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Ecos da guerra: História sem recortes

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publicado em 11/10/2023 ás 16h31
Com as recentes notícias sobre a guerra entre Israel e a Palestina, fomos atingidos com um número gigantesco de informações sobre a realidade na Faixa de Gaza e seus arredores geográficos. Fato é que o que desencadeou o conflito de hoje vem se modulando há muito tempo. Mas esse texto não é sobre esse atual conflito. É, também, sobre ele.  A existência concomitante de países e povos em guerra e a vida comum acontecendo em tantos outros lugares, faz-me refletir sobre o que de fato entendemos sobre história.
Quando estudado o nazismo, pensamos (assim espero) com indignação e dúvidas sobre como um regime autoritário e cruel que matou milhões de pessoas cresceu e se fortaleceu com tanta naturalidade. Quando debatemos a ditadura militar brasileira, pensamos (assim espero) em como as pessoas não se revoltaram antes, diante de tantos limites à liberdade.
A escravidão foi um fenômeno cotidiano e seres humanos eram vendidos em jornais e praças. Quando nos deparamos com essas informações históricas, surgem dúvidas sobre como aconteceu, quem permitiu e porque foi permitido. Contudo, para além de indignação e tristeza, há um certo distanciamento. A sensação é de que “aconteceu há muito tempo”. “É história”.
Esse distanciamento, porém, chega a ser perigoso. Além de não ser de todo real. A geração que viveu a ditadura, por exemplo, está entre nós. Uns até a pedem a volta de um regime que durou 21 anos e foi responsável pela morte, tortura e desaparecimento de centenas de pessoas. Uma lástima.
Essa introdução, até um pouco confusa, é apenas para afirmar que eventos históricos não são recortes do tempo. Eles coexistem.  Hoje, enquanto há uma revolução tecnológica gigante no campo da Inteligência Artificial (IA), existem pessoas que ainda não tiveram acesso à educação básica e não sabem ler. Enquanto há eventos festivos, esportivos e vida normal em várias partes do mundo, há guerra entre a Rússia e a Ucrânia, Israel e Palestina, além de desigualdades sociais crescentes e assustadoras.
Enquanto se estuda a possibilidade de um hotel na órbita terrestre (isso mesmo, no espaço), há milhões de pessoas sem acesso digno à alimentação.  As desigualdades geográficas, sociais, culturais são constantes e nítidas. E a história está sendo feita sem recortes. Então, hoje, têm pessoas morrendo em uma guerra e alguém lendo a notícia sobre a mesma morte, na palma da mão. A nossa impotência diante de eventos como esse, chega a ser assustadora. Como será recortada essa parte da história, apenas as próximas gerações saberão.