobo, Vinícius de Moraes, Baden Powell, Onildo Almeida e do folclore brasileiro são a força do disco aos meus ouvidos, além do jeito de os músicos tocarem. Mesmo assim, acho que “It’s A Long Way” é a melhor em minha lembrança.

MaisPB– Aliás, “Triste Bahia” você cantou na turnê “Abraçaço” ao vivo e foi lindo, e ali muita gente ouviu pela primeira essa canção num show, assim como outras como “You dont´t know me”, que está no setlist da turnê “Meu Coco”. Ou seja, o disco “Transa” é como a Bahia, não lhe sai do pensamento?

Caetano Veloso – Sai muito. Mas volta sempre, sobretudo, porque muitas outras pessoas me falam dele.

MaisPB – No show de domingo, podemos pensar que você vai cantar o disco “Transa” todo?

Caetano Veloso – Sim. Estou ensaiando todas as músicas do Transa. Não são muitas. Apenas sete, embora bem longas.

MaisPB –  Sobem ao palco do show “Transa”, Jards Macalé, Aureo de Souza e Tutty Moreno, os músicos do disco gravado em Londres e isso deixa de ser um show, para ser um concerto ao ar livre. Estou certo?

Caetano Veloso – Está.

Jards Macalé, Aureo de Souza e Tutty Moreno ao lado de Caetano Veloso (foto: arquivo)

MaisPB – Você pensa em fazer uma homenagem  ao baixista Moacyr Albuquerque, que toca no “Transa” e em vários discos seus?

Caetano Veloso – Claro. Penso muito nele. E em seu irmão Perinho Albuquerque, a quem tenho dedicado Meu Coco, juntamente a Arto Lindsay. Perinho vive, mas faz anos que não nos vemos. É um gênio da música. Foi produtor de discos meus como meu adorado “Jóia”. Mas muito muito mais.

MaisPB – Muitas pessoas – a maioria jovens e fãs de toda vida do Caetano vão sair dos 4 cantos do Brasil, principalmente do Nordeste, para assistir “Transa”. Como Caetano vê essa alegria dos fãs jovens e renovados?

Caetano Veloso – Muita gente me diz isso. Fico comovido.

MaisPB – Gal Costa está no disco “Transa”, na última faixa Nostalgia, Gal está em você, no seu olhar. Poderia falar dessa saudade?

Caetano Veloso – Gal é para sempre. Se ela estivesse viva, eu a chamaria para cantar comigo Neolithic Man e Nostalgia. Para esta última viria junto com ela a grande Angela Ro Ro, que eu chamei mas que terá show em Belém na mesma data e por isso não pode vir.

Caetano Veloso ao lado de Gal Costa em Londres (foto: arquivo)

MaisPB – Desde da abertura da turnê de “Meu Coco” em Belo Horizonte, que você disse que deseja voltar para Salvador e ficar lá, fazendo shows. Se isso acontecer, vamos todos a Bahia ver você cantar voz e violão, numa alegria para sempre?

Caetano Veloso – Amém.

MaisPB – Já assistiu a série “Cadê o Amarildo?”, frase que você repetia nos shows Abraçaço?

Caetano Veloso – Ainda não.

MaisPB – A semana passada no seu perfil do Instagram, você apareceu tocando e cantando “Araçá Azul”. O perfil Caetanoéfoda trouxe uma carta que você teria escrito para alguém, falando do LP “Araçá Azul”, relembrando que na época, algumas pessoas devolveram o vinil às lojas. É um disco tão histórico quanto “Transa”, não é? Fala aí pra gente?

Caetano Veloso – Araçá Azul é mais radical. E é o disco que faz 50 anos este ano. Canto a canção que repete seu título no meu Coco e cantarei no Transa. É o pós-Transa.

MaisPB – Xande de Pilares (de quem você, Tom, Zeca e Moreno cantam “Tá Escrito” no final do show e disco “Ofertório”) lançou na semana passada um disco cantando só Caetano.  Fala aí da arte desse cara, tão bacana e inteligente?

Caetano Veloso – Demorei a te responder sua entrevista, pois o disco saiu ontem (sexta-feira 4) no meio da noite. É lindo. Ainda choro quando ouço “Gente” com aquela levada de samba-enredo. Você não faz ideia de quão fundo me toca ouvir essa canção que foi muito xingada quando de seu lançamento voltar com mais beleza do que eu poderia imaginar mesmo quando a compus e gravei.

Show Transa em Recife (foto: arquivo)

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