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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

O afeto que se encerra

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publicado em 26/12/2023 às 07h00
atualizado em 26/12/2023 às 05h18

Uma coisa eu admiro nas pessoas – encontrar gente e fazer uma festa. Eu chego levantando os braços. É só um jeito de corpo e se quiser, pode me acompanhar. Achei legal um vídeo em que Caetano Veloso diz que não veio para ser querido, mas ele é muito querido. Gente é pra brilhar.

Há algum tempo ainda era natural, ver pessoas que davam abraços na rua quando se encontravam, os passeios de mãos dadas. Para além do hábito, hoje quase raro, ver namorados de mão na mão em lugares públicos. Não, a culpa não é da pandemia. Já vinha estagnado esse bem-querer, de bem antes.

Nas fotografias postadas nas redes, os dedos por cima do ombro ou a apertar a cintura do outro, ainda são comuns, mas só na fotografia. Juntando-lhes o costume do beijo fraterno entre homens e mulheres, entre mulheres e mulheres ou, embora menos frequente, entre homens, mas isso não existe mais.

É difícil precisar em que momento este hábito começou a recuar e estas formas de aproximação passaram a ser, como agora acontece, excepcionais. Tudo pode e deve mudar, menos o afeto em que se encerra.

Terá sido um processo gradual, embora visto em retrospectiva por quem ainda viveu esse tempo, possa agora parecer punk. Já as razões para que isto tenha acontecido são diversas, mas não sou eu que vai explicar. Pronto o texto deveria se encerrar aqui.

Bom dia comunidade!

Boa parte tem a ver com o avanço, sobretudo a partir da chegada das redes socais, da cultura do individualismo, substituindo a anterior valorização da comunidade. Depois, a afirmação de atividades e profissões onde se avança de uma forma cada vez mais competitiva, convertendo amigos em colegas. É a vida.

Também conta o rápido crescimento das cidades, onde nesse processo o grau de proximidade tende a diminuir, e João Pessoa cresceu à beça.

Pesará também o crescimento de um certo grau de moralismo, que tende – ainda que por vezes surgido para afastar abusos – a penalizar os usos do corpo, excluindo a dimensão da inocência e leveza do toque. Faz pena.

Outro dia, uma linda mulher disse que eu sou o último romântico, mas nem isso. Entre tantas coisas, me admira a maneira como a professora Zarinha faz uma festa, quando encontra as pessoas: ela se levanta, beija e abraça.

Pois é, me parece  que sentir-se bem demais também faz mal. O que perde não se multiplica.

Kapetadas

1 – Meus sentimentos à família da jovem que tirou a própria vida por causa de uma fake news. Qualquer pessoa hoje pode exercer o jornalismo sem aprender técnicas de apuração e ética, duas das inúmeras lições do profissional de midia. Nem preciso falar sobre as consequências deste absurdo.

2 – Bilhões de pessoas rezando, Deus deve ter uma ótima Ouvidoria.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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