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Professora Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP]. E-mail: [email protected]

O símbolo do amor

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publicado em 24/03/2022 às 16h09

  O processo civilizatório cria símbolos para dar significado a coisas, a objetos, a fatos e a acontecimentos. É a imagem usada na comunicação silenciosa de expressar e interpretar os fenômenos da vida passada e presente.

Dizem a respeito de mitos, crenças, situações ou ideias, sendo umas das formas de representação da realidade. Os símbolos existem desde que surgiu o homem na Terra. Isto se pode comprovar com as pinturas rupestres remanescentes dos homens primitivos, onde cada povo demonstra a sua cultura. Os estudiosos Cornelius Castoriadis (1982) e Gilbert Durand (1998) dizem: “é através da representação simbólica que nos apropriamos do mundo.” As religiões possuem seus símbolos, como a umbanda, na simbologia de Exu, o orixá que representa a comunicação entre dois mundos, o espiritual e o material.

Os países possuem seus símbolos, as profissões etc.  Na área da simbologia os antropólogos estudam os símbolos procurando entender as formações estruturais daquilo que foi feito pela humanidade. O que foi produzido pelo homem: a linguagem, a cultura e a ciência, a intelectualidade e o conhecimento racional. Um símbolo, por outro lado, é a representação sensorial de uma ideia que guarda um vínculo convencional e arbitrário com o seu objeto.

Fiz este preâmbulo para falar da aliança que é o anel que usamos como símbolo de amor e união entre duas pessoas que se amam. Tradição milenar existente entre gregos e romanos. Sua origem vem da cultura hindu que usava o anel para simbolizar o casamento. A igreja cristã a adotou a partir do século IX como um símbolo de união, compromisso, cumplicidade, fidelidade e eternidade. Em torno da aliança há todo um significado e costumes como: deve ser de ouro, metal nobre, por representar coisa valiosa; usar no dedo anelar da mão esquerda porque os egípcios acreditavam que possuía uma veia especial ligada diretamente  ao coração;  materializar voto de amor que deve ser compartilhado pelos cônjuges; lembrar as promessas feitas; demonstrar fidelidade e seriedade um para com o outro, por isso deverá ser usada no dia a dia; pacto de amor entre as duas partes; é um circulo que indica sinal de paz e reconciliação, que não tem nem meio e fim, representa a vida eterna e o amor imortal.

Na Bíblia, Gênesis 9:16, o arco íris é sinal da aliança eterna entre Deus e os seres vivos. Ao vermos o arco íris recordamos a aliança que Deus fez por piedade ao seu povo.

Fui criada dentro da tradição. Namorei e durante esse tempo recebi do namorado, hoje meu esposo, uma aliança de platina e brilhante que na época representava o compromisso de o homem ter “boas intenções” com a moça, pois queria dizer da seriedade do seu sentimento para com ela. Com um ano e meio de namoro, noivei e aí recebi a aliança de ouro, para isto foi realizada uma conversa com meus pais para pedir o consentimento e firmar perante eles nosso sentimento e marcar o casamento, há 52 anos. Com relação a aliança, numa viagem à Europa, hospedada no Hotel Mayorazgo, em Madri, lavando as mãos a aliança caiu no esgoto da pia, de boca larga, sem ralo, passou direto.

Chorei, fiquei preocupada, Itapuan dizia: “Bobagem, eu lhe dou outra”. Havia uma superstição com a aliança perdida: um dos cônjuges morre, ou o casamento se acaba. É mau presságio. E parecia coincidência. Conheci duas pessoas, e isto aconteceu, uma passou casada, depois da perda, um mês, e a outra 20 dias. Corri na recepção do Hotel e falei do ocorrido ao gerente que chamou o encanador responsável pela instalação hidráulica. Ele tranquilizou-me, ao informar que no hotel havia uma caixa de descanso que retinha material e ele ia achar. Prometi uma gratificação. No outro dia (pela manhã) o funcionário entregou-me a aliança.  Outro episódio ocorreu nesta semana. Ultimamente, perdi peso e a aliança ficou folgada, mas não dei muita importância. A tarde sai e quando voltei vi que estava sem a aliança. Angustiei-me, mas fui fazer um retrospecto por onde eu andara e comecei a procurar. Vi que estava dentro da piscina, aí foi fácil reaver.

Fiquei feliz com o achado. Vejam! uma joia tão simples representar tanto para mim. Ela acompanha-me nesses anos todos, foi testemunha dos meus sonhos, do nascimento dos meus filhos, de sua evolução, de minha realização como mulher e profissional, de meus momentos felizes e dos acontecimentos tristes que representaram perdas importantes na minha vida.  Para mim ela é a síntese de toda essa história que faz parte da minha linha do tempo. Estar de novo com ela é como se eu carregasse todo o sentimento vivido. Por essa razão quis compartilhar o acontecido com meu leitor.

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