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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Qualquer melancolia

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publicado em 14/11/2023 às 07h00
atualizado em 14/11/2023 às 08h12

No elevador, ouvi algo assim: “mulher, a gente tem que se acostumar com a dor”, a frase veio do diálogo entre duas mulheres, que trabalham de fardas, no setor de limpeza. Eu já tinha passado uma noite à deriva, mas achei que seria muita coincidência e eu não acredito mais em coincidência.

A senhora de mais idade, estava dizendo a outra, o que muitos médicos dizem, de uma forma diferente, que é preciso conviver com a dor.  Mas com dor a gente não funciona, né?

Elas desembarcaram no quinto andar, com as garrafas de café amontoadas nas mãos – café é bom e termina sendo um alento.

No vácuo, elas seguiram caladas e viraram uma ilustração, um desenho, que dá à jornada contornos ainda mais triviais, uma espécie de jogo de tabuleiro ou videogame – a cada instante uma nova fase, mas sem desafios, talvez tormentos, ambientes voadores, tristezas que não belezas.

Absolutamente normal, logo a frente, as duas já se juntaram a um grupo, que não passa da rotina, como a mulher que lava roupa todo dia na quebrada da soleira, da canção de Luís Melodia.

Na semana passada, no banheiro dos homens, o rapaz que é gêmeo com outro, (nunca vi tão parecidos), de uma educação singular: “sim, pois não” “pode entrar, doutor”, e eu o interrompo para entrar exatamente na hora em que ele está lavando o vaso. Eu desisto, mas ele insiste, e ali jazz o 5 jato.

Abri o computador, mas não se abre computador e está lá a noticia que a depressão é um fenômeno recente?”, que a sociedade atual está “vivenciando mais depressão do que antigamente”, ou seja, estão diagnosticando mais e mais e mais a depressão.

Com certeza aquelas mulheres e seu grupo, não são de Atenas e não têm depressão, nem tempo isso.

Na série “Fim” do livro que Fernanda Torres lançado em 2013  (GloboPlay), em algumas cenas, a mulher pergunta ao marido: “Já tomou os remédios?” até que a dose é cavalar e fim.

O sentimento de uma pessoa encontra eco noutra pessoa, quando nos permitimos conversar.

 Às vezes eu penso que tal pessoa é ‘pura’ demais, uma coisa só, apenas um tom, um só imaginário. Depois eu suponho que isso seja precisamente a força, que as coisas precisam ter para acontecer, lá da fala do Caetano Veloso.

Não existe legado para todos, sequer relatos de um testamento, narrativas repetidas da natureza de cada um, basicamente, porque é muito pouco o que fazemos pelos outros.

Kapetadas

1 – Tudo é uma questão de opinião que normalmente ninguém pediu.

2- Certeza que o marido da Ana Hickmann  disse “eu te descobri” inúmeras vezes ao longo da relação. Gratidão não é compromisso com o inferno.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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