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Entrevista: Will Santt lança primeiro disco e homenageia Caetano Veloso

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publicado em 11/11/2023 às 11h46
atualizado em 11/11/2023 às 12h28
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Kubitschek Pinheiro

Quando o vi tocar nas redes sociais, um jovem magrinho, com uma habilidade e intimidade com o violão, logo pensei na canção “Tigresa” de Caetano Veloso, em que ele diz: “Como é bom poder tocar um instrumento” gravada no disco “Bicho”, em 1977.  Não deu outra, Will Santt acaba de lançar seu primeiro disco “Meu Caminho”, cuja faixa que dá nome ao álbum, foi feita para Caetano. A capa é um  trabalho do artista francês Jean-Marc Zermatten.

Clique aqui e ouça Meu Caminho

Nas primeiras imagens, Will Santt, nome artístico de Emanuel Santos, ele surgia numa delicadeza impressionante e cantava “O Pato”, do repertório de João Gilberto – cuja sonoridade e o jeito de cantar chegavam perto das performances do maior representante da Bossa Nova, o João.

Will Santt cresceu velozmente. Já se apresentou na Europa, em São Paulo, é claro, no Rio de Janeiro e está disparado nas plataformas,

O disco autoral é o passe seguro de quem está só no começo. Tem mais: já se apresentou com Baby do Brasil, em shows em São Paulo e Rio de Janeiro.

Will conversou com o MaisPB e a gente traz a história desse rapaz desde o início, que é a maior revelação da Música Popular Brasileira.

MaisPB – Vamos começar por aqui – como e quando se deu seu encontro com a música?

Will Santt – Basicamente eu aprendi a tocar bateria com 9 anos e sempre gostei de batucada, tocava nas almofadas, nas panelas e nos baldes da minha mãe. Eu e meu irmão estouramos as almofadas dela, ele toca bateria, a gente aprendeu junto.

MaisPB – Nesse tempo vocês moravam onde?

Will Santt – A gente morava em Guaianases que é um bairro de São Paulo, na frente de casa tinha uma igreja e se escutava muito o som da bateria e a gente nunca tinha visto ninguém tocar lá e só pelo fato de a gente escutar, despertou a vontade de querer aprender a tocar esse instrumento. Na vida tudo é um aprendizado.

MaisPB -Então, a bateria veio antes da batida do violão?

Will Santt – Isso, veio antes de tudo, foi o primeiro instrumento que eu aprendi a tocar e foi muito importante, na minha rítmica, no violão, porque eu toco bateria muito bem, até hoje.

MaisPB – Seu irmão toca com você?

Will Santt – Não, ele seguiu outro caminho, de vez em quando, vai em alguns saraus e toca, mas o profissional dele trabalhar com isso, como estou fazendo, não.

@ 2022 Marjorie Raggo Photography Processed with VSCO with nc preset

MaisPB – E como foi cara a cara com o violão?

Will Santt – Após eu aprender a tocar bateria em 2009, eu tive interesse em aprender outros instrumentos. O primeiro contato com violão, foi rápido nesse mesmo ano. Nós mudamos para uma chácara e nunca mais tive contato com esses instrumentos e eu nunca tinha feito nada no violão.

MaisPB – E quando aconteceu a retomada com os instrumentos?

Will Santt – Olha, em 2013 viemos morar numa cidade chamada Barueri, onde minha mãe mora até hoje. Eu morei com ela até o início do ano, antes de viajar para Europa, depois eu mudei. Na cidade nova em que estávamos, a gente voltou a ter contato com uns instrumentos. A minha formação musical vem da igreja.

MaisPB – Que legal, vem das igrejas, dos cânticos, corais. Muitos artistas norte-americanos dos blues, do soul começaram a cantar em igrejas…

Will Santt – Isso, mas eu nunca cantei na igreja, eu só toquei, porque eu fui desenvolver a minha voz em 2016 quando minha voz já estava encorpada, mas toquei muita bateria na igreja, desde garoto.

MaisPB – E o encontro definitivo com o violão?

Will Santt – Antes, eu toquei o instrumento “Meia Lua” e eu não gostava. Minha mãe dizia que dava um charme muito bonito, mas eu não gostava. Aí eu pensei – vou aprender a tocar violão e pronto. Eu aprendi na marra e não tínhamos violão em casa. Eu peguei um violão de um “irmão da igreja”, que me emprestou um violão antigo. Eu aprendi muito, isso entre 2014 e 2015. Eu corri para as revistas de acordes e estudava de manhã e passava a tarde e até a noite, estudando violão, os acordes e as formas de tocar.

MaisPB – Qual a sensação de ter escutado e aprendido a tocar “Águas de março” de Tom Jobim?

Will Santt – Eu tive o prazer de conhecer a Bossa Nova, “Águas de março” foi a primeira canção, eu ouvi, achei linda e chamou muito minha atenção. Parece que ali encontrei minha forma de tocar, meu estilo. Sempre gostei dos clássicos, de coisas antigas, brechós, de conceitos vintage, de estilos retrôs e a música tem muito a ver com isso. Eu fui buscar músicas mais antigas, que um jovem na minha idade não iria. Eu não gosto só de ouvir, eu gosto de trabalhar com isso. Eu trabalho dia e noite com a música.

MaisPB – Quando aconteceu a transformação – de Emanuel Santos para Will Santt?

