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Ana Karla Lucena  é bacharela em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Servidora Pública no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. Mãe. Mulher. Observadora da vida.

Petrichor, lembranças, sensações, poesia

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publicado em 27/03/2023 às 07h00
atualizado em 26/03/2023 às 19h35

Quando elas começam a chegar, trazem consigo um cheiro específico. É o “petrichor”. Não sei definir ao certo com o quê se parece. É um cheiro de ar limpo… fresco, como de planta. Cheiro de terra molhada. Almiscarado. As pessoas têm pesquisado sobre esse cheiro, como ele surge e por que somos tão sensíveis a ele. Não me aprofundei no assunto, mas, pelo que andei lendo, reações químicas acontecem quando a terra seca recebe as primeiras gotas de chuva. Parece que a água, em contato com bactérias existentes no solo, produzem uma substância chamada geosmim e é o cheiro dela que sentimos depois de uma tempestade. Aliás, é graças a ela que, no deserto, camelos detectam a presença de água a quilômetros de distância. Viu? Fiz o dever de casa direitinho… rsrsrsrsrsrs… comecei pela parte científica, para não estragar o momento poético que vem a seguir.

Não sei te explicar o quão reconfortante esse cheiro é para mim. Mas, posso te dizer que sou tomada por memórias inesquecíveis. Sem dúvida nenhuma, é o meu cheiro predileto. Me traz memórias de aconchego, de afeto, de cuidado, de segurança. E como sou feliz por ter tais memórias…! O cheiro da chuva se misturando ao cheiro do café recém coado… do biscoito que o acompanharia… do calor que esquentava dentro de casa, enquanto lá fora estava tão frio. Cheiro de família. Cheiro de saudade.

Cheiros, assim como músicas e paisagens, são gatilhos de lembranças e sensações, ruins ou boas. Sem dúvida, algumas pessoas não têm boas lembranças de dias chuvosos: dias de clausura, ou tempestades destruidoras. Certamente, algumas têm lembranças ruins quando ouvem Love Me Tender, do Elvis: um amor não correspondido ou um amor que se foi. O pôr do sol pode trazer sensações desagradáveis para alguns: lembra que mais um dia se foi, que poucos restam, que a vida é fugaz. Particularmente, ouvir Clube da Esquina II gera em mim essa sensação, apesar de ser uma canção genial.

A poesia nos toca de maneiras diferentes e se manifesta no nosso coração a partir das nossas experiências de vida, mas, só o fato de enxergamos poesia num aroma, numa nota musical ou numa paisagem, já modifica o momento e o mundo ao nosso redor. Pensando bem, existe algo mais poético do que saber que nossa vida é perfumada por plantas e bactérias através do impacto das gotas de chuva caindo ao chão?

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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