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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Primeiros amigos

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publicado em 16/09/2023 às 07h00
atualizado em 16/09/2023 às 05h26

Como a luz, uma luz de candeeiro, num pedestal do padroeiro São José, escondida para sempre, eu vi tanta gente, que há não muito não avistava e do mar se diz terra à vista.

Apesar da minha espontaneidade, nunca fui tímido ou sou tímido e não disfarço muito bem, fiquei com as palavras engolidas num copo vazio, água e lágrimas, água de chuva, água de pote, água benta. Saravá!

Fui ao lançamento do CD de Irapuan Sobral e Demetruius Faustino e reencontrei meus irmãos gêmeos, Osmar e Osman, que ficaram conhecidos como Babá e Pretim. Pretinho, certamente, por ter nascido mais moreno, que nós outros, morenos também.

Quando os vi pela primeira vez, eles já eram garotos que usavam roupas iguais, como se fazia antigamente. Logo que comecei a caminhar, encontrei neles dois os primeiros amigos da minha vida.

Ao reencontrá-los na noite da última quinta-feira, ali na praia do Bessa, de frente para o mar, uma alegria silenciosa se instalou e quase chorei em cada abraço, uma força, vendo-os dentro mim, o caçula, e não sabia sequer o que falar. Apenas beijei os dois no rosto.

O abraço, no olhar orientadores dos homens, na luz do reencontro com gente minha, vi que ainda sonhamos acordados.

Num dos mais perfeitos filmes da vida, pai e mãe e filhos sertanejos, todos são protagonistas, vivemos a nossa incapacidade para perceber se aquilo que sente é amor ou apenas irmandade.

Era engraçado. Muitas as pessoas da cidade não sabiam distinguir quem era um, quem era o outro, de tão parecidos e somos parecidos. Éramos apaixonadamente a compatibilidade parcial ou a incompatibilidade total entre estes dois conceitos: ser irmão e ser amigo.

O papel figurado no beijo, no beijo deles, o olhar entre os três, os ultimos filhos homens vivos, ali foi fundamental, dado este deter uma quantidade imensa ou o suficiente para nunca sermos clandestinos.

Com a gente não existe o antigamente, é que era bom. Não, parece que somos trigêmeos, apesar da distância, de termos passado muitos anos separados, o que não é o caso dos dois, que ficaram mais próximos pelo cordão umbilical, mas o cordão, o cordão do mundo, relevou que estamos tão pertos, sempre pertos.

A perspectiva se impõe, se impôs – perspectivando um passado considerado melhor que o presente, mas nosso abraço foi algo tão antigo quanto a existência humana.

A idealização do tempo cíclico, o que minha mãe dizia que até as pedras se encontram, tivemos antes do encontro das pedras, as pedras rolantes algo maior que a perspectiva, sempre ligada a esse desejo de regresso ao que se criou outrora magnífico.

Obrigado meus primeiros amigos pelo nosso amor, Osmar, Babá, Pretim e Osman, somos múltiplos e conseguimos sim, fazer aquela foto que antes só fazíamos quando éramos pequenos, meus primeiros amigos.

Kapetadas

1 – Gente como vocês fazem pra dar conta de saudade?

2 – Advérbio não tem plural. Advérbio não tem feminino. Advérbio não tem tamanho. Hoje é hoje sempre.

3 – Som na caixa: “E cada um de nós é um a sós, e  uma só pessoa somos nós”, Chico César

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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