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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Hotel Tambaú, o tecido urbano

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publicado em 15/06/2021 às 07h42
atualizado em 15/06/2021 às 04h46

Eu queria fazer um poema para o Hotel Tambaú, mas não sei escrever versos. Queria agradecer à memória do arquiteto Sérgio Bernardes, que teve uma visão cosmopolita de fazer o projeto inserido em um banco de areia à beira mar, o nosso Hotel Tambaú, em meados da década de 1960. O tecido urbano. Quase um belo horizonte!

O mês passado, quando entrevistei a cantora Marina, perguntei qual lembrança da nossa cidade, e ela disse: “o Hotel Tambaú”, que todo mundo no Rio de Janeiro falava desse hotel, que adentrava o mar, onde ela se hospedara muitas vezes.

O Hotel Tambaú representa muito em nossas vidas, um dos marcos mais importantes da modernidade na cidade de João Pessoa, tanto por sua original estrutura, como pela notável integração à paisagem natural e urbana. Nada conseguirá apagar essa imagem da gente. Nem o tempo, nem o abandono. É crível!

Domingo passado, ao invés de ir pedalar para a Ponta do Cabo Branco, me mandei pras bandas de Tambaú e não resisti, entrei na rampa do hotel isolada por cones e fiz uma filmagem. O local parece precário, isolado, mesmo com a notícia de que foi leiloado.

Inconsistente. Sim, como como qualquer obra nesse país, hoje mais do nunca, quando a destruição acontece a olho nu e os átomos sobram e tudo vira breu. O hotel está exatamente como não queria, sumindo da paisagem. Um cartão postal tão belo.

Tantas recompensas, tantas alegrias. Foi no Cinema Tambaú, em 1978, que vi o Caetano Veloso pela primeira vez, no show “Muito”, quando ele se apresentava vestido numa camiseta branca e de short amarelo.

Se Caetano era a própria transformação, o hotel era um símbolo de modernidade.

Foi ali que Caetano cantou “Terra”, por mais distante o errante navegante, quem jamais te esqueceria (?)
O Hotel Tambaú nos colocou à frente de seu tempo.

A primeira vez que entrei, pedi licença para dar a volta na circunferência. Estava sozinho diante do esplendor da obra, fiquei andando sem saber onde era a saída, de tão fascinante que obra nos colocava.

Tomei banho nas piscinas do hotel diversas vezes. Eu era atrevido. Numa tarde, entramos pela porta dos fundos, de quem vinha da praia, eu e uma garota e fomos direto pra piscina conversar com Juca Chaves, que faria show naquela noite, no Teatro Santa Roza. Ali mesmo ele nos deu os convites. Caixinha, obrigado!

Eu escrevo em fuga, passo tudo a limpo, deixando minhas pegadas e amores secretos, tantas cenas dos filmes, que eu assistia na Sessão de Arte, às 22h, no Cine Tambaú, na companhia do maestro Pedro Santos, depois bebíamos todas nos bares do bairro. Saudades dele.

Eu escrevo em fuga dentro da prisão do computador, revirando meus pensamentos.

Visto por outro olhar, nesse mar, nesse chão, por onde passam ciclistas, idosos, pais, meninos e cachorros que sequer olham para o Hotel Tambaú ofuscado na luz da manhã, com a graça da falta de sua glória.

Kapetadas

1 – Alta-costura vem do francês “haute couture”, meu bem, que significa criação artesanal de modelos exclusivos feitos sob medida. Ou seja: A costureira do bairro é mais alta costura que a dolce & gabbana, que você esnoba no seu Instagram. Cuidado, Deus castiga.
2 – Achei a voz da Juliette muito ruim. Vida longa ao estado de “celebridade”
3 – Som na caixa: “Sigo a linha do trem que é pra ter onde ir”, Jão

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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