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Clara Velloso Borges é escritora, professora de literatura e mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]

 

Nós somos o que lemos

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publicado em 31/12/2021 às 08h42
atualizado em 31/12/2021 às 05h45

Em um de seus mais famosos contos, O Fantasma de Canterville, Oscar Wilde arquiteta uma casa mal assombrada na Inglaterra, para onde uma família estadunidense se muda. O fantasma, então, passa a perturbar a família, que, surpreendentemente, não se importa. Após aplicar as mais assustadoras técnicas de seus dons fantasmagóricos e não surtir efeito, o fantasma é vencido pelo cansaço e desiste de importunar os novos moradores.

No mundo convencional, alguns dos fantasmas de 2021 não foram vencidos pelo cansaço, como a pandemia de Covid-19 e problemas ambientais. Sequer foram vencidos ainda, mas a contenção de danos executada necessitou de esforços tão extraordinários que poderiam ser sobrenaturais, como os do fantasma de Canterville, mas foram essencialmente humanos.

Diante de uma humanidade que precisou, a contragosto, afastar-se de sua natureza gregária para praticar o distanciamento social, a Literatura virou um refúgio. O crescimento do hábito da leitura nos brasileiros é quantitativo: aproximadamente 50 milhões de livros foram vendidos no Brasil em 2021, quase 12 milhões a mais do que em 2020, ano em que a pandemia impôs medidas inflexíveis. De certo modo, nós somos o que lemos, conhecemos e experimentamos. Então, como nos apropriamos das narrativas, pudemos experimentar muitas vidas em 2021.

Torto Arado, de Itamar Vieira Jr., liderou a lista de mais vendidos, e possibilitou a vivência de um realismo mágico nordestino, acompanhada por duas irmãs de personalidade forte. 1984, obra de George Orwell, (foto) que entrou em domínio público e ganhou inúmeras edições, fez com que inúmeros leitores se sentissem vigiados. Os sete maridos de Evelyn Hugo nos transportou para uma Hollywood antiga, repleta de luxo e segredos. Sem contar com as estantes individuais, leituras que não constam nas listas de best sellers, mas ocuparam um lugar cativo em nosso pódio anual.

Que venha 2022, com a esperança de que possamos ser e ler quem quisermos. Feliz ano novo.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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