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Aricia Mess volta a cena musical com o videoclipe “ViraLataHumana”

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publicado em 09/04/2023 ás 12h06

Kubitschek Pinheiro MaisPB

A cantora e compositora Arícia Mess está de volta ao Brasil, após três anos morando fora, na Europa e traz as boas novidades que produziu por lá. Arícia está lançando mundialmente o videoclipe da música “ViraLataHumana” (dela e Suely Mesquita), dirigido pela francesa Shani Carpentier.

Esse videoclipe é um “bônus vídeo” que faz parte do projeto “Versos do Mundo”, álbum lançado digitalmente em meio à pandemia pelo selo alemão Korokoro Music em 2021.

O álbum ganhará em 2023 mais sete videoclipes produzidos em Londres pelo produtor e diretor baiano Tiago Di Mauro, dono da Infinita Production, em colaboração com um grupo de jovens diretores de várias nacionalidades, franceses, gregos, iranianos, todos residentes naquela cidade.

“Versos do Mundo”, com músicas gravadas em São Paulo, Londres e Lisboa, as cidades onde Mess viveu durante os últimos anos, é um disco de samba, com grooves de violão afro-brasileiro, enriquecido eletronicamente, e inspirado na imensurável riqueza da cultura brasileira, com toque de dub, harmonias descontraídas, neo-soul e new-wave e teve participação de Dona Onete em “Batuque é reza forte”, música em que dividiram autoria e vocais.

O lançamento do videoclipe aconteceu no Rio de Janeiro no Jardim da Mangueira, novo espaço da arquiteta carioca Bel Lobo, com, além da exibição do videoclipe, pocket performance dela e participação de Bianca Godói (artista e produtora paulista), Numa Ciro (cantora, compositora, atriz e psicanalista), Viviane Mosé (poeta, filósofa e psicanalista), Felipe Vasconcellos/Fevas (artista visual, ator e performer) e Amanda Gouveia (bailarina e performer), além dos DJs Tata Ogan e Jorge LZ.

Quem é Arícia Mess

Natural de Niterói, Arícia Mess despontou nos anos 90, num núcleo musical multiforme denominado retropicalismo, que revelaria ainda Pedro Luís (e o grupo Boato), Suely Mesquita, Luis Capucho, Mathilda Kóvak, Fred Martins e Rodrigo Campelo. Seu trajeto musical passou pelo álbum e vídeo do “Bloco Rap Rio”, ao lado de Fernanda Abreu, Fausto Fawcett, Planet Hemp e B Negão, em 1997.

Seu primeiro solo, “Cabeça coração” é datado em 2001, produzido por ela, Carlos Trilha e Fernando Morello, com sucessos como “O homem dos olhos de raio X” (Lenine) e “Superlegal”, anteriormente lançado na Europa como single pelo selo londrino Far Out. Uma década depois, viria “Onde mora o segredo”, também produzido por Trilha e a intérprete, com destaque para a iconoclasta “Black is beautiful”, dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle. Mais uma década, e ela ressurge, em 2021, com seu álbum mais globalizado, “Versos do mundo”. (Tarik de Sousa).

A artista conversou com o MaisPB e conta toda história do clipe, do disco e de seu retorno ao Brasil

MaisPB – Vamos começar pelo videoclipe – ViralataHumana” – um escândalo, tem que ouvir, tem que assistir – conta aí pra gente como aconteceu o clipe, dirigido pela francesa Shani Carpentier?

Arícia Mess – O vídeo faz parte de um projeto maior, que envolve um grupo de jovens diretores de cinema baseado em Londres. Para mim o mais legal é o fato do produtor Tiago di Mauro, dono da Infinita Produções, ter juntado esses jovens, cada um de uma nacionalidade, para dirigir esses vídeos sobre as músicas de Versos do Mundo. Shani é uma delas, eu amei o vídeo também! Um presente no olhar da diretora.

MaisPB – Com esse álbum ”Versos do Mundo”, você faz uma viagem pelas cidades cosmopolitas – São Paulo, Lisboa e Londres. Vamos falar desse vai e vem, de nossas vidas tumultuadas, das cidades que são construídas para serem destruídas?

Arícia Mess – Eu não sei o que aconteceu primeiro, o álbum ou a viagem… Não foi uma viagem turística, foi uma viagem para dentro de mim e de abertura para o mundo, para a vida. Eu não tinha previsto gravar um álbum viajando, isso aconteceu, compus algumas canções e gravei por causa dos encontros que vivi. Os parceiros são muito importantes, o Gabriel Muzak, o Ricardo Dias Gomes, o Aleh Ferreira, o Marco Cremasco, Dona Onete. O disco é resultado desses encontros.

MaisPB – Eu li que o álbum vai ganhar neste ano, digo vamos ganhar, novos videoclipes este ano. O que podemos esperar?

Arícia Mess – Esses vídeos são leituras desses diretores sobre minhas músicas.

MaisPB – Sua música vem com grooves de violão afro-brasileiro, sublinhado electronicamente, segue a pegada de Dorival Caymmi com toque de dub, harmonias descontraídas. Ou seja, samba, é samba que eles querem, lá vai, como canta o paraibano Jackson do Pandeiro?

Arícia Mess – Você sabe a que a raiz da música brasileira é o samba dos terreiros, dos negros/pretos que chegaram da Africa. Então é inevitável ter essa influência na música que faço, né? Mas não é o samba exatamente que eu faço, mas certamente o samba está lá nos abençoando.

MaisPB – Você tem três discos solo e muitos singles; vamos falar dessa produção inicial?

Arícia Mess – Eu tenho três discos e alguns singles. Não era muito fácil fazer música independente no Brasil nos anos 90, muito menos gravar discos. A gente não tinha acesso aos meios de produção como tem hoje. Tudo estava na mão das grandes gravadoras, mas com o desenvolvimento tecnológico, os meios vieram para nossas mãos. Tanto que Versos do Mundo foi gravado em movimento, em pequenos estúdios, e algumas das canções gravei vozes e esbocei algumas canções no meu próprio computador. Eu só fui lançar meu primeiro álbum em 2000, depois de 10 anos já estando na pista. E vejam só, era só o início da internet no mundo…

MaisPB – “Versos Do Mundo”, trouxe você de volta ao Brasil?

Arícia Mess – O que me trouxe de volta foi a pandemia. E agora o disco me traz de volta.

MaisPB – Como e quando você se descobriu cantora/ compositora?

Arícia Mess –As pessoas começaram me dar esse retorno, sou libriana… Ah…você canta bem, começaram a ir aos shows. E eu sentia muita alegria no palco. Eu também sou atriz, fiz escola de teatro e lá muita coisa despertou em mim. Aliás, tenho explorado mais esse meu talento. O palco é meu lugar.

MaisPB – Em março, dia 4 rolou uma festa de arromba, no Jardim da Mangueira, conta pra frente…

Arícia Mess – O Jardim da Mangueira é um espaço da arquiteta Bel Lobo. A Bel me emprestou o lugar para fazer essa festa de lançamento. Mas nessa festa convidei outros artistas para participarem com sua arte, uma delas foi Numa Ciro artista paraibana que eu acho uma gênia. Numa é compositora, cantora, performer e é única, não existe nada igual a ela. Vocês conhecem? Convidei também a Viviane Mosé que nos enriqueceu com sua poesia e sua presença. Eu amo as duas! Foi uma noite memorável!

MaisPB – Sua arte vem dos anos 90, o movimento retropicalismo que revelou Pedro Luís e A Parede. Bora tocar neste assunto?

Arícia Mess – Olha isso já faz uns 30 anos? Então vou te falar de alguém mais antigo ainda na minha vida e que as pessoas não tem conhecimento. Cátia de França, compositora genial paraibana também, olhe só, outra mulher paraibana na minha rede. Minha primeira experiência como cantora foi com Cátia nos anos 80, junto com minha amiga Márcia Brandão, violeira danada. Nós fizemos backing vocal pra ela naqueles anos. Eu nem sabia que era cantora… Enfim, Cátia foi fundamental em minha vida.

MaisPB – Aliás, você está destacada no álbum e Clipe “Bloco Rap Rio”, junto com Fernanda Abreu , B Negão e muitos mais…

Arícia Mess – Então, Fernanda me convidou para participar daquele encontro. Bacana, né?

MaisPB – Fale um pouco desse novo single Maria Bethânia, porque resolveu gravar esta música, qual o significado dela na sua vida e a importância do Caetano.

Arícia Mess – Bom, falar da importância de Caetano nem precisa, né? Nosso mestre da música brasileira. Um gênio. Um luxo para todos nós. Que bom ter tido acesso a essa obra na minha juventude. Então, um dia gravar uma canção dele seria inevitável porque sempre cantei suas canções. Mas a canção Maria Bethânia juntou várias coisas, o fato de estar fora do Brasil naquele momento das eleições de 2018 foi bastante duro, e essa música desde lá faz cada vez mais sentido em ser cantada nesse momento. Me parece que o mundo precisa dessa canção e dessa carta. Por favor, meus irmãos, me digam se as coisas estão melhorando, se vão melhorar para todos neste nosso pequeno planeta? Essa é uma mensagem para todos, não só no Brasil. Quando vai ser melhor? Então cantei essa canção em inglês para fazer chegar a mensagem mais longe… Convidei o Guilherme Held e o Carlos Trilha para produzirem essa faixa, mas dessa vez não quis produzir também. Queria ver como seria, esses dois são músicos maravilhosos e eu adoro o resultado.

Ouça aqui o single Maria Bethânia

MaisPB – Este single sai por um selo alemão. É difícil para um brasileiro na Europa conseguir apoio de selos, gravadoras? Conta sobre sua experiência.

Arícia Mess – Não sei… meu encontro com a KoroKoro não foi muito difícil, mas antes eu ia lançar por um outro label inglês e a pandemia mudou os planos de todo mundo. Enfim, talvez pelo fato de eu ter ficado um tempo pela Europa tenha facilitado, mas todo caminho é desafiador, exige perseverança e trabalho duro para chegar no grande público. Muito trabalho! Me dou muito bem com a Korokoro, é um selo dirigido por uma mulher e me sinto bem recebida e respeitada no trabalho. Isso já me faz ter paz e tranquilidade para seguir caminho.