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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Pão com manteiga no café

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publicado em 24/04/2021 às 07h39
atualizado em 24/04/2021 às 10h11

O tempo está passando.
Recomeços. No corredor de um hospital de Campina Grande, um homem chamado Martinho Minervino, vence a Covid e vai para sua casa, ao som de Luiz Gonzaga, cantando – ela só quer, só pensa em namorar. Uma cena nordestina, mundial. Um pouco de saúde.

Do lado de cá da vida, agora vivi esse homem novamente. Quem é esse cidadão? Não sei, a imagem foi a mais bonita da semana, talvez, do ano. Por essa luz eu disparo e vou bem mais.

46 dias internado, um século.

Ele sai do hospital em meio a uma louvação da equipe de saúde, que me fez lembrar um filme de Chaplin, Tempos Modernos, 1936. Também o desejo que há na memória de muitos, ver seu pai, parente ou amigo vencer a Covid.

Uma história, uma demanda, uma simbiose no cobertor desse homem.

Agora que penso nisso, ter visto essa cena, ter crescido com ela, sinto a contemplação que me tira o fôlego desse agouro.

O homem é de Taperoá e voltou a conhecer seu destino. Como quem sai das ferragens, sobrevivente de um acidente e, saturado, com a esperança que “advisee” de seus pensamentos. Minervino está acordado.

Começou a viver de novo, Seu Martinho Minervino, tanto que rapidamente lhe proporcionaram uma canção, um baião do Gonzaga e já pode e tem o direito de olhar para seu umbigo.

Vi várias vezes o vídeo, postado aqui no MaisPB. Não contive o olhar e fiz uma oração para que outros se acordem.

De outros tempos, bati palmas como se fosse um show.

A imagem do cidadão sombreada entre lábio e a ponta do nariz, a fazer-se notar na cena simples, um milagre, como dizem por aí.

Há muitos assim, vi uns tantos, craques que nem o Gonzaga, com sua Asa Branca ou poderia ser uma Andorinha, pelos verões da sua voz que respeitava Januáro e sua vida era andar por esse país, até descansar feliz.

Esse homem, um pouco como nós, aqui, agora, quiçá a mais preciosa saúde restabelecida, merece mais que a moça da canção, que só quer, só pensa em namorar. Aliás, poderia ser Chopin, Beethoven ou Milton Nascimento.

Corri para cozinha e fiquei a pensar no pão com manteiga no café, da canção de João Donato e Lysias Enio: “Coisas tão poucas, tão banais/Coisas com coisas tão iguais”

O mundo dá sinais de cansaço? Bobagens, o mundo não dá sinais
nem ponteiros, talvