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É formado em Direito pela UFPB e exerce funções dedicadas à Cultura desde o ano de 1999. Trabalhou com teatro e produção nas diversas áreas da Cultura, tendo realizado trabalhos importantes com nomes bastante conhecidos, tais como, Dercy Golcalves, Maria Bethania, Bibi Ferreira, Gal Costa, Elisa Lucinda, Nelson Sargento, Beth Carvalho, Beth Goulart, Alcione, Maria Gadu, Marina Lima, Angela Maria, Michel Bercovitch, Domingos de Oliveira e Dzi Croquettes. Dedica-se ao projeto “100 Crônicas” tendo publicado 100 Crônicas de Pandemia, em 2020, e lancará em breve seu mais recente título: 100 Crônicas da Segunda Onda.

Do nada no Uber

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publicado em 08/06/2025 ás 07h00
atualizado em 07/06/2025 ás 21h38

Precisei chamar um Uber daqueles que garantia ar refrigerado, pois a corrida era muito longa de volta para casa e fazia muito calor no dia. Consegui rapidamente, entrei feliz da vida e passados quatro minutos algo vibra na região dos meus glúteos. Encontrei um celular no banco de trás do Uber e pensei em várias possibilidades.

Eu tinha 15 minutos para resolver o que iria fazer com o objeto.

A primeira ideia era o seguinte: ir até a delegacia do lado do meu trabalho e entregar à Polícia para os devidos trâmites.

A outra: entregar pro motorista do Uber.

 Mas me vi pensando no proprietário do celular, acho que ele ficaria feliz se eu entregasse rapidamente o objeto para minimizar o ocorrido.

Eis que chega uma Notificação:

“Moço, Entrega da farmácia, atrasada.”

Já comecei a suar frio, pensando nos danos causados ao dono do celular.

Curioso, cauteloso, mas pragmático, tentei abri-lo, para responder a notificação, mas sem êxito, logicamente o aparelho pediu senha.

Olho para o ícone da bateria, está em 5%, já entrei em pânico.

O que seria uma viagem calma estava se transformando no inimigo mortal do Rivotril.

Imaginei que o “moço” era entregador, pensei em sua família sem notícias, orei agradecendo a Deus pelo zelo de sua conta bancária, pois comigo pelo menos estaria seguro, mas me revoltei pensando que alguém poderia usar o cartão de crédito por aproximação se houvesse encontrado o telefone antes de mim, pensei nas fotos, no seu material permitido, no material proibido, daí comecei a imaginar milhares de pensamentos sórdidos e haja suor na minha testa.

A ansiedade se manifestando em grau máximo e ainda estava na metade da corrida, portanto foram os 8 minutos mais demorados da minha existência.

Eu comecei a meditar, uma meditação boba de fechar os olhos e contar até 100 e depois voltar do 100 ao zero. Fiz e repeti. Nada adiantou, aliás piorou, pois me veio na mente se a pessoa estava na onda do “bebê reborn” e poderia ter pedido algo da farmácia para o tal boneco – tudo agora era possível.

Chegando mais perto do destino sou surpreendido pela voz grossa e empostada do condutor perguntando sobre o celular de capa amarela que estava no banco traseiro.

Eu já me manifestei perguntando se ele conhecia o dono, porque eu estava desesperado.

Ele deu uma risada e falou que era dele.

Eu já com cara de tacho…

Ele falou que havia deixado o celular reserva dele nesse banco porque tinha muitas compras da senhora anterior e ele não pegaria mais corrida pois necessitava ir à farmácia da Rua Dartagnan Moura pegar uma encomenda e levá-la até o destino perto da sua casa e parar de rodar naquele dia exaustivo, só que eu havia pedido corrida para o mesmo endereço e ele resolveu me aceitar.

Nossa, meu sangue voltou na mesma hora, uma sensação de alívio na alma desmanchou os nós dos meus neurônios e meu coração voltou a bater em ritmo normal, a corrida acabou, entreguei o celular ao seu proprietário e fui direto para casa louco para deitar e dormir para esquecer desses 16 minutos de tensão. Que dia!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB