João Pessoa, 08 de junho de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Precisei chamar um Uber daqueles que garantia ar refrigerado, pois a corrida era muito longa de volta para casa e fazia muito calor no dia. Consegui rapidamente, entrei feliz da vida e passados quatro minutos algo vibra na região dos meus glúteos. Encontrei um celular no banco de trás do Uber e pensei em várias possibilidades.
Eu tinha 15 minutos para resolver o que iria fazer com o objeto.
A primeira ideia era o seguinte: ir até a delegacia do lado do meu trabalho e entregar à Polícia para os devidos trâmites.
A outra: entregar pro motorista do Uber.
Mas me vi pensando no proprietário do celular, acho que ele ficaria feliz se eu entregasse rapidamente o objeto para minimizar o ocorrido.
Eis que chega uma Notificação:
“Moço, Entrega da farmácia, atrasada.”
Já comecei a suar frio, pensando nos danos causados ao dono do celular.
Curioso, cauteloso, mas pragmático, tentei abri-lo, para responder a notificação, mas sem êxito, logicamente o aparelho pediu senha.
Olho para o ícone da bateria, está em 5%, já entrei em pânico.
O que seria uma viagem calma estava se transformando no inimigo mortal do Rivotril.
Imaginei que o “moço” era entregador, pensei em sua família sem notícias, orei agradecendo a Deus pelo zelo de sua conta bancária, pois comigo pelo menos estaria seguro, mas me revoltei pensando que alguém poderia usar o cartão de crédito por aproximação se houvesse encontrado o telefone antes de mim, pensei nas fotos, no seu material permitido, no material proibido, daí comecei a imaginar milhares de pensamentos sórdidos e haja suor na minha testa.
A ansiedade se manifestando em grau máximo e ainda estava na metade da corrida, portanto foram os 8 minutos mais demorados da minha existência.
Eu comecei a meditar, uma meditação boba de fechar os olhos e contar até 100 e depois voltar do 100 ao zero. Fiz e repeti. Nada adiantou, aliás piorou, pois me veio na mente se a pessoa estava na onda do “bebê reborn” e poderia ter pedido algo da farmácia para o tal boneco – tudo agora era possível.
Chegando mais perto do destino sou surpreendido pela voz grossa e empostada do condutor perguntando sobre o celular de capa amarela que estava no banco traseiro.
Eu já me manifestei perguntando se ele conhecia o dono, porque eu estava desesperado.
Ele deu uma risada e falou que era dele.
Eu já com cara de tacho…
Ele falou que havia deixado o celular reserva dele nesse banco porque tinha muitas compras da senhora anterior e ele não pegaria mais corrida pois necessitava ir à farmácia da Rua Dartagnan Moura pegar uma encomenda e levá-la até o destino perto da sua casa e parar de rodar naquele dia exaustivo, só que eu havia pedido corrida para o mesmo endereço e ele resolveu me aceitar.
Nossa, meu sangue voltou na mesma hora, uma sensação de alívio na alma desmanchou os nós dos meus neurônios e meu coração voltou a bater em ritmo normal, a corrida acabou, entreguei o celular ao seu proprietário e fui direto para casa louco para deitar e dormir para esquecer desses 16 minutos de tensão. Que dia!
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