João Pessoa, 08 de março de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O presente artigo descreve um quadro preocupante de elevada inadimplência no Brasil, com um número alto de pessoas físicas enfrentando dificuldades para cumprir com suas obrigações financeiras.
Recentemente, a empresa SERASA divulgou o Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas no Brasil: Janeiro-2024. Infelizmente, a inadimplência é elevada no país, são 72,0 milhões de pessoas inadimplentes em janeiro de 2024.
A alta inadimplência no Brasil é uma questão significativa e multifacetada que afeta tanto os consumidores quanto as empresas. O número de inadimplentes cresce a cada ano, 65,7 milhões de pessoas inadimplentes em fevereiro de 2022 avançando para 72,0 milhões em janeiro de 2024, ou seja, um aumento absoluto de 6,3 milhões de inadimplentes e um crescimento relativo de 11,11%.
A inadimplência refere-se à incapacidade de um devedor cumprir com suas obrigações de pagamento conforme acordado com um credor. Atualmente, são R$ 271,3 milhões de dívidas, de contas vencidas para pagar no Brasil.
De acordo com a SERASA, o valor médio da dívida por pessoa no país é de R$ 5.311,96, ou seja, cerca de 3,76 salários mínimos, cujo salário mínimo vigente é de R$ 1.412,00 desde 1 de janeiro de 2024.
No contexto brasileiro, há vários fatores que contribuem para a alta taxa de inadimplência nas cinco regiões do país (43,91%), incluindo a falta de educação financeira, o desemprego, o acesso fácil ao crédito, o endividamento elevado, a desigualdade econômica, e os custos financeiros elevados.
Todos esses seis fatores desempenham um papel crucial nesta questão tão relevante, onde as mulheres são a maioria dos inadimplentes no Brasil, com 50,4% do total, com sérias dificuldades de gerenciar as suas receitas e despesas mensais.
Falta de Educação Financeira: A falta de educação financeira pode levar as pessoas a tomar decisões financeiras inadequadas, resultando em endividamento excessivo e alta inadimplência.
Desemprego: O trabalhador ao perder seu emprego fica sem renda, as dívidas se acumulam, afeta a capacidade de pagar suas contas mensais em dia, reduz a renda disponível e dificulta o cumprimento das obrigações financeiras.
Acesso Fácil ao Crédito: O acesso fácil ao crédito pode levar algumas pessoas a assumir dívidas que não podem pagar posteriormente, especialmente quando não há uma avaliação rigorosa da capacidade de pagamento do devedor.
Endividamento Elevado: Muitos brasileiros têm altos níveis de endividamento, sejam dívidas por segmento de cartão de crédito e bancos (29,37%), de contas básicas de água, luz e gás (23,09%), de financeiras (16,76%) e de varejo (10,95%).
Desigualdade Econômica: A desigualdade econômica desempenha um papel importante na inadimplência, com grupos de baixa renda enfrentando maior vulnerabilidade financeira e comprando bens supérfluos.
Custos Financeiros Elevados: Taxas de juros altas e tarifas altas nos empréstimos e financiamentos no Brasil tornam difícil para os devedores honrar seus compromissos, sobretudo, a faixa etária com maior número de inadimplentes, de 41 a 60 anos de idade, sendo 35,0% dos 72,0 milhões de pessoas inadimplentes. E os juros elevados aumentam o valor da dívida e dificultam o pagamento de dívidas atrasadas.
Esses seis fatores combinados contribuem para a elevada taxa de inadimplência no estado de Rio de Janeiro (53,46%), Mato Grosso (52,60%), Distrito Federal (52,41%), Amapá (52,12%) e Amazonas (52,0%). E os cinco estados brasileiros com menores taxas de inadimplência são Piauí (37,01%), Santa Catarina (38,93%), Maranhão (39,05%), Paraíba (39,11%) e Espírito Santo (39,28%), conforme a SERASA.
São necessárias políticas públicas contra a elevada inadimplência e o Governo Federal tem uma parcela de responsabilidade também a não baixar significativamente a taxa SELIC (11,25% a.a.) e a não controlar seus gastos governamentais, além de não evitar o desperdício de recursos públicos com excessivas e caras viagens internacionais, aumentando as incertezas econômicas e diminuindo o índice de confiança empresarial (ICE) e o índice de confiança do consumidor (ICC).
São necessárias também medidas que abordem as causas da elevada inadimplência no país, incluindo principalmente a falta de educação financeira no país. E a falta de educação financeira é uma das principais razões para o aumento da inadimplência no continental, emergente e populoso Brasil, pois pode levar as pessoas a tomar decisões financeiras inadequadas e se endividar excessivamente. Isso é especialmente preocupante quando combinado com o acesso fácil ao crédito, que pode levar os consumidores a assumir dívidas além de sua capacidade de pagamento.
É fundamental investir em programas de educação financeira desde criança até idosos, que poderão ajudar a melhorar a capacidade das pessoas de gerenciar suas finanças pessoais de forma responsável, evitar o endividamento excessivo, e, sobretudo, não gastar mais do que recebe, na busca do equilíbrio financeiro.
É alarmante notar que a alta inadimplência não está restrita a uma região específica do Brasil, mas afeta diversas regiões do país, incluindo Sudeste (Rio de Janeiro), Centro-Oeste (Mato Grosso e Distrito Federal) e Norte (Amapá e Amazonas). Essa distribuição geográfica ressalta a necessidade de abordagens abrangentes e coordenadas para lidar com problema em nível nacional.
Para enfrentar essa realidade preocupante, é importante implementar estratégias que promovam o acesso a crédito responsável, garantindo que os consumidores possam tomar as melhores decisões financeiras e evitar o ciclo de endividamento excessivo.
Finalizando, o Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas no Brasil: Janeiro-2024, da SERASA, oferece insights valiosos sobre a relação da população brasileira com suas dívidas. E a inadimplência tem rosto no Brasil: de mulher, com 41 a 60 anos, e moradora da região Sudeste, em especial, do estado do Rio de Janeiro. Logo, a elevada inadimplência nas cinco regiões brasileiras requer um esforço dos governos, das empresas e das famílias, a fim de promover uma cultura financeira mais saudável, evitar o consumismo e mitigar os impactos negativos da inadimplência sobre a economia do Brasil, a nona maior economia do mundo e a maior da América Latina.
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