Will Santt  – Bom, o Will ele entrou no tempo da escola, onde eu gostava muito de vestir um estilo de roupa diferente, mais vintage, isso em 2017.  Eu tenho um cabelo crespo, black, meio cacheado. Eu fazia um corte muito parecido com o ator Will Smith, apenas o corte, como se fosse um retângulo. Um amigo na escola perguntou meu nome e se podia me chamar de Will.  Eu disse: se você não lembrar do meu nome, pode me chamar de Will que eu vou atender. Emanuel é um nome bonito, não sei que seria um nome artístico…

MaisPB – E o Santt?

Will Santt  – Veio de Santos. Meu nome é Emanuel Santos Souza. Em conversa com meu irmão, ele seu nome é Santos, o meu também é, que tal colocar Sant? Mas eu falei que Santi é um rapper e chegamos à conclusão de Santt com dois tt. E deu certo, e pegou.

MaisPB – Há quanto está no Instagram?

Will Santt  – Eu abri uma conta em 2016, que eu postava meus vídeos – o primeiro tinha o nome de  @musiccenter, mas eu perdi a senha. Em 2018 fiz outro, só com Will.

MaisPB – Então, o ponta pé veio das redes?

Will Santt  – Sim, eu vivia tentando, até que cheguei ao perfil @willSantt , que uso até hoje. Nos antigos eu postava meus vídeos. Aí voltei a postar com minha página do Instagram, descendo até aos reles a pessoa vai encontrar vídeos antigos, que eu postava nas outras contas. Eu já tenho mil vídeos postados. A minha forma de cantar e tocar tem chamado a atenção do público.

MaisPB – Quando veio a explosão?

Will Santt  – No ano passado eu não tinha nem mil seguidores, comecei seis mil. Em julho do ano passado, postei um vídeo cantando “Capim”, (de Djavan) que teve trezenas mil visualizações. Consegui uma galera, e no final do ano passado eu já estava com 60 mil. Em janeiro deste ano, postei a canção O Pato, um vídeo bem feito –  sempre investi nisso, tudo bom demais. Hoje eu gravo de forma diferente, com celular com um microfone condensador, tudo bacana, arrumei o cabelo, botei uma roupa vintage e foi o maior vídeo com visualizações que tenho meu perfil. – 4 milhões, mais de 280 mil curtidas. Só com esse eu consegui mais de cem mil seguidores

Mais PB – E esse primeiro disco “Meu Caminho? ” As canções são lindas..

Will Santt  – Eu tenho muitas canções. Mais de cem composições, fora os poemas. Eu sempre compus músicas que falam de Deus, mas de outra forma, do carinho, da paisagem, da natureza, disso tudo. Esse meu disco só tem canções recentes. Essas composições eu escrevi sem pensar em gravar. “ O Bem, Mulher” me lembra um  mantra, “Aranhol”  eu fiz em agosto do ano passado. O disco veio pela luz de João Marcelo Bôscolli.

MaisPB – “Lamento de Deus”, é uma canção linda…

Will Santt  – Muito obrigado.

MaisPB – A canção “Meu Caminho” que você compôs para Caetano Veloso dá nome ao disco. Vamos falar sobre isso?

Will Santt   – Cara, Meu Caminho eu escrevi o ano passado, junto com a canção Quando Chover, a que eu fiz para o Francisco (Tabosa, do perfil Caetanoéfoda) e a outra para o Caetano. Eu  estava na cama com o violão  e tinha que sair para um compromisso, veio uma melodia na minha cabeça – e peguei o violão e fiz e saiu “Quanto Chover”, uma música simples, bonita com poucas palavras. Eu comecei a fazer a outra “Meu Caminho”, gravei e fui pegando os acordes.

MaisPB – Fala mais dessa canção que você fez para  Caetano?

Will Santt   – Eu tinha a melodia dela, o arranjo, escrevi um paço da letra e pensei vou terminar depois. Olha, minhas bonitas canções eu fiz no chuveiro – e ali veio a letra toda, na minha mente. Sai do banheiro a canção estava pronta.

MaisPB — E sua mãe, o que ela disse do disco, das tuas canções?

Will Santt   Há tempos atrás, não era muito presente. Ela viu que eu queria tocar e cantar fora da igreja e ficou triste, não apoiava o quanto eu gostaria, mas de três anos para cá, começou a entender. Agora me apoio no meu sonho, minhas escolhas. Ela viu o primeiro show, em outubro do ano passado. Em novembro do ano passado fiz um show no estúdio, e ela me aplaudiu junto com meu pai.

MaisPB –  Como foi a receptividade na Europa?

Will Santt   – Eu nunca tive um público que passasse de um por cento na Europa, muito pequeno.  Eu comecei a fazer músicas que o europeu me acompanhasse e meus vídeos foram chegando até eles. Tem uma cantora de lá, que viu meu vídeo no Instagram, a Cecilia Krull cuja música “My Life” dela estourou na série La Casa de Papel, da Netflix. Ela me ajudou muito, abriu as portas. Foram dois shows em Madri com a casa lotada. Terminei fechando 12 shows, em Sevilha, Barcelona, na Itália e um na Suíça. Foram três meses por lá.

MaisPB – Aliás, em janeiro você vai voltar para a Suíça para cantar no  O Fórum de Davos 2023, que tem como tema “Cooperação em um Mundo Fragmentado” e vai que vai reunir presidentes do mundo todo.  Vamos falar sobre isso?

Will Santt   – Vai ser dia 15 de janeiro. Estou muito feliz, como cidadão, artista e brasileiro cantar nesse evento.

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