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Educador Físico,  Psicólogo e Advogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Agente Especial da Polícia Federal Brasileira (aposentado). Sócio da ABEAD - Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do IBRASJUS - Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. É ex-presidente da Comissão de Políticas de Segurança e Drogas da OAB/PB, e do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas do município de João Pessoa/PB. Também coordenou por vários anos no estado da Paraiba, o programa educativo "Maçonaria a favor da Vida". É ex-colunista da rádio CBN João Pessoa e autor dos livros: Drogas- Família e Escola, a Informação como Prevenção; Drogas- Problema Meu e Seu e Drogas - onde e como lidar com o problema?. Já proferiu centenas de conferências e cursos, e publicou dezenas de artigos em revistas e livros especializados sobre os temas já citados.

Cultura consumista e sua relação com o uso indevido de drogas

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publicado em 17/10/2023 às 07h00
atualizado em 16/10/2023 às 15h11

 

O modelo cultural vivenciado pela sociedade contemporânea, especialmente para os habitantes do lado ocidental do planeta terra, nos estimula diuturnamente a sermos consumistas e, neste afã do “ter”, originário da filosofia pregada pelo capitalismo, somos estimulados a consumirmos de tudo, inclusive drogas.

As indústrias e as empresas dos mais diversos segmentos produtivos e empresariais, vivem do lucro, o que é natural, e para tanto contratam bons profissionais das áreas de psicologia, comunicação e marketing que usam seu poder de persuasão nos diversos segmentos da mídia para nos bombardear com mensagens cuidadosamente produzidas. Assim, de forma persistente, motivacional, e porque não dizer até alienante, induzem-nos ao consumo desenfreado dos mais variados bens, serviços e materiais, independente de estarmos precisando ou não dos mesmos.

Este induzimento ao consumo geralmente tem um efeito mais acentuado no público jovem, especialmente nos adolescentes, pois neste período da vida o ser humano ainda está em formação física, emocional e psicológica, tornando-o mais vulnerável às pressões sociais e dos modismos ditados pela mídia e pelo grupo social e cultural aos quais pertence.

É evidente que não são estes jovens adolescentes os responsáveis pelo modelo consumista dos dias atuais; eles apenas reproduzem comportamentos que aprenderam no meio social em que vivem, e do qual herdam e compartilham estilos de vida, crenças, modismos, culturas etc., dentro e fora do lar, inclusive em relação ao consumo de substâncias psicoativas.

Em se tratando do uso indevido de drogas, na maioria das vezes, o que normalmente muda com o passar dos anos, de geração para geração, é apenas o tipo de droga que está sendo consumido, ou mesmo a inclusão de novas substâncias psicoativas, uma vez que, assim como qualquer modismo, quando a cada estação do verão surgem novos modelos de vestimentas, de corte de cabelos, novos estilos musicais, novas músicas etc., também surgem as drogas da moda.

Assim sendo, o aludido modelo cultural de vida, direcionado para o consumismo desregrado, mesmo que seja apenas de bens de consumo, utensílios e serviços, é tão danoso aos seres humanos e a sociedade como um todo, quanto o próprio uso abusivo de drogas.

A sabedoria popular nos ensina que educamos melhor com os nossos exemplos do que com as nossas palavras e conselhos. Contudo, é muito comum, os adultos, inclusive pais e mães, mesmo que de forma despercebida, praticarem, por vezes, atos e atitudes na frente dos filhos que são verdadeiras fontes de deseducação, como por exemplo, pedir para que a criança nos auxilie pegando uma bebida alcoólica na geladeira “para relaxar”, ou um clamante para a mãe, que alega estar nervosa etc.

Ao assim agirmos, estamos de certa forma passando para os nossos filhos a mensagem e, consequentemente, um modelo de educação, em que contrariedades, “aperreios”, lutos, tristezas etc., podem ser remediados ou amenizados com o consumo de alguma substância. E estes, aprendem, por imitação, a também tentarem fugir das adversidades e problemas com o consumo de alguma destas que poderá inclusive não ser aquela lícita que os pais consumiam, mas sim uma droga qualquer que está na moda.

Outro aspecto importante a ser lembrado é que, muitas vezes, os filhos e filhas são educados para um mundo irreal, de fantasias, como se estes fossem viver numa bolha livre de problemas. Esquecemos de lembrar-lhes que o mundo não é só prazer e felicidade, mas que por vezes teremos que vivenciar tristezas, lutos, decepções e outras frustrações. E que tais dificuldades, também podem ser importantes e nos ajudarem a crescermos e a amadurecermos emocional e socialmente.

Destra forma, com nossas atitudes consumistas, poderemos passar a falsa ideia que a felicidade está diretamente relacionada ao consumo e que inclusive a tristeza e a solidão devem ser eliminadas com a aquisição de algum bem, a visita a algum lugar, a companhia de pessoas ou mesmo o uso de alguma substância psicoativa (álcool, energéticos, medicamentos, drogas ilícitas, etc.). E com isto, mesmo sem querer, estamos indiretamente dizendo que a felicidade pode ser comprada e que, tristeza e solidão precisam ser evitadas, mesmo que seja com o uso indevido e abusivo de drogas lícitas e/ou ilícitas.

Como bem disse a escritora americana Margareth Power, “…nossos filhos seguem mais fácil os nossos passos do que os nossos conselhos”. Portanto, precisamos estar vigilantes em relação aos nossos atos e à nossa maneira de agir, haja vista que são estas nossas atitudes que serão copiadas e replicadas por nossos filhos e/ou educandos.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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