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MaisPB Entrevista

Alfredo Del Penho, João Cavalcanti, Moyseis Marques e Pedro Miranda apresentam “Desengaiola”

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publicado em 14/05/2022 às 12h01
atualizado em 14/05/2022 às 16h00

Kubitschek Pinheiro MaisPB

Fotos – André Rola

Neste sábado, em Natal, (cidade vizinha de João Pessoa) vai acontecer o show “Desengaiola”, do quarteto de músicos e compositores cariocas, Alfredo Del Penho, João Cavalcanti, Moyseis Marques e Pedro Miranda. Será no Festival Ribeira Boêmia, que está completando 10 anos com 10 horas de muito samba. A cantora Maria Rita também estará no Festival com o show “Samba da Maria”.

O evento será no Pavilhão Nísia Floresta do Centro de Convenções e contará com vista para o mar, numa área 100% coberta e climatizada, dois palcos, estacionamento gratuito e mesas e cadeiras disponibilizadas por ordem de chegada. Os ingressos ainda podem ser adquiridos no  site Outgo .

Os quatro, a Lapa e o disco Desengaiola

Há mais de 20 anos, Alfredo Del-Penho, João Cavalcanti, Moyseis Marques e Pedro Miranda se empenharam no processo de reocupação e revitalização cultural da Lapa, bairro boêmio no centro do Rio de Janeiro, com atuação em casas noturnas, apresentação e rodas de samba e criação de projetos. A admiração mútua e a afinidade artística os levaram a uma intensa parceria musical. Faltava esse gol, que marcasse a união – aí nasceu a ideia de álbum visual “Desengaiola”, que está em todas as plataformas.

Durante a quarentena eles se juntaram com as famílias e se isolaram em Paty do Alferes, na região serrana fluminense, e fizeram o registro de “Desengaiola”, em álbum audiovisual com 18 canções. Captado com som direto, produção de João Cavalcanti e Pedro Luís, tem direção de Eduardo Hunter Moura. A realização é uma parceria da MPB Discos e Som Livre.

O repertório traz na abertura “Alameda Palmares”, que tem a assinatura dos quatro. O mesmo ocorre em “Luz do Meu Terreiro”. João Cavalcanti é coautor de seis composições, sendo parceiro de Alfredo Del-Penho em “Diplomata” e “Pra Quem Quiser Escutar”; de Moyseis Marques em “Encanto”, “Nada não” e “Nem Misturado Nem Junto”.

Alfredo Del-Penho divide parceria também com Moyseis Marques (Rosa Canção e Boas intenções), Pedro Miranda (Desengaiola) e Chico César (Fuzuê). Moyseis Marques fez sozinho Poeta é outro lance e tem como parceiros Pedro Miranda (Meu pecado e sorrir), Teresa Cristina (Gatilho). Já Pedro Miranda compôs “Vontade de sorrir” com Cristovão Bastos.

As faixas complementares são “Puro ouro” (Joyce Moreno) e Alagados (Herbert Viana, Bi Ribeiro e João Barone), lançada inicialmente em single.

O MaisPB conversou com Alfredo Del-Penho, João Cavalcanti, Moyseis Marques e Pedro Miranda que trazem pra gente os detalhes desse projeto que deverá passar por João Pessoa e Recife, terra onde nasceu o pai de João, o consagrado Lenine.

João Cavalcanti

MaisPB – Surgiu primeiro o filme, depois o disco?

João Cavalcanti – Primeiro a vontade da gente ter um registro, uma pedra fundamental desta parceria, porque nós somos amigos há muito tempo e não tínhamos um registro formal, do quarteto.

MaisPB – Mas isso foi rolando, disco, filme, alegrias…

João Cavalcanti – Sim, a gente achava que tinha já muito tempo. E aí estávamos nesse lugar em que foi filmado (Palmares, um pequeno Distrito do Rio)) quando pensamos: temos que filmar e produzir aqui. Como era pandemia, estava suscetível a se emocionar e tinha que ser algo visual.

