Quando cruzei os umbrais da Academia Paraibana de Letras em fevereiro de 2023, como integrante de seu quadro de acadêmicos, proclamei que em momentos oportunos deveria fazer memória aos meus antecessores que sentaram na Cadeira que passei a ocupar, a partir do patrono Santos Estanislau, passando pelo primeiro ocupante Francisco Coutinho, depois Pedro Gondim e Otávio Sitônio Pinto, a quem substituí, deveriam ser lembrados por mim como forma de manter viva a memória dos quatro.
Passaram batidos os 80 anos de idade de Otávio Sitônio Pinto, que aconteceria no dia 6 de maio. Eu passei batido. Logo Sitônio que fazia parte de minha admiração. Dessas amizades construídas no prolongamento de gestos de amigos, no nosso caso começando em redações para chegar ao papo na calçada, nas livrarias, no terraço da casa.
Sertanejo de boa índole e de muitos rompentes, nele afloravam as feições do caboclo acostumado à brisa suave das tardes depois do sol abrasador do Sertão, por ele identificado e que mostrava em cada gesto a firmeza do homem de muitas facetas. Apegado à terra como as raízes das baraúnas, cantou em prosa e versos as belezas que poucos souberam identificar.
Como profeta dos tempos modernos, costumava dizer que a terra do sertão não precisava de uma aragem para do chão esturricado brotar a grama verdejante.
Terra de sol e de sonho, o Sertão foi a partitura da sinfonia que Sitônio compôs, lentamente, com as mais belas melodias. Por isso, tanto gostava de estar na terra onde foi germinado. Estudou a terra para conhecer e revelar seus mistérios.
Não penso no Sertão de Sitônio sem lembrar de Ariano Suassuna, de Manuelito Vilar, dos poetas Luiz Nunes e Hildeberto Barbosa Filho que dão realce às belezas da terra onde nasceram.
O livro denso Dom Sertão, Dona Seca desperta discussões acerca de diferentes questões que contribuem para melhor entender a região.
Entre Sitônio Pinto e eu nasceu uma amizade construída na sinceridade da poesia e da crônica, extrapolando a convivência e a confidência. Era um relacionamento de poucas exigências que não sufocava, cada um construindo as amizades no amigo que conhecia para a vivência da paz.
Sitônio Pinto carregou as dores e os sonhos do Sertão, modelou a dor do seu povo com a magia do mar e recompôs seu mundo com poesia, em prosa elegante que lastrou suas crônicas.
Na esteira da redação de A União dos anos de 1980, aquela redação da Rua João Amorim de momentos inesquecíveis, com Agnaldo Almeida arrebanhando os mais destacados cronistas, chegou Sitônio com seu texto epistolar. Um texto com feição publicitária. Ele dava asas à imaginação criadora para brotar frases que ganhavam as páginas de jornais e a mente de pessoas apaixonadas por esta cidade e pelos sertões.
Gonzaga Rodrigues definiu Sitônio portador de “uma escrita muito clara e ostensiva”. Com a crônica de estilo particularíssimo e muito forte, será lembrado pelo leitor do futuro pela sua linguagem.
“Aqui o Sol nasce primeiro”, tornou-se elocução emblemática, revelando as belezas naturais da Paraíba. Acredito que “Aqui o Sol nasceu primeiro” tenha sido uma obra de conjunto, a conversa na sala de criação em papo descontraído com outros igualmente renomados publicitários, lapidado por ele.
Ele costumava dizer como sendo de sua autoria o slogan “Lula lá”, que ganhou todos os recantos do país como um grito de liberdade. A expressão, “lá em nós” que usava para falar de sua Princesa Isabel, granjeou espaço nas redações.
Nós, acadêmicos, devemos ter a consciência de lembrar daqueles que nos precederam na cadeira que ocupamos. A imortalidade consiste nisso, ou, mais ainda, em defender o uso da palavra e o louvor da língua.
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