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Marcos Pires é advogado, contador de causos e criador do Bloco Baratona. E-mail: [email protected]

Novos hábitos

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publicado em 11/07/2025 ás 20h52
atualizado em 11/07/2025 ás 20h53

Ao completar 70 anos decidi tentar algo novo na minha pacata vida, algo que nunca tivesse feito antes, porém sem me afastar do nadismo, que pratico com afinco. As opções que se apresentaram foram: aprender a fumar, aprender a jogar baralho ou…começar a gostar de futebol. Fiquei com a última.

Desde novo acumulei muitas razões para não gostar de futebol. Minha primeira lembrança do esporte bretão é uma cena passada na casa de um vizinho onde os mais velhos reuniam-se ao redor de um enorme radio fanhoso e gago que transmitia jogos da copa do mundo. Além de não entender nada do que era transmitido, quando fui pegar um palito no qual estavam espetados um pedaço de salsicha, um cubo de queijo e uma azeitona, levei uma bronca: “- O tira gosto é só pra quem está bebendo”. Saí dali com muita raiva do futebol. Tempos depois os amigos me levaram para um campinho de barro e me colocaram num dos times. Não posso dizer que a estreia foi brilhante, porém como meus pais possuíam uma loja, eu seria aceito no time desde que levasse a bola e as camisetas, o que consegui. Só não contava com a segunda humilhação. No primeiro jogo “sério” contra um time de Mandacaru, nem no banco de reservas me deixaram sentar. Porém eu tinha uma arma secreta; meu primo Juca, de longe o melhor jogador daquela geração. Ocorre que Juca morava em Jaguaribe e só podia entrar no time se meus pais mandassem o nosso motorista ir busca-lo em dias de jogos importantes. Foi uma troca justa; enquanto Juca fazia gols eu balançava as pernas sentado no banco dos reservas, preço adequado pelo reforço do nosso time. E ali encerrei minha promissora carreira.

Passado tanto tempo “voltei aos gramados”. Pela minha idade não daria mais para ser jogador, sobrando a opção de ser técnico. Procurei saber quem seria o cara para me ensinar as inovações que eu pudesse implantar no time que pretendia dirigir. Na padaria Bonfim indicaram o Doido por futebol, foi o que eu entendi. Contratei o cara com pagamento antecipado e basicamente ele me deu duas dicas. A primeira era defensiva; obrigar os jogadores a não tomarem banho nem escovarem os dentes desde 3 dias antes dos jogos. “- Num instantinho acabava aquele agarra/agarra nas disputas de bola, doutor”. A segunda estratégia seria ofensiva; “-Uma alimentação à base de repolho, cebola, ovos cozidos e batata doce, para municiar os lançadores de gases individuais dos jogadores, se é que o senhor me entende”.

Só então percebi que eu havia entendido errado; não era o Doido por futebol, era o Doido DO futebol que eu havia contratado.

Melhor aprender a jogar baralho. Vocês podem me indicar um bom professor?

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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