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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Muitíssimo único

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publicado em 14/08/2022 às 09h56
Antigamente, quando eu era pequeno, achava bonito, muito bonito, pai e filho andando juntos, certamente porque eu tive um bom pai, o cara que me ensinou a ler.
No sertão, não que eu me lembre ter de visto, pai e mãe andando segurando na mão dos filhos. Talvez porque naquele tempo, não existia sinal fechado, os carros eram Jeeps antigos, Rurais e as velhas Kombis, que nos levavam para Cajazeiras, e bem mais tarde, os ônibus da “Andorinha”. Ou seja, não havia como uma criança se perder numa calçada, já que todo mundo se conhecia.
Pai é uma palavra luminosa, que a gente se utiliza comumente para definir o homem da nossa vida. Essa definição é minha, não precisa ninguém me acompanhar.
Antigamente, eu pensava que me casaria mesmo que fosse com uma mulher que não amasse, para entender a experiência de marido e mulher, engendrar uma nova pessoa e torná-la gente. No entanto, demorei a casar ou já estava junto com Francis e só precisou oficializar. #1993.
Um filho traz consigo coisas nossas, algum gesto, “a cara da mãe”, o bom caráter. Não que o filho tenha que ser igual ao pai. Claro que não.
Lembro que em março de 2007, escrevi uma carta para Dona Canô, falando do centenário dela, da importância dos seus filhos Caetano Veloso e Maria Bethânia para a cultura brasileira e falei que eu tinha um filho de seis anos, chamado Vítor.
Dona Canô me respondeu dizendo que desejava “boa sorte e que meu filho se tornasse um homem de bem”. Aquilo foi forte. Essas histórias são apenas registros, incluídas na minha vida, até porque eu não sei se na Paraíba alguém tem uma carta escrita por Dona Canô.
Durante muito tempo – com 8 anos de casamento, na primeira tentativa, deu errado, alarme falso, mas no segundo teste veio a confirmação que íamos ser pais. Naquela noite, liguei para várias pessoas dizendo: estou feliz, eu vou ser pai.
No dia em que o médico Roberto Ney me chamou e disse: “venha olhar a carinha de seu filho ( no ultrassom) ”, uma luz intensa e eu já sabia que era um menino, chorei e lembrei de meu pai. Queria muito que ele tivesse conhecido meu filho, o único neto que ele não botou nos braços.
Assim, esse amor que trago comigo, que é uma concepção de mundo, o Vítor das descobertas dessa civilização confusa, onde amigo bloqueia amigo, onde a competição é mais feroz, o Vítor que me ensina coisas da tecnologia, que me beija, um rapaz bonito, que ressalta a importância das suas sacadas, que sabe dirigir, que me leva para os lugares, o Vítor por quem eu tenho muito amor e consideração.
O Vítor apaixonado por uma garota chamada Sara – e me parecem felizes, como eram os incas, maias, astecas e chineses. Eu digo sempre: tenha cuidado, a predominância do mal está nas ruas, não ande em velocidade, estude, leia, para amanhã você ter um filho e saber dessa experiência tão valiosa, que é ser pai.
Hoje sou um homem velho, com as lembranças de pai e mãe, de um tempo em que haviam sopas, tapiocas e calçadas e tenho um íntimo pressentimento de que vou bem mais, quem sabe, serei o vovô K.
Kapetadas
1 – No fundo no fundo o que faz a vida feliz é fazer feliz as pessoas que nos fazem felizes. Aliás, ser feliz deveria ser um pleonasmo.
2 – Não parece, mas o dia de hoje também faz parte da longevidade.
3 – Som, na caixa: “Na vida é preciso aprender/se colhe o bem que plantar/é Deus quem aponta a estrela que tem que brilhar”, de Alexandre Assis / Carlos Rodrigues / Gilson Bernini

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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