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Kubitschek Pinheiro – MaisPB
Fotos – Stela Handa
A ideia é maior que o disco, a homanegem vai além. Arrigo Barnabé é foda. Show e áudio “Arrigo Canta Itamar” está sendo lançado nas plataformas digitais, com selo da gravadora Atração de São Paulo. O projeto começou quando Arrigo Barnabé participou como convidado de um show da banda Isca de Polícia, no Sesc de São Paulo, em janeiro de 2022.
Gravado ao vivo, com cenas de cinema, Arrigo numa capa preta, metrralhando as palavras numa maquina de escrever, é a atração que não some. soma. O registro é de dezembro de 2023, no Teatro Centro da Terra, em São Paulo.
A Primeira levada chega com “Quando eu me chamar saudade”, de Nelson Cavaquinho e segundo Arrigo, é cara do Itamar “É a história do artista que não é reconhecido em vida, só quando eu me chamar saudade. Adoro cantar essa música”, disse
A outra canção é “Fico louco” – genial a interpretação do Arrigo com o Isca de Polícia. “Nós morávamos juntos no Bexiga quando o Itamar compôs. Eu adorava cantar gritando como um louco. A coisa do ”Fico Louco” é bem anos 1970. Ele mudou a letra várias vezes, mas era aquela coisa Hélio Oiticica, seja marginal seja herói”
O terceiro single – “Tristes trópicos”, segundo Arrigo, Itamar fez sobre um poema do Ricardo Guará, no final dos anos 1980. O Guará também morava com a gente no Bexiga. Bom, o Guará fez um trava-língua e tanto com “Tristes trópicos”.
E tem mais, muito mais – introdução + três músicas no dia 07/06, quatro músicas no dia 05/07 e o álbum completo no dia 09/08.
Arrigo é um danado, com sua voz assombrosa, inovador até dizer chega… o resto ele conta na entrevista ao MaisPB.
MaisPB – Vamos começar pelo “beleléu” – Aqui no Nordeste ainda se diz muito: fulano foi para o bebeléu -, que pode ser o mausoléu e chegar pertinho do Cheleleu, que é uma música de Luiz Jacinto Silva – isso já é um motivo pra gente gostar do “Arrigo Visita Itamar” né?
Arrigo Barnabé – Beleléu acho que vem do idioma banto. O outro mundo, o lado de lá. Não sabia da música Cheleleu, vou pesquisar. Aqui às vezes se emprega cafundó como sinônimo de Beleléu.
MaisPB – Como aconteceu essa junção Arrigo e Banda Trisca – bom demais, viu?
Arrigo Barnabé -Bom, o Paulo Lepetit sempre me chamava para participar dos shows da banda Isca de Polícia. Quando terminou a pandemia e voltamos a fazer shows, ele me convidou novamente para participar de um show no Sesc da Rua Barão de Itapetininga. Eu fazia 2 ou 3 músicas com eles, e no camarim disse que tinha vontade de fazer um show inteiro com um trio de base. Ele se entusiasmou e começou a trabalhar nessa ideia. Daí pra frente fizemos muitos ensaios e conversamos muito sobre o repertorio, arranjos, etc… e o Wilson Souto quando assistiu se entusiasmou e resolveu gravar.
MaisPB – Começamos com introdução + três músicas que foram lançadas na última e sexta-feira (9) depois virão quatro músicas no dia 05/07 e o álbum completo no dia 09/08, adianta só mais uma, Arrigo?
Arrigo Barnabé – Bom, esse planejamento é todo com a gravadora, a escolha é deles, mas logo logo todas as canções estarão acessíveis.
MaisPB – Legal abrir o show com “Quando eu me chamar saudade”, que é a cara de Itamar, mesmo sendo de Nelson Cavaquinho, o mestre de “Rugas” e você canta que é uma beleza e ai entra aquela voz assombrosa – que lembra de Clara, a eterna crocodilo etc?
Arrigo Barnabé – Pois é, eu queria incluir músicas que fossem ligadas ao Itamar de alguma maneira, é essa do N. Cavaquinho é a cara dele né? Adoro cantar essa música!
MaisPB – “Fico Louco” é cara de todo mundo, espero que ninguém esqueça, né? Parece que Itamar na curva do caminho de Hebron – solos de guitarras nessa versão, e sua performance. Bora falar dessa canção?
Arrigo Barnabé – Fico louco, eu conheci logo que ele fez, nós morávamos juntos no Bexiga, na rua Conselheiro Carrão, junto com o Rubão e o Guará (o autor da letra de Tristes Trópicos e padrinho da Serena, a filha mais velha do Itamar). Ele mudou a letra muitas vezes, no começo ele não falava do “reggae desse rock comigo”, era outra coisa. Eu me identificava muito com essa música, gostava de ficar cantando com ele, sempre tive vontade de gravar essa música. A primeira música do Itamar que eu gravei foi “Já deu pra sentir” no LP Suspeito de 1988. Depois gravei “Mal menor” no CD Façanhas em 1991. Mas sempre pensei no “Fico louco”.
MaisPB – A Banda Isca de Polícia que também é Trisca, teve e tem a melhor performance nesse novo disco-show, escambau, né?
Arrigo Barnabé – Bom o Trisca é um trio de base onde todos tocaram em algum momento na Isca de Polícia. Sendo que o Paulinho Lepetit foi o colaborador mais assíduo do Itamar, trabalhou com ele durante praticamente toda sua carreira. Fez shows em duo com o Itamar, fez arranjos, participou intensamente em todos os aspectos, inclusive também como produtor de discos. O Jean (guitarra)participou em diversas formações, e o Marquinhos(bateria) também.
MaisPB – “Tristes trópicos” é demais, seguida do toque do peotinha Vinícius de Moraes e logo você desconsidera a “firma reconhecida” e já está a conversar com o Itamar lá do lado de lado, legal isso, né Arrigo Barnabé?
Arrigo Barnabé – Então, “Tristes Trópicos” com letra do Guará (Ricardo Rego) nosso amigo da república no Bexiga, um baita trava-língua. Deu trabalho pra gravar. E a citação do Vinícius, na realidade eu comecei a fazer durante um show onde interpreto Roberto e Erasmo Carlos. Na música “Detalhes” eu coloco uma citação da música tema do filme “Um homem e uma mulher” de Claude Lelouch, dos anos 60. E na trilha desse filme está o “Samba da benção” do Vinícius e Baden Powel, cantada pelo Pierre Barouh. Então eu comecei a improvisar sobre isso durante o show, desses improvisos acabou surgindo a ideia de escrever a carta pro Itamar falando sobre “a certidão passada em cartório do céu”… mas o Itamar tinha certeza que nós nos conhecíamos de vidas anteriores, e que iríamos nos encontrar novamente em outra.
MaisPB – Seria muito bom que nos encontrássemos noutros planetas, noutros sons…
Arrigo Barnabé – Mas ele tinha MUITA certeza disso, me impressionava. Outra coisa, a respeito ainda, em 1986/87 eu pensei em gravar um LP como intérprete. Tinha escolhido gravar “Chove chuva” do Jorge Bem, Lábios que beijei do J. Cascata/L.Azevedo e “Quero que vá tudo pro inferno” do Roberto e Erasmo. E pedi pro Itamar fazer ao arranjo. E ele começou a fazer uma coisa linda. Mas daí apareceu o filme “Cidade Oculta” e as coisas foram pra outro lado…
MaisPB – O que será que o Arrigo Barnabé foi fazer lá no Pão de Açúcar, do Caetano Veloso?
Arrigo Barnabé – Pois é, isso foi o Vinícius Cantuária que gritou no disco do Caetano, Cores e Nomes, acho que em 1983… ele imitava muito bem minha voz, foi uma homenagem preciosa.
Quem é Arrigo
Arrigo é o Barnabé – compositor, cantor, ator e pianista brasileiro. Estudou composição na Universidade de São Paulo (USP). Arrigo surgiu na cena musical brasileira, em 1979, no festival universitário da TV Cultura, com a música “Diversões Eletrônicas”. No mesmo ano, apresentou “Sabor de Veneno” no Festival da TV Tupi de São Paulo. Em 1980, lançou o LP “Clara Crocodilo”, considerado marco inicial da Vanguarda Paulista. Com arranjos dissonantes, logo se destaca no movimento musical que se desenvolve pela capital paulista, tendo como centro de difusão, o Teatro Lira Paulistana, idealizado por Wilson Souto. Em 1984, com o lançamento do LP “Tubarões Voadores”, Arrigo se estabelece como ícone da Vanguarda Paulista. Colabora com cineastas como Rogério Sganzerla (como ator) e Chico Botelho (como ator e compositor da trilha sonora). Compõe óperas e missas com música para percussão e piano. Como intérprete fez shows cantando Lupicínio Rodrigues (“Caixa de Ódio”) e Roberto/Erasmo Carlos (“Que vá tudo pro inferno”), entre outros. Em 2019, Arrigo lançou seu primeiro livro “No Fim da Infância”, publicado pela Grafatório Edições. A obra, autobiográfica, reúne memórias escritas por Arrigo Barnabé para diversos veículos. Em 2021, foi tema do filme”Amigo Arrigo”, dirigido por Alain Fresnot e Junior Carone. Apresenta, desde 2004, o programa Supertônica na rádio Cultura FM.
Banda Trisca
A Banda Isca de Polícia foi criada, em 1979, por Itamar Assumpção para acompanhá-lo em discos e shows. Juntos gravaram vários álbuns, além de participações em trabalhos de outros artistas, como Ney Matogrosso. Participaram de importantes projetos musicais, tanto no Brasil quanto no exterior, tendo excursionado por países como Alemanha, Suíça, Áustria, Holanda, entre outros. Em 2022, a “cozinha da banda”, baixo, bateria e guitarra, foi convidada por Arrigo Barnabé para desenvolver um novo show baseado na obra de Itamar Assumpção. Daí surgiu o nome Trisca com Paulo Lepetit no baixo e direção musical, Marco da Costa na bateria e Jean Trad na guitarra.
HORA H NA TV MANAÍRA - 10/12/2024