João Pessoa, 12 de julho de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Palavras são feitas de silencio
Dizem que palavras são feitas de letras, mas quem já viveu o suficiente sabe: elas são feitas de muito mais.
Palavra boa tem raiz no peito, cheiro de café recém-passado e gosto de saudade.
Tem palavra que vem mansa, feito água de rio. Outras chegam rasgando, como faca afiada na alma da gente.
Por isso, quando ouvi alguém dizer “rasgue o verbo, rasgue o verso e mostre do que são feitas as palavras”, me deu foi um tremor na espinha.
Porque rasgar o verbo é coragem. É desfazer a armadura, mostrar o que vibra por dentro, o que sangra calado.
É dizer sem maquiagem o que mora entre o que sentimos e o que ousamos pronunciar.
Palavras são feitas de noites mal dormidas, de sonhos engolidos a seco, de abraços que não se deram e cartas que ficaram na gaveta.
Elas guardam segredos que ninguém tem coragem de contar.
Carregam o peso do não dito, a ternura do que foi dito tarde demais. E tarde demais, já sabe…
Tem palavra que cura.
Tem palavra que condena.
Tem palavra que a gente queria desdizer, mas já virou mundo no ouvido do tempo.
E tem aquelas que, mesmo caladas, gritam.
É por isso que escrever é rasgo.
Escrever é puxar do fundo da alma o que estava escondido debaixo dos silêncios.
É desfiar o tempo com as mãos e bordar sentido no que parecia perdido.
Rasgue o verbo, sim. Rasgue o verso.
Não se esconda atrás de palavras bonitas se a alma estiver em ruínas.
Não adoce demais o que precisa ser dito com o amargor da verdade.
Porque quem rasga o verbo, costura o mundo.
No fim das contas, as palavras são feitas da gente.
Da nossa coragem de falar, da nossa covardia de calar.
Da infância que mora na voz e das cicatrizes que ecoam nos silêncios.
Rasgue. Diga. Escreva.
E se faltar palavra, invente.
Porque a vida também é feita disso:
de rasgos que viram verso —
e de versos que, um dia, salvaram alguém.
Alô, quem está aí?
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OPINIÃO - 10/07/2025