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João Medeiros é pediatra e presidente da Academia Paraibana de Medicina. E-mail: [email protected]

O Dia da Criança

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publicado em 12/10/2023 às 11h39

O dia doze de outubro, dedicado à Padroeira do Brasil – Nossa Senhora Aparecida –  é também efusivamente comemorado por todos nós, como o Dia  da Criança, este ser mágico que nos encanta pela beleza, pureza, inocência e sinceridade cativantes e que, por outro lado, nos sensibiliza e preocupa  pela   fragilidade aos agravos físicos e psicossociais a que está exposto. Nesse contexto nossa responsabilidade como país, avós, médicos ( pediatras), educadores, religiosos e do ente público são incomensuráveis.

Em recente fórum da Câmara Técnica de Pediatria do Conselho Federal de Medicina – “Pediatra e a Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente” – o tema central girou em torno  dos cuidados preventivos – a Puericultura –  com enfoque especial aos primeiros mil dias, a partir da concepção – um período de grande vulnerabilidade no qual, em face de sua plasticidade, as “janelas de oportunidade “ ensejam a intervenção precoce para a reversão dos danos – , à  imunização, à promoção do aleitamento materno, etc. ; dos agravos à saúde, em decorrência da crescente violência que permeia nossa sociedade, fruto da desestruturação familiar, da inversão de valores, das drogas, da contravenção/corrupção, da pobreza, do abandono e da desigualdade de oportunidades. As repercussões emocionais na criança, inclusive culminando, em situações extremas, como o suicídio, são imensuráveis.

Nesse contexto, o papel do poder público é crucial, notadamente em relação aos mais carentes, aos excluídos, mas é evidente que toda a sociedade deve estar envolvida, a partir da família que no dizer de Rui Barbosa “ é a pátria amplificada”, além da missão relevante dos educadores. Os pais precisam estar mais próximos aos filhos, ouvindo, aconselhando   e discutindo, sobre temas até mais complexos, em consonância com sua faixa etária, como sexualidade, contracepção, prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, drogadição, etc. No entanto, é preciso estabelecer regras e limites.

Não podemos desconhecer a importância dos extraordinários avanços tecnológicos em todos os setores da sociedade moderna, notadamente nos meios de comunicação, na internet, nas mídias sociais, na IA, mas é forçoso lembrar a influência negativa do acesso indiscriminado e sem controle dessas ferramentas.

Por outro lado, o distanciamento entre pais e filhos, em decorrência do contexto atual do modus vivendi deve ser lembrado. As mães deixaram de ser “do lar” e passaram a compartilhar  com os pais de um mercado de trabalho muito competitivo, passam o dia fora de casa, e os filhos ficam a mercê de cuidadoras ou das creches; para compensarem a ausência são mais permissivos, não raro premiam exageradamente os filhos, inclusive com livre acesso às telas. As crianças hoje em dia não brincam mais nas ruas, mesmo porque não há espaço para isso, não jogam bola de gude ou “pelada”; a interação com os amigos se dá à distância – on-line – e se esmeram nos jogos eletrônicos. Amplia-se, assim,  o cenário da pornografia e da pedofilia.

São reflexões e conselhos que, na condição de pai, avô e  pediatra de uma apreciável legião de adoráveis criancinhas, que me sinto no dever de transmitir. Cuidar de nossos descendentes, nosso maior tesouro, com amor, desvelo e dedicação é, além da tarefa divina que nos foi confiada, uma questão de cidadania.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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