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É formado em Direito pela UFPB e exerce funções dedicadas à Cultura desde o ano de 1999. Trabalhou com teatro e produção nas diversas áreas da Cultura, tendo realizado trabalhos importantes com nomes bastante conhecidos, tais como, Dercy Golcalves, Maria Bethania, Bibi Ferreira, Gal Costa, Elisa Lucinda, Nelson Sargento, Beth Carvalho, Beth Goulart, Alcione, Maria Gadu, Marina Lima, Angela Maria, Michel Bercovitch, Domingos de Oliveira e Dzi Croquettes. Dedica-se ao projeto “100 Crônicas” tendo publicado 100 Crônicas de Pandemia, em 2020, e lancará em breve seu mais recente título: 100 Crônicas da Segunda Onda.

Todos perdem o juízo…

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publicado em 20/11/2021 às 18h12
Tudo começa com um telefonema do Matheus pedindo para que não nos atrasássemos e que às 5h da manhã tínhamos que obrigatoriamente estarmos de pé! Não deu outra, a trupe estava lá às 5h01 despertos. O motivo? Sermos os primeiros a chegar na festa e, consequentemente, termos acesso garantido aos melhores lugares para nossas cadeiras. Sim, cadeiras de praia são super úteis nas “raves”, pois assistimos meio que de camarote todas as apresentações dos deejays e performances circenses de artistas.
Rave é palavra da língua inglesa e significa delírio, um evento festivo dançante de longa duração (normalmente acima de 12 horas) é dominada por música eletrônica, que ocorre longe dos centros urbanos (sítios ou galpões). Nosso delírio coletivo duraria 22h. Já nos primórdios, sentado na tenda principal quase front, comecei a perceber sensações de outrora, quando frequentava as famosas raves delirium do Rio de Janeiro, acho que o ano era 2006.
O evento começou a tomar forma, as pessoas foram chegando, todas falavam comigo quando passavam com suas makes diversas, suas roupas coloridas, seus alguns peitos nus, tanto de homem quanto mulher, óculos de sol obrigatórios, muito protetor solar, fantasias incríveis de temas infantis, a que mais interagiu comigo foi uma chapeuzinho vermelho, tava linda de capa e capuz encarnado aveludado, era meio rapunzel, pois tinha tranças enormemente loiras. Chapeuzinho estava distribuindo doces e balas, nesse caso eu seria o vovozinho da rave, que de tanto ela insistir, aceitei os seus caprichos.
Ali a festa começou a pegar fogo, não sei se foi o excesso do açúcar cristal que a chapeuzinho me havia colocado na minha boca ou porque passava de meio-dia e a tenda estava literalmente fritando, assim como eu. Mas notei também que não era somente eu, estavam todos no mesmo delito, ops, delírio coletivo. Da nossa turma original só restava minha pessoa; os meninos vinham e voltavam cada vez mais suados ao ritmo alucinante da música também alucinógena. E cada vez chegava mais gente, mais corpos, mais personagens da Marvel, mais amigos de outros estados e já estava na hora do por do sol… como assim já vai escurecer? O acesso aos bares já começava a ser torturante, a passagem entre as cadeiras e mochilas comecava a virar trilha, pois tinha microrregião, como a oeste que já tinha monte formado por mochilas.
Todos perdem o juízo, mas impressionantemente, ninguém perde a mochila e ninguém mexe nelas, porque em rave somos todos livres, todos irmãos, todos iguais na diferença e tudo do outro é ofertado ao próximo, vide a chapeuzinho maldita ou bendita, que encontrei novamente, lá pras 21h, dessa vez sem capa e sedutora pulando aquela dança tipicamente reiviana que nunca aprendi. Chapeuzinho tem nome, é Luana, médica, pediatra, ficamos mais que amigos, trocamos ideias e todas as redes do Zuckerberg até que foi me dando um cansaço extremo, acho que o movimento da chapeuzinho, estava me hipnotizando, bateu uma malemolência giga, e fugi para a auspiciosa tenda, que dessa vez, não estava fácil não, os montes viraram dunas, as pessoas também cresceram, e foi complicado passar por entre os vários clones de Thor, He-Man, e incríveis Hulks, incríveis mesmo.
Ao chegar no canto prodigioso, tentei colocar minha cabeça na cadeira pra dormir, mas não tinha notado que a música estava mais alta, as luzes triplicaram e as pessoas falavam gritando, o que impossibilitou o sono. Peguei minha mochila, retirei as bananas, que chegaram verdes e naquele surto de calor e abafamentos por entre as montanhas estavam pretas, assim como a meleca do meu nariz.
E dali parti para uma area “lounge”, melhor chamá-la de área longe mesmo, chegando lá, a mochila virou travesseiro e começaram a surgir estrelas na minha mente, dormia e acordava de um sono de criança que não quer levantar pra ir na escola, assim que tinha esse leve despertar, lá pras 2h da madruga, via lá de longe a chapeuzinho pulando feito uma canguru, acho que já havia consumido todas as guloseimas, pois estava em puro ‘ecstasy’! Após fogos lindos de artifício que me acordaram por completo, fui me recompondo das dores do corpo, da aura, da fome, comi pizza com açaí, uma delícia, agora entendi por que no norte eles comem camarão com açaí, é perfeito o salgado com doce! Regozijei! Coincidentemente todos foram chegando, depenados, lógico, mas felizes de alma encharcada de altruísmos.
Decidimos então deixar nossa fazendinha, um batia a canga no outro para retirar parte da poeira vicinal. Semimortos, porém semideuses, voltando para casa distante que parecia mais distante ainda. Valeu a pena? Sim, despi-me de preconceitos e da camisa que agora só serve para pano de chão! Tente um dia você também! Ei, Matheus, quando vai ser a próxima!?

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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