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Titular em Letras Clássicas, professor de Língua Latina, Literatura Latina e Literatura Grega da UFPB. Escritor, é membro da Academia Paraibana de Letras. E-mail: [email protected]

E se insinua a Primavera…

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publicado em 20/02/2024 às 17h40

Tendo deixado a constelação de Capricórnio, desde o dia 16 de fevereiro que o Sol se encontra em Aquário. Digo isto na perspectiva da Astronomia e não da Astrologia, perdoem-me, portanto, os astrólogos de plantão. O Sol parece estar com pressa, na sua viagem de retorno ao hemisfério norte, em busca do Trópico de Câncer. Vem, como costumo dizer, de marcha batida e passo estugado.

Aqui em Coimbra, já sentimos os efeitos dessa andança meio apressada. Estamos a, exatamente, um mês da primavera, que retornará sob os auspícios de Peixes, no seu equinócio, no dia 20 de março. Para todos os efeitos, contudo, o inverno já está se despedindo, sem ter sido rude ou áspero. Alguns dias de frio, sem que tenha alcançado alguma temperatura abaixo ou igual a zero; muitos dias de uma chuvinha fina e renitente, alguns dias de Sol frio e distante. De uma semana para cá, tudo mudou. O Sol fez-se quente, a temperatura se elevou e mantém a curva de alta, com os termômetros podendo chegar aos 230.

Não é só a temperatura, no entanto, que mostra como o inverno se encaminha a passos largos para o seu final. Os dias estão claramente mais longos, os pássaros já despertaram e enchem os ares com os seus chilreados e gorjeios, nos cânticos amorosos chamando para o acasalamento; as abelhas fazem os seus volteios em torno das pequeninas flores amarelas do relvado; pela janela do gabinete de estudo, por onde passa um sol claro e reconfortante, entra um besouro preto, com seu voo pesado, parecendo monomotor rateando, ainda meio perdido, na sua busca de também fazer o seu trabalho de polinização; as lagartixas estendem os pescoços e levantam a cabeça para os céus, talvez procurando entender o que está se passando. Com esse gesto, os pequenos sáurios contrariam o poeta Ovídio, que diz ser o homem o único animal a olhar para o alto. É compreensível a atitude da arisca lagartixa que, ao me ver, busca rapidamente se safar: com o despertar dos insetos, a Natureza serviu a mesa, bem antes do horário combinado.

Algumas árvores ainda estão escondendo a sua seiva sob a capa de seus troncos e dos seus galhos, que parecem estorricados. As laranjeiras, no entanto, estão florando; os caquizeiros, chamados poeticamente de Frumento de Zeus (dióspiros, διόσπυρος), já apresentam alguns brotos e alguma folhas já abertas, surgindo dos galhos secos, indicando uma floração próxima. Ainda que timidamente, alguns brotos dão o ar de sua graça, nos plátanos.

Não sei se isto é bom ou ruim. Meus parcos conhecimentos de Astronomia e Climatologia não chegam a tanto, para um julgamento crítico. Apenas sei que a Natureza, melhor do que nós, é sábia o suficiente, para saber o que está fazendo. Alguns dirão que é a ação do homem, modificando-a. Não creio. A modificação que o homem provoca na natureza não é maior, jamais será, do que aquelas que ocorrem desde sempre, operadas pelos ciclos climáticos e ditadas pelos fenômenos astronômicos, a que todos estamos sujeitos. Não quero dizer com isto que não haja intervenções nefastas do homem, mas estas intervenções só atingem o próprio homem. A natureza se livra delas e deles com um simples balanço, como um cão a tirar o excesso de água de cima de seu pelo.

O fato é que, deixando de lado as polêmicas eternas sobre o clima, a Primavera aproveita a pressa solar e vai, dengosa e exuberante, se insinuando, trazendo os seus sinais indeléveis, reanimando, mais uma vez, a Natureza.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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