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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Este é meu parecer

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publicado em 31/05/2025 ás 07h30
atualizado em 31/05/2025 ás 12h09

Um pequeno coreto no espelho d´água no lago do Instituto Ricardo Brennand, em Recife,  me fez pensar no eterno Narciso, cuja história chega aos ouvidos de uns ou nenhuns, incentivando o prazer da construção da beleza. Não existiria Narciso sem a mulher.

Chovendo no  Recife, as luzes acesas, um  congestionamento sem fim, vi um cara pisando na lama de sapato branco, igual o da canção de Chico Buarque, “Sambando na lama de sapato branco, glorioso, um grande artista tem que dar o tom, quase rodando, caindo de boca, a voz é rouca mas o mote é bom, sambando na lama e causando frisson”. Nenhuma valentia.

Logo percebi um balsamo benigno, jamais à semelhança de Shakespeare, sequer Molière ou Brecht, que encenavam o que escreviam. Eu tenho muito zelo pelos meus personagens. E tenho à disposição os mecanismos para administrar as cenas. Sou um mulato democrático, não fiquei confuso nem miúdo, mas olhei meu rosto no espelho d´água e não vi Narciso

Desde que fiz o papel de Lacan na peça “A Arte de Manter os Cabelos em Pé”, (com a jornalista e atriz Selma Tuareg), criei entusiasmo para ser ator, o ator que mora em mim de cenas reais para o desenvolvimento de um vocabulário imagético, habitual a minha escrita, embalada pelas milhares de canções. Cantei baixinho: “espere por mim, morena, espere que eu chego já”

Desviando-se do ato mais flagrante das humanidades, de pendor mais romantizado ou mais ensaístico, não adianta ancorar a ficção, digo fricção naquele ou em qualquer campo que nos habituámos minado, a chamar o Narciso de seu, mesmo que seja eu.

Já não é tão belo o Recife pegando fogo na pisada no maracatu, mesmo que chova ou faça sol.

Ou seja, o que ressalta do conhecimento (e passível de ser espelhado) dos códigos e “cifras” da fome de muitos que estão sem trabalhar, que perderam o ânimo, o rango, o último tango e não são Narcisos a bailar “contigo e migo”. É o tempo.

O tempo da evolução de Darwin, as lentes de Galilei,  a velha relatividade de Einstein ou as inúmeras ilações a partir de conceitos como o acaso, ficaram na cabeça de quem leu e não aprendeu, porque quem sabe menos das coisas, sabe muito mais que eu.

Já era noite. Voltei do Recife, foi a saudade que me trouxe pelo braço. Ué, pensar que um pequeno coreto trouxesse tanto prazer em vê-lo. Ah! Isso é o Narciso.

Kapetadas

1 – Prefiro os defeitos de uma pessoa do bem do que as qualidades de uma pessoa do mal. E priu.

2 – O pau que tem é nariz escorrendo e  garganta arranhando,  um espetáculo único de tosse que não acaba mais.

3 – Obrigado pela viagem Nalva Coutinho, presidente da Aemp. O cajado da cultura é nosso.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB