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Ana Karla Lucena  é bacharela em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Servidora Pública no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. Mãe. Mulher. Observadora da vida.

Catarse à beira-mar

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publicado em 14/02/2022 às 07h08

 

Ela, finalmente, conseguiu vencer mais uma dia. Por um momento, achou que isso não seria possível, mesmo enfrentando a mesma rotina todos os dias, mesmo sabendo que, no final, tudo vai dar certo. O “achar que não vai conseguir hoje” é um pensamento recorrente.

O cansaço físico não a incomoda mais. Uma certa “dormência” apossou-se dos seus músculos, ossos e nervos! Pode-se dizer que um modo automático está em “on”. Ahhhh… ela aguenta o tranco! 

Mas existe um outro cansaço, o mental. É ele que a faz ter pensamentos diários de fracasso. 

Sim, ela tem filhos! A coroa na vida de qualquer mulher. As flechas nas mãos do guerreiro. Ela os tem e os ama. Sente falta quando não estão por perto e sente culpa por se sentir aliviada quando estão longe. Tão dual esse sentimento! A culpa materna que nasce, quando nasce uma mãe.

Algumas tem o privilégio de dividir a “carga”. De ser apenas mãe. Assim, sua responsabilidade agora, é só ser mulher e profissional. Como se isso já não fosse exuberantemente difícil!

Outras, não. Ela não! Ela também é pai. Ela é professora. Ela é espelho.

Por vezes ela se olha e já não enxerga o seu lado mulher. E, nesse mundo machista, ela não pode sequer sonhar em ter uma vida amorosa, afinal, ela teria que estar sempre disponível, coisa que sua jornada materna não permitiria. Coisa que o lado oposto da relação não entenderia. Porque os seus filhos a impediriam de viajar, de fazer aquela trilha, aquele pedal “massa”, aquela viagem romântica de volta ao mundo, aquele jantar à luz de velas no meio da semana. Como se o seu estado civil não estivesse conectado ao seu lado mãe. Como se não fosse parte de um todo.

Porém, outro dia, à beira do mar, sua contemplação favorita, e como que numa catarse, ela olhou de volta para si e se enxergou. Parece que a última onda levou embora, silenciosamente, amarguras, decepções, medos. Devolveu-lhe a autoestima e o rugido da leoa há tempos represados na garganta. Ela conheceu e apossou-se novamente do seu valor e o quão prazeiroso é ter a si mesma. Possuir-se. Ter e escolher o que lhe convém. O que cabe e o que é leve para sua vida. Ela se viu, viu a sua força, e viu que era uma força intrínseca, inata, totalmente desvinculada de quem quer que seja. E se amou e permitiu admirar-se.

Afinal, cada uma sabe a dor e a delícia de ser a mulher que é.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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