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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Para ninar Marília Mendonça

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publicado em 09/11/2021 às 07h12
atualizado em 09/11/2021 às 04h36

No final, tudo se ajeita.

Quando entrevistei a cantora Gal Costa, para o lançamento de seu último disco solo, “A Pele do Futuro”, em que ela canta com Marília Mendonça a terceira faixa, “Cuidando de Longe”, (de Marília), pelo jeito de Gal falar, fiquei com vontade de conversar com a “Rainha da Sofrência”. Deu certo, conversamos pouco, mas vi que ela era um amor de pessoa.

A morte da cantora, com vinte e poucos anos, mexeu com a sensibilidade e os sentidos do povo brasileiro, mas a memória do povo é curta. Há um esquecimento proposital.

Marília era uma mulher bonita, tinha uma voz estendida, potente e conseguiu fazer tudo em pouco tempo.  Cânticos de pedra e uma mente brilhante.

Caetano Veloso falou na coisa do “sujeito” e eu pensei, se o sujeito é uma definição ampla, lá está  Marília com suas antenas relibertas. Caetano está certo. O sujeito está no olho da oração.

A passagem de Marília Mendonça por aqui, mostra o que já sabemos: não somos nada nessa guerra inglória, do toma lá dá cá, do bateu, levou e outras constatações fatalistas, que acontecem todos os dias.  Marília Mendonça explodiu e partiu.

As tevês ainda brigam pela audiência da morte da cantora, não viram que seu canto é um eco entretecido no tempo. Marília, quase uma libélula, quase azul, quase.

Ela ainda se mexe entre as flores e a brisa, quando o coração se dispersa como um sonho, neste tempo sem paciência.

Há sons pelas casas e barracas da praia. A lembrança vai fabricar uma nova Marília, replicando o que ela foi e o que valeu.

Acho que gostamos muito deste mundo, por isso choramos a morte de Marília, nesses dias mais rápidos que agora, o sopro, que seja por isso que seus versos enlouquecidos de amor, foram cantados por milhares de garotas em dores e despedidas, uma cena triste.  Eu vi na TV.

Também lágrimas.

Como não preferir o contrário, mas o contrário ninguém reparou – as sacudidas dos astros, entre astros, tão breve a vida, como canta Jobim.

Por breves que sejam os nossos ânimos, pesares,  assuntos  que logo nos devoram a imaginação, a piedade, o adeus.

Parece até que é mentira, que Marília não morreu, de tão estranho anunciado, na última sexta-feira. Um jato de imagens. A moça ficou na paisagem.

Marília ainda precisava ser ninada. É isso que eu penso.

Kapetadas

1 – Toda mulher é meio Marília Mendonça e Leila Diniz.
2 – A cada pensar sobre a fragilidade da vida, um repensar sobre as prioridades.
3 – Som na caixa: “Amar sozinho também é amor”, dela

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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