João Pessoa, 23 de setembro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Às vezes me pergunto se não seria mais fácil ser menos.
Menos chama, menos mar revolto, menos vendaval que arranca telhados da alma.
Mas nasci para ser excesso, e o excesso é o que me dá forma.
O mundo, esse deserto de gestos contidos, parece suportar-se na indiferença.
Aguentam porque não se deixam atravessar, porque caminham rasos, secos, mornos.
Eu não. Eu mergulho.
E ao mergulhar, descubro que a vida só é verdadeira quando nos afoga.
As coisas me devoram, é verdade.
Roem minhas entranhas, me rasgam em silêncio, me consomem como fogo em madeira antiga.
Mas o que me devora também me revela.
Eu sou feita de cicatrizes que brilham, de dores que cantam, de tempestades que florescem.
Ser menos intensa seria amputar meu próprio coração.
Ser menos intensa seria vestir uma roupa de ferro e sufocar em vida.
Não posso. Não quero.
Prefiro ser ferida viva a ser fantasma respirando.
Que o mundo me ache absurda.
Que me chamem de exagero, de desmedida, de vulcão em erupção.
Eu sou mesmo.
E é nesse absurdo que encontro minha poesia.
Não nasci para caber no raso.
Sou maré cheia, sou raio atravessando o céu, sou palavra que não se cala.
Quando me perguntam como aguento viver assim, eu sorrio:
não sou eu que aguento é a vida que me aguenta.
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NA ONU - 23/09/2025