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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Vanessa, a deusa da Mata

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publicado em 23/05/2023 às 07h00
atualizado em 23/05/2023 às 04h42

 “Vem Doce”, com o mesmo tempero, Vanessa da Mata trouxe para João Pessoa, a turnê inspirada pelo álbum homônimo e celebra os 20 anos de carreira.  Foi sábado passado no Teatro Pedra do Reino. Muito chão. Dividido em três atos, o concerto apresenta a cantora revisitando sua trajetória pessoal e musical.

Uma atriz falando de amor, sublimemente enquanto apresenta camadas sociais, políticas, sensuais e espirituais sem fugir da essência de ser uma voz brasileira que se destaca.

Seu trabalho poético, aos nossos olhos, cresce nos versos e se afigura na possibilidade uma leitura cânone, completamente livre ou isenta de repetições, salvaguarda, de apropriações de si mesma, da sua arte.

Vanessa ávida, cantando em pleno gozo da liberdade, em pé, sentada na beira do palco e até deitada, a artista convida-nos permanentemente ao afeto de suas canções dos crivos mais convincentes sobre o amor e a dor. Girando.

Não temos mais Elis, Gal e Rita Lee.  Vanessa avança desde que pisou no palco improvisado do Paço dos Leões, quando foi trazida pelo jornalista Fábio Bernardo, lá atrás, para cantar em João Pessoa, pela primeira vez. Desde então, a singularidade da sua voz já é patente entre nós.

A cena da canção “A Força Que Nunca Seca” (dela e Chico César) a expressão de uma identidade particularíssima, que se configura visível em todos os momentos, quando gira no palco sem bambolê, o corpo já de uma mulher madura, com pele alvíssima e a coisa toda.

 A cena da backing vocal que atravessa o palco com uma lata na cabeça, repetida cena urbano e rural, mas de bem perto com a letra da canção declamada por Chico César, é uma performace de cinema. Após a travessia, a artista surge vestida de branco, descalça e realça bem sensual.

 Vanessa da Mata reforça a unidade que o show nos propõe, a desenvolta quebra das regras, ela está solta no palco, num cenário dimensional, a gerar aquilo a que chamaríamos de potência. Sim, ela declama.

A cortina abre e lá está ela no domínio do espanto, uma Vanessa de blazer que logo é atirado ao chão, da licença poética, (eu peço licença, adoro mulheres de vestidos) a que a artista se permite, liberdade maior e domínio de palco.

Disse e repetiu ao cantar “Paraíba meu amor eu estava de partida mas vou ficar”, de Chico César, que Chico e Maria Bethânia são seus padrinhos da arte completa, o oficio de cantar e, em homenagem a Maria Bethânia, cantou “ Ê Senhora” do repertório da cantora baiana.

Surpreendente cantando Belchior,  “Comentário A Respeito de John”,  a canção em que nos encontramos e nos perdemos.

Vanessa intensa, bonita, selvagem, na excursão aos referentes tempos de escuridão, que ainda estamos passando, uma memória nostálgica de um referente temporal infeliz, que nos devolve a felicidade numa nuvem passageira. Viva o som! Viva o trabalho de Vanessa!

É isso, Vanessa é melômana, a deusa da mata.

Kapetadas

1 – Pra absolutamente tudo na vida: A conta chega.

2 – Se o fim do mundo fosse hoje, amanhã já estaríamos acostumados.

3 – Soim na caixa: “ Se você quiser, eu largo tudo, vou pro mundo com você meu bem”, dela.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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