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MaisPB Entrevista

Hamilton de Holanda lança novo trabalho

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publicado em 12/02/2022 às 13h12
atualizado em 12/02/2022 às 15h46

Kubitschek Pinheiro MaisPB

Fotos – Rodrigo Simas Rafael Catarcione

O compositor e bandolinista Hamilton de Holanda não para. Trabalha fazendo música, dia e noite, numa mega produção. O resultado são os frequentes discos que ele tem lançado. O mais novo é “Maxixe Samba Groove”, um álbum cheio de ritmos brasileiros e mundiais, que nos conecta de imediato à arte de Hamilton, o bandolinista maior do Brasil pandeiro.

Lançado nas plataformas “Maxixe samba groove”, tem um movimento que nos conduz a ficar grudado no groove. O repertório é um elo do Choro com o Jazz. As composições são, na verdade, Choro, Samba, Xote, Jazz, Reggae, Afro, Maxixe, Pop, Rock, Música Indiana, Baião, Flamenco. entre outros. Com ele no Bandolim, André Vasconcellos, baixista e produtor, que esteve na banda do Djavan com apenas 16 anos, é parceiro de Hamilton desde os tempos de Brasília, fim da década de 90. Vasconça, como eles o chamam, é um dos músicos mais reconhecidos do Brasil, tendo tocado também com Milton Nascimento, Caetano Veloso e outros.

Falando em Caetano, Hamilton toca no novo disco do artista baiano, “Meu Coco” a décima faixa “Você-Você” um duo de Caetano e a cantora portuguesa, Carminho.

O percussionista André Siqueira do “Maxixe Samba Groove”, já tocou com Maria Rita, Zeca Pagodinho, Ivan Lins, Mart’nália e Simone. André nasceu no mesmo ano e na mesma maternidade que Hamilton, na Casa Maternal de São Cristóvão.

O baterista Antonio Neves chega perto e toca muito nesse álbum de Hamilton. É também um dos arranjadores do novo disco de Marisa Monte e fez um solo de arrebentar o trombone na música Bruzinho, a segunda faixa de “Maxixe Samba Groove”

Uma raridade – Hamilton Toca nesse disco um bandolim que foi feito com madeiras que sobreviveram do incêndio que acabou com o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2018. O bombeiro e luthier Davi Lopes construiu o bandolim de 10 cordas com madeiras de mais de 200 anos e deu de presente a HH.

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Especial – Neste álbum podemos ouvir a primeira gravação, além de ser a 1ª composição (Luz de Vida) de dois jovens da maior importância na vida de Hamilton: Bento Tibúrcio Mendes, seu sobrinho, no contrabaixo, e Gabriel de Holanda, seu filho, no bandolim.

Participações mundiais: Varijashree Venugopal, cantora e flautista indiana, que gravou voz na música ‘Choro Fado’, que abre o disco de HH. Chris Potter, saxofonista americano, do Jazz moderno, fez um solo emocionante na música “Afro Choro”. Gravado nos Estados Unidos, Nova York.

Maxixe foi produzido por Hamilton e Marcos Portinari, empresário, produtor multimídia e compositor com quem ele tem uma parceria longeva desde 2005, inclusive foram indicados no Latin Grammy na disputada categoria de produtores do ano. Criaram juntos ao longo desses mais de 15 anos projetos premiados como Brasilianos, Baile do Almeidinha, Caprichos, Samba de Chico, Mundo de Pixinguinha, Canto da Praya e Bossa Negra, entre outros. O álbum foi gravado e mixado no Rio de Janeiro, por Daniel Musy, parceiro desde o primeiro disco solo, Hamilton de Holanda, de 2002.

A capa do álbum tem a assinatura de Enio Souza, a partir da foto de Pang Way, fotógrafo da Malásia especializado em imagens da vida selvagem, especialmente de insetos espetaculares.

O MaisPB conversou com Hamilton de Holanda pelo telefone que fala melhor sobre essa novidade chamada “Maxixe Samba Groove”

MaisPB – Que disco hein, Hamilton?

Hamilton de Holanda – Pois é, eu fiz nessa pandemia muitas canções e escolhi essas sete, para compor Maxixe Samba Groove.

MaisPB – Abre o disco com “Choro Fado” que tem a participação da indiana Varijashree Venugopal. Como aconteceu isso?

Hamilton de Holanda – Essa indiana é maravilhosa, é de chorar, né? Eu a conheci em 2020, no auge da pandemia, quando a gente fez um desafio para o pessoal da Internet, eu e João Bosco. Tocamos “Incompatibilidade de Gênios” e ela mandou sua participação. Varijashree mora em Bangarole. Ela mandou a voz dela, ficou muito bonito. Eu tive uma emoção que fazia tempo que não tinha – precisava fazer alguma coisa com ela. O acompanhamento da música, ela postou e ouvi. Ela está no Brasil num Festival de Campos do Jordão.

MaisPB – Varijashree Venugopal já viu a canção, ela gostou do resultado?

Hamilton de Holanda- Ouviu sim, ela adorou, ela é muito musical. Se a pessoa entrar no Instagram dela, vai ver no seu perfil – “devota da música”, é uma grande artista.

MaisPB – Você já tinha feito algo assim?

Hamilton de Holanda- Sim, já tive experiências com cantoras. Gravei com Silva Perez no meu disco o Samba de Chico Buarque, que é uma maravilha também, mas com uma cantora indiana, foi a primeira vez.

MaisPB – Parece música para acalentar. E ao mesmo tempo lembra uma canção antiga?

Hamilton de Holanda – Exatamente. Sim, eu tenho essa paixão de está voltando no tempo. Minha série preferida é “De Volta para o Futuro”, eu sinto que a música é essa máquina do tempo, que a gente pode fazer muitas viagens.

MaisPB – Vamos falar da canção que dá nome ao disco, “Maxixe Samba Groove”, que tem uma batida diferente?

Hamilton de Holanda – Na verdade, todas são bem diferentes, mas cada uma tem sua cara. Eu fiz essa quando estava na casa de meu enteado, (que é tetraplégico). A gente mora bem pertinho dele, que tem três cachorrinhas. Eu tocava só aquele balanço, quando as cachorras começaram a balançar o rabo, foi muito engraçado. Ai eu fiz. Conversando com Marcos Portinari (produtor do disco) nós incluímos, então, a faixa que dá nome ao disco.

MaisPB – Falando em Marcos Portinari, o que diria dele na composição de sua arte?

Hamilton de Holanda – Na verdade, o Marcos é um cara com quem eu falo todos os dias, pelo menos duas, três vezes. Tudo que eu faço de alguma maneira eu converso com ele, ou ele dá uma sugestão ou confirma ou complementa a ideia que eu falei. Ele lembra de outra ideia e a gente se vê muito parecido um com o outro, pra gente não tem tempo ruim, além de tudo ele tem esse lado da poesia, da vida. De ver a vida com um lado poético, é um cara maravilhoso.

MaisPB – E a canção Bruzinho?

Hamilton de Holanda – É uma referência ao meu enteado e também foi na casa dele que fiz a música. É uma brincadeira com o blues, inspirada no blues. Bruzinho é dedicada a ele, que é inteligente pra caramba, fera da computação. Ele é um garoto maravilhoso, adora música, já foi meu aluno. Eu tocava bandolim com ele. Ele é quem mais me conhece, tudo meu.

MaisPB – Você toca no disco de Caetano Veloso, “Meu Coco”, né?

Hamilton de Holanda – O Caetano é genial, eu adoro, adoro ele cantando, me parece que o tempo vai passando e a voz dele vai ficando mais bonita. Eu já toquei com Gil, Chico, com Milton e Djavan. Ele, dessa geração, era com quem eu não tinha tocado. Para mim foi uma realização especial, ir a casa dele, gravar lá, depois jantamos, batemos papo, tocamos um pouco de violão, foi muito bom.

MaisPB – “Ritmo e União”, a terceira faixa, é lembra uma canção portuguesa?

Hamilton de Holanda – Engraçado, ela tem esse lado dos mouros, mas ao mesmo tempo eu penso mais num hip hop metal. Na segunda parte da canção dá para se perceber o instrumental. Essa canção é de 2020, a maioria eu fiz em 2020. Eu fazia uma por dia e mostrava nas lives.

MaisPB – Qual foi a produção, então?

Hamilton de Holanda – 366. Vou lançando aos poucos.

MaisPB – Como você dá nome às canções?

Hamilton de Holanda – Algumas já nascem com nomes, outras eu procuro homenagear alguém. Essa “Ritmo e União”, tem a ver com a realidade do Brasil.

MaisPB – Exatamente, um lamento pelo nosso país…

Hamilton de Holanda – É uma lamentação. O Brasil é tão grande, tão bonito, mas perdeu o rumo e eu fico pensando o que se pode fazer para as coisas voltarem. Claro que tudo é mais complexo, do que eu estou falando aqui A nossa esperança é a união que o povo brasileiro sempre teve. Eu quis fazer essa música pensando nisso, o título veio daí

MaisPB – Só a música nos salva, né Hamilton?

Hamilton de Holanda – Concordo plenamente.

MaisPB – A canção “Luz da Vida” foi feita para alguém?

Hamilton de Holanda – Eu me arrepio de falar nela, é do começo da pandemia. Eu tenho um sobrinho que mora em Brasília e adora música, que é músico também, ele tem 14 anos. Ele perguntou pra mim se eu sabia de um curso online e eu disse: Bento, eu posso te dar essas aulas. Meu filho também que tem a mesma idade dele e participou. Ficamos nós três, foi incrível. Uma das aulas era um exercício de composição, uma harmonia e os acordes: saiu essa música. Ou seja, eu só organizei, mas a melodia é deles.

MaisPB – Como é que você vê os filhos dos artistas seguindo a carreira dos pais?

Hamilton de Holanda – Muito feliz, mas eu te confesso que direciono o contato com a música, mais pela espiritualidade, pelo prazer, pela relação familiar do que pela profissão deles. Um dia eu falei isso com meu pai. Ele nunca pensou que eu fosse ser músico profissional, ele incentivava a gente em casa, pelo prazer de tocar uma música bonita, não porque fôssemos músicos. É dessa mesma maneira, com meu filho, que aliás, é um ótimo zagueiro, ele treina muito bem futebol.

MaisPB – Essa canção “Afro Choro”, lembra os afro-sambas de Baden e Vinicius…

Hamilton de Holanda – Sim. A minha canção preferida do disco é a primeira faixa, mas o Afro Choro eu gosto muito, porque tem uma coisa do coletivo, das pessoas se encontrarem, da galera dançar, dos músicos sincronizados. Esse afro no sentido de pequenos mantras melódicos, que vão se repetindo, que é uma coisa da música africana.

MaisPB – E tem a participação do músico Chris Potter, saxofonista americano?

Hamilton de Holanda – Sim, ele é espetacular, me deixou muito emocionado. Conheci em 2020, no Ground Up, Festival em Miami, antes de começar a pandemia. Ele tem 50 anos. É um bom músico e foi eleito agora o maior saxofonista tenor do jazz.

MaisPB – Vamos falar do bandolim que chegou às suas mãos, da madeira que sobrou do incêndio que acabou com o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2018. O bombeiro e luthier Davi Lopes construiu o bandolim de 10 cordas com madeiras de mais de 200 anos…

Hamilton Holanda – Eu vejo nele a representação do renascimento, ele traz a recuperação, uma coisa que o Brasil está precisando, uma analogia com a realidade. Eu nunca toquei ou algo com esse som, é um ótimo bandolim, é de um timbre único, uma madeira que sofreu tudo, calor, chuva, é de uma qualidade espetacular. O luthier tem uma história linda, ele é bombeiro, é nosso, brasileiro e faz parte da história do nosso país.

MaisPB – E a canção “Nome da Esperança”?

Hamilton Holanda – Você sabe muito bem que eu tenho uma influência fortíssima de Baden Powell. Essa é uma mistura de Baden, mas ao mesmo tempo focada naquela explosão que teve em Beirute, que matou muita gente. Eu participei de eventos para arrecadar fundos e foi nessa época que eu fiz essa música. Na verdade, tudo que eu faço tem esperança, sempre vai ter esperança, a vida sem esperança seria insuportável.

MaisPB – A capa do disco é uma esperança, né?

Hamilton Holanda – O inseto da capa do disco é também uma referência à esperança.

MaisPB – “Tá nascendo Flor do Asfalto”, Hamilton?

Hamilton de Holanda – Isso vem dos poetas brasileiros, Carlos Drummond de Andrade. Sempre está tendo dificuldade, mas sempre está nascendo uma flor no asfalto. É a esperança. Eu gosto muito dessa canção.

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