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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

A vida é oca como a touca

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publicado em 13/05/2025 ás 07h00
atualizado em 12/05/2025 ás 18h52

Cismei que eu era estranho e procurei o médico, assim mesmo, como estou diante dele, sem ter a mínima possibilidade de descrever uma linha da sua estranheza, que raramente me deixaria tonto ou estranho. Estranhos são os outros.

Uma moça bonita de olhar agateado, me mandou uma mensagem dizendo que eu era ou sou, uma pessoa estranha. Estranho, né? Não era, nem Souza. ( a cidade dela, JG)

Como é  que uma pessoa diz isso, se ela me conhece  do tempo do ventrículo, sabe que eu não sou estranho, mas se estranhou comigo. Será que eu sou feio? Seria eu um  estranho no ninho? Ai sim, seria o fim dos tempos dos donos do mundo.

A pessoa que me chamou de estranho, e eu a ela é de veneta, sem acesso súbito de loucura, talvez impulso repentino; no capricho, mas disse-me-disse, que ela não é estranha. E seria o quê?

As primeiras frases são compostas na cabeça e copiadas de memória. Mas não funciona assim.

A verdadeira ansiedade de uma pessoa estranha surge quando dá uma veneta e de repente risca o chão de giz e não resta nada. Estranho, né?

O padre disse na missa que não quer ninguém mascando chiclete e colocando a bolinha nos bancos. E ainda olhou pra mim e disse: “Né, Kubitschek?”

Os dedos então dançam num rabisco erótico, nervoso, de um vovô nervoso, como alguém improvisando uma massagem cardíaca. Ah, acho que já morri. Estranho, né?

O trovão do desaparecimento final dessa pessoa no céu enegrecido e essa indigesta coisa no meu umbigo. Céus!

Um cartucho, um tinteiro, um puteiro. Estranho, eu?

Liguei pra Cagepa para saber em que ano foi construída a Caixa D´água e a moça do outro lado do Orelhão, disse que eu “liguesse daqui um pedaço”,  que o seu chefe vai chega às 9h e me diz”. Um pedaço, foi demais e ainda diz que o estranho sou eu.

Na metade da laranja de Fábio Jr.  volto ao meu humor caprichoso e enigmático, que às vezes dá corpo aos sonhos e outras vezes, lhes navego na pena capital

Na moral, Seu Vinícius

No entanto, serei atento antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto que mesmo em face do maior desencanto dela se encante mais meu estranhamento.

Moça, me espere depois de amanhã

Estranho, eu? Non ducor, duco.

Kapetadas

1 – Em festa de papa, ateu não pia.

2 – Nem todo obtuso é abstruso, muitos são simplesmente estúpidos.

3 – Ilustração – Lovers in Pink, Marc Chagall 1916 Private Collection (detalhe)

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB