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Titular em Letras Clássicas, professor de Língua Latina, Literatura Latina e Literatura Grega da UFPB. Escritor, é membro da Academia Paraibana de Letras. E-mail: [email protected]

Pelé Eterno

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publicado em 29/12/2022 às 18h19

Não vi Pelé jogar. Tive a oportunidade de ver, quando o Santos jogou aqui, em João Pessoa, no Estádio Olímpico, ocasião em que Pelé fez o seu 999º gol. Depois, para não fazer o milésimo, terminou a partida como goleiro. Como todos sabem, o milésimo gol Pelé fez contra o Vasco, no goleiro Andrada, de pênalti, no Maracanã, uma das suas casas prediletas.

Não vi Pelé jogar, mas assisti a todas as partidas da Copa do Mundo de 1970, como “televizinho” de seu Lôia, pai de Jorge Fura, com quem batíamos pelada no campinho da Vila do Motorista, hoje a feira de Jaguaribe. Todos queríamos ser Pelé, mas não havia menino que não fizesse o gol e não se ajoelhasse como Petras, o centroavante da Tchecoslováquia, depois de fazer o primeiro gol da partida contra o Brasil.

Copa das emocionantes, a do México, em 1970. Time dos melhores, cuja escalação conheço de cor e salteado – Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo, Clodoaldo, Gérson e Rivelino, Jairzinho, Tostão e Pelé.

O Brasil venceu as seis partidas – Tchecoslováquia (4×1), Inglaterra (1×0), Romênia (3×2), Peru (4×2), Uruguai (3×1) e Itália (4×1). Não apenas venceu. Venceu muito bem, sobretudo o apertadíssimo jogo com a Inglaterra. Jairzinho foi o nosso artilheiro, com sete gols, marcando em todos os jogos, sendo dois no primeiro contra a Tchecoslováquia.

Pelé, na voz do locutor, salvo engano, Geraldo José, era “O Deus de todos os Estádios”. Jogou naquela Copa o que nenhum jogador foi capaz de jogar, porque esteve em campo durante todo o tempo, nos seis jogos, marcou quatro gols, dando passes, comandando o time.

Seus gols, na Copa de 70, foram memoráveis. Os não-gols ainda mais. O chute do meio do campo contra a Tchecoslováquia, que fez o goleiro Viktor sair correndo como um louco à procura de evitar o gol; a cabeçada contra Banks, o excelente goleiro da Inglaterra, cabeceando para o chão, defendida com esforço supremo, depois do quique da bola; o drible de corpo em Mazurkiewicz, goleiro do Uruguai, que o deixou, como se diz na gíria, sem pai nem mãe.

O mais notável, porém, era a sua atuação, mostrando-se senhor absoluto do que acontecia em campo. Há gol mais trabalhado e mais bonito, com o passe de bandeja de Pelé para Carlos Alberto, na final da Copa, fechando o placar com a histórica goleada de 4×1, contra a Itália, a poderosa Squadra Azzurra?

Contra aquele Uruguai, que começou ganhando de 1×0 e terminou perdendo de 3×1, jogo dos mais catimbados, Pelé mostrou como se revida a agressão em campo, sem perder a realeza, numa disputa de bola pelo lado esquerdo do campo, dando uma cotovelada no jogador uruguaio, que já havia batido nele antes. Nem o juiz se deu conta.

Não vi Pelé jogar, apesar de, naquele momento de criança, vê-lo como meu ídolo. Guardei o dinheiro que meu pai me deu. Não me arrependo. Se tivesse ido, talvez naão me tivesse encantado com as jogadas mágicas desse craque inigualável, nos momentos inesquecíveis da Copa do Mundo de 1970, cujas partidas continuam gravadas nas minhas retinas, agora, fatigadas.

Pelé é eterno. Está só descansando espírito, para voltar ainda melhor. Requiescat in pace, Rex!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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