MaisPB – Ninguém segura mais o quarteto, né João?

João Cavalcanti – Embora seja um trabalho de samba, praticamente de samba, em que o samba é central, o meu disco de referência para esse trabalho é o Cantoria ( Elomar, Geraldo Azevedo, Vital Farias e Xangai, 1984) São quatro artistas com personalidades diferentes, embora tenham interseções muito importantes, que se juntam num desejo de cria um repertório comum dos quatro. A busca da gente era que cada um em nenhum momento estivesse escolhendo suas músicas. Tem canções como “Rosa Canção” (de Moyseis com Alfredo), a gente canta e incorpora.

MaisPB– Um excelente repertório, não é?

João Cavalcanti – Sim, esse repertório é como se nós nos apropriarmos dele coletivamente. É o que tem a ver com Cantoria, nesse sentido. O grande barato é que se a gente quiser fazer outro, uma segunda parte como “Cantoria” teve, a gente fará.

MaisPB – Inclusive, tem canções que já tinham sido apresentadas…

João Cavalcanti – Sim.

MaisPB – Vamos falar da 17ª faixa “Gatilho”, uma canção bonita, de Moyseis e Teresa Cristina?

João Cavalcanti – Foi uma das últimas músicas a entrar no disco, a preferência que estava sendo seguida era gravar canções que tivessem sido compostas por dois de nós. No disco, temos muitas parcerias nossas, mas é linda essa canção “Gatilho” Estávamos lá com Pedro Luís, uma referência. Quando fomos pra serra, durante as locações, teve um dia em que Moyseis cantou e tocou Gatilho no cavaquinho e na hora decidimos: essa música tem que entrar.

MaisPB – E “Alagados”, a interpretarão de vocês…

João Cavalcanti – Eu acho que o “Alagados” tem um negócio assim, como a gravação basilar do Paralamas, é maravilhosa, irretocável. A letra dessa música é muito boa e a gente faz uma roupagem bem focada na letra. Já tínhamos tocado essa canção, na formação do “Segunda Lapa”, em 2012, quando montamos esse show.

MaisPB – É muito interessante quando vocês quatro assumem Alagados, que o Paralamas lançou em 1986, a canção faz um relato da dura realidade da vida nas favelas brasileiras, mais especificamente nas cariocas, que tem um verso forte “a cidade que tem braços abertos num cartão-postal”…

João Cavalcanti – Tem todo momento simbólico para esse tempo em que estávamos vivendo na pandemia. A canção é muito bonita, dá vontade de cantar sempre.

MaisPB – A canção que dá nome ao disco “Desengaiola”, é de 2018, né?

João Cavalcanti – Sim. Mas na verdade, com o trabalho gravado, a gente começou a procurar nomes possíveis no conjunto de canções. Acho que esse termo, “desengaiola”, foi eu que batizei, e falei pra ele, “desengaiola aí”, Pedrinho (Ele de nós quatro é o compositor mais recente, não compunha muito até pouco tempo, de 4 a 5 anos pra cá. E essa música foi arrebatadora desde o início, tem uma letra muito feliz e a melodia também, do Aldredo.

MaisPB – A segunda faixa, “Luz de Meu Terreiro”, é outro achado e tem a cara das canções de Paulinho da Viola…

João Cavalcanti – Isso. Mas é a nossa base, nosso alicerce. Paulinho (da Viola) sem dúvida nenhuma, é o veículo dessa tradição do samba que vai se modificando aos poucos. Quando a gente faz uma música, querendo ou não, é para agradar ao Paulinho (da Viola), querendo que ele escute e goste.

MaisPB – Vocês mandaram a canção para ele?

João Cavalcanti – Paulinho (da Viola) não tem WhatsApp, tem outro de jeito de chegar. Eu sou amigo do João, Joca e Pedro, filhos dele.

MaisPB – “Fuzuê” tem Chico César, né?

João Cavalcanti -Fui ficando muito fã de Chico, gosto dele não só como compositor. O disco “Aos Vivos” me arrebatou. Eu digo sempre: a minha geração, em alguma medida, sobre a geração de classe média urbana do Rio e São Paulo, ela é formada por música estrangeira, mas eu gosto muito do som de Chico César, do som de meu pai também. (Lenine)

MaisPB – Tem visto sempre seu pai, Lenine?

João Cavalcanti – Vejo sempre, a pandemia nos afastou, mas já estamos juntos.

Alfredo Del-Penho

MaisPB – Esse álbum e o filme, uniu vocês mais ainda. Vamos falar da construção?

Alfredo Del-Penho – A construção se deu a partir do que já tínhamos vivido juntos. Escolhemos o repertório a partir de nossas parcerias e buscamos fazer os arranjos coletivamente a partir da nossa maneira de olhar para aquelas músicas, no sentido de cada um tocar e cantar como se fosse sua.

MaisPB – Seria o bom fruto da pandemia, o encontro mais demorado e produtivo?

Alfredo Del-Penho – É difícil dizer que um momento tão trágico pode ter algo de bom, mas certamente o fato de não estarmos trabalhando permitiu esse encontro com mais tempo.

MaisPB – A última faixa do disco “Fuzuê”, é sua e do paraibano Chico César. Fala aí pra gente quando foi feita essa canção e da parceria com Chico?

Alfredo Del-Penho – Na canção “Fuzuê” eu fiz a melodia e o Chico a letra. Eu comecei a fazer a melodia a partir da desconstrução da forma do verso do martelo agalopado e depois deixei fluir a inspiração. Nesse caso, veio a partir de uma música toda sincopada. O Chico fez a letra próximo à gravação, e quando eu apresentei pros colegas eles abraçaram a música para o projeto.

MaisPB – Aliás, “Desengaiola” começou pelo volume das parcerias?

Alfredo Del-Penho – Desengaiola começou quando começamos a tocar entre nós em duplas, trios e quarteto. A partir disso, fomos naturalmente fazendo parcerias – e, ao decidir pelo registro, percebemos que tínhamos em conjunto muitas músicas, o que nos trouxe ainda mais alegria.

MaisPB – De quem foi a ideia do audiovisual e como você viu o resultado do trabalho de João, Pedro Luís e Eduardo Hunter Moura?

Alfredo Del-Penho – Não me lembro de quem foi a ideia, mas fiquei muito feliz com o resultado. Foram fundamentais as participações do João, do Pedro Luís, do Hunter e do Pedro Miranda, que também é um grande estruturador.

MaisPB – “Alameda Palmares” parece um hino, né?

Alfredo Del-Penho – Alameda é muito importante pra gente. Fala sobre aquele momento. A feitura da música em si é o resumo da nossa relação, criamos na hora, juntos, coletivamente, inspirados pelo nosso amor, pela nossa música e nossa gente.

Moyseis Marques

MaisPB – Sua voz cresce a cada trabalho, tem uma presença muito forte. Vamos falar dessa celebração em Desengaiola?

Moyseis Marques – Agradeço o elogio, realmente acho que o tempo só nos fez bem. Curiosamente, esse trabalho foi o que eu cantei mais despreocupado, mais relaxado, uma vez que o encontro entre nós para dar voz a essas canções é mais importante que qualquer protagonismo ou apuro técnico. Cantei com a voz que eu tinha à época, surrada da pandemia e chorosa por consequência. Como se vê, não há truques, (disse rindo)

MaisPB – “Gatilho”, é uma canção forte, sua e de Teresa Cristina. Como aconteceu?

Moyseis Marques – “Gatilho” é algo que desperta em você um sentimento, seja ele qual for. Foi uma expressão muito usada no “chat” das lives, sobretudo as da Teresa Cristina. Toda vez que eu entrava na live dela, ela dizia: “Lá vem você despertar esses gatilhos em nós, vou até abrir uma cerveja” . Como já existia um desejo mútuo de uma parceria, fiquei com isso na cabeça e fiz uma primeira, que ela me devolveu no dia seguinte. Não ia entrar no álbum, mas quando o Pedro (Luís) ouviu, disse que não podia ficar de fora de jeito nenhum. Acho que foi uma decisão acertada.

MaisPB – “Alagados” do Paralamas, impressiona a maneira como vocês interpretam. A canção na voz de vocês chega mais calma e vai crescendo, né…

Moyseis Marques – A letra, infelizmente, continua atual. Acho que o arranjo que a gente fez valoriza mais ainda a triste poesia ali retratada. É muito comum a poesia ser diluída pelo clima de festa e euforia. No samba, cantamos essas tristezas de braços abertos, a plenos pulmões, como um grito de alívio e agonia. É quase um exorcismo, a manifestação de uma fé persistente. Só não se sabe fé em quê.

MaisPB – Vocês já estão na estrada. Neste sábado (14) vão cantar em Natal. Seria bom que viessem a João Pessoa, Recife, escambau?

Moyseis Marques – Queremos levar esse trabalho para todos lugares possíveis. O fato de sermos músicos-artistas-autores favorece o translado, uma vez que nós mesmos damos conta de toda a instrumentação necessária para que o recado seja dado. Também consideramos um corte geracional interessante, uma vez que nossos parceiros e influências, novas e antigas, moram em nós, em nossas vozes, nas nossas composições.

MaisPB –  A canção “Rosa Canção” reflete no do espetáculo “Rosa de Ouro” criado e produzido por Hermínio Bello de Carvalho, dirigido por Kléber Santos, no Teatro Jovem, no Rio de Janeiro em 1965, envolvendo grandes artistas como Aracy Cortes,  Clementina de Jesus, Paulinho da Viola… Fala aí?

Moyséis Marques – Universos e texturas complementares estão presentes no “Rosa de Ouro”, espetáculo – referência para qualquer sambista que tenha juízo. Quando digo “Um timoneiro apitou” , me refiro a Herminio Bello de Carvalho, que além de apresentar Clementina de Jesus para o grande público (algo diferente de tudo que havia se visto), juntava Paulinho da Viola, Aracy Côrtes, Anescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho, Nelson Sargento e Elton Medeiros no mesmo projeto, numa força poética descomunal e definitiva para a formação de qualquer sambista. Fiz essa letra por encomenda do Alfredo Del-Penho, para os 50 anos do “Rosa”, completados em 2015. A gente canta em uníssono com muita alegria, e dá uma onda despretensiosa de conjunto vocal antigo. É nostálgico e moderno ao mesmo tempo, pois aponta para um futuro que desejamos: “Cheira, aflora, revigora a minha vida”.

Pedro Miranda

MaisPB – Um disco com 18 canções é tão raro hoje em dia, né?

Pedro Miranda – É raro, mas esse álbum é o subproduto de um projeto audiovisual com ainda algumas injeções documentais, que não estão no disco, mostrando todo o processo, dos ensaios às gravações em um sítio na serra fluminense durante a pandemia. Um filme sobre música, criação, reencontro e amizade, com pouco mais de uma hora de duração, que passa voando pra quem desengaiola e se deixa levar.

MaisPB – Depois que tudo ficou pronto, filme e disco, deu uma sensação de sair mostrando esse shows para o Brasil todo, né?

Pedro Miranda – Agora é muita vontade de fazer isso mesmo! E Natal será a primeira cidade depois do Rio, que é a nossa casa.

MaisPB – Como você se uniu ao grupo, desde quando estão juntos?

Pedro Miranda – Eu já tinha um grupo com o Alfredo, o Samba de Fato. Nós quatro já nos paqueravamos há algum tempo, mas nos reunimos para fazer um show pela primeira vez em 2012 – há exatamente dez anos, com o nome de coletivo “Segunda Lapa”.

Confere aqui o clipe de “Gatilho”

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