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Poeta, escritor e professor da UFPB. Membro da Academia Paraibana de Letras. E-mail: [email protected]

Fobias

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publicado em 07/12/2022 às 07h00
atualizado em 06/12/2022 às 17h07

“Todas as fobias são sintomas de atraso”, afirma meu lúcido e ex colega de Departamento na UFPB, professor Cláudio Paiva, num de seus pertinentes artigos para o extinto semanário, Contraponto.

É claro que o mestre tem toda razão, se restringirmos nosso pensamento ao vil território dos preconceitos sociais e aos limites estreitos de nossa condição antropológica.

O apuramento ético do ser humana e a sua condição ontológica de liberdade exigem a convivência harmônica com as diferenças, o intercâmbio essencial com a figura do outro, mesmo que esse outro seja o inferno, como dizia Sartre.

Por outro lado, o mundo é vasto, muito mais vasto do que o meu coração, lembra-me um velho poema de Carlos Drummond de Andrade, e o sol nasceu para todos, nos ensina, ainda, a sabedoria popular.

Portanto, as desigualdades não nascem da ordem natural. Brotam das armadilhas culturais que os homens ensejam na luta histórica pelo poder. Poder que se materializa no bojo das relações sociais, seja em âmbito estatal, seja em setores da sociedade civil.

E há poderes, tantos poderes!

Político, econômico, cultural, religioso, genérico, racial, pedagógico, esportivo, psicológico. Enfim, poderes que se entranham nos interstícios sociais e nas amorfas formas de vida da esfera cotidiana.

Se tais poderes geram as múltiplas desigualdades, a violência, a intolerância, não justificam, contudo, o ódio às diferenças, porque as diferenças, me parece, são naturais, inevitáveis. Eu diria: até bem vindas!

De outra parte, o reconhecimento e a aceitação da diferença não implica necessariamente que toda fobia seja sintoma de atraso, conforme assinala meu ilustre e sábio colega.

Eu, por exemplo, não me sinto perfeito enquanto ser humano, pois possuo carências, lacunas, defeitos, pequenezas. Penso, como qualquer filho de Deus e do diabo. Também sou vítima de diversas fobias, e nem por isso me considero sintoma de atraso.

Tenho, entre outras fobias, claustrofobia, acrofobia, agorafobia, gatofobia, chatofobia, transitofobia, corruptofobia, calhardofobia, mentirofobia, sinecurofobia, capachofobia, burrofobia, imbecilfobia, evangelofobia, vascofobia, datashowfobia (esta, só quando se quer substituta da aula e do professor), e não sinto a menor vontade de me curar de nenhuma delas. Em certos casos, a doença é melhor que a saúde e nem toda diferença deve ser aceitável.

Talvez alguém considere meu ponto de vista politicamente incorreto. Estou pouco me lixando para o politicamente correto. Apenas assumo, quero crer, minha saudável insalubridade como sintoma de progresso.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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