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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

O sumo da vida

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publicado em 03/12/2023 às 08h10
atualizado em 03/12/2023 às 08h09

Escrever, fazer amor, dizer coisas no ouvido, a frase que não disse antes, mais adiante, durante, feito um longo poema, que os corpos declamam e não pode ser algo ensaiado, que tem de chegar junto dos sussurros.

Casacos, vestidos, diamantes, relógios, colares e taças, um copo  de cachaça – nada importa – aromas, corpos quentes, mais quentes que o Vesúvio ou o calor que está fazendo lá fora.

Gozosos, os caminhos dos corpos, que se despem sem nenhuma cerimônia. E gozosos são os modos de se fazer amor, ao perder as rédeas, já em plena cavalgada e depois sair para celebrar o que esse fazer representa nas frações do espaço mais íntimo.

Fazer amor como quem levanta uma casa. Na verdade, singular, e é também um alento e não é mais preciso chorar, depois do amor.

Amor que é também uma forma de se salvar, não como os personagens (e não heterônimos ou pseudônimos) mas tão dentro desse lugar quando duas pessoa relaxam – somos todos inteiros, tortos e arados.

Fazer esse amor sem limites, sem costuras, colando os desenhos numa cartolina, como se fosse preciso ilustrar o leito, sinuoso e labiríntico, o percurso sempre na contracorrente, mas sem pressa, sequer, na hora da profusão do sêmen e das glândulas de Skene.

Já pensou fazer amor em série? Episódios, muitas temporadas e, de vez em quando, varar a madrugada?

Há um momento na vida que é preciso caminhar sobre as águas,  sem precisar ser milagreiro. Fluir.

No diário mudo, transmudar, reservar vidas que andam juntas, os deves e os haveres, de modo até autofágico, tudo o  que  absorve do amor, até o  próximo instante, a próxima vez, o amor natural.

O amor não gosta da rotina, mas pode ser sinfônico, feito de ecos, dos sentidos, um império de sedimentos na junção das pessoas. Não se faz amor à toa. Não cola.

O  que  motiva esse encontro  vem  de  bem antes, bem mais distante, bem-bom-romance, para permanecer. O que motiva o amor entre as pessoas, o fazer amor, não como uma segregação, mas como banhar a alma no sol, cego às avessas, olho no olho, beijo por beijo, na máquina de moer.

Sexo  e paz, numa feérica representação da música, a melodia sentimental de Villa-Lobos, universal, do modo que se faz viciar para repetir. O sexo é o meio de expressar, o canto dos boiadeiros ou simplesmente um dia atrás do outro, noutro sentido. Assim que o sexo começa os corpos falam pelos cotovelos e tudo é sagrado.  Por isso mesmo, impressionantemente, o sexo vive, come, descansa e nunca morre.

Jamais teremos a noção do tempo, numérica, jamais. O fazer amor, fazer sexo, não se confundem mais, não como nos livros, não com os personagens absortos, ou uma eterna brincadeira a dois, que nos tira do sério, que nos tira a bermuda, o vestido, a camisola do dia, e logo estamos no deserto. Silêncio!

Sobretudo a paz. que o sexo traz, da canção do compositor baiano, com os vocábulos espelhados na carne.

Kapetadas

1- Nem tudo sai certo da primeira vez, aponta reestudo. Delírio, né?

2 – Para bom aforismo, um quarto de palavra basta.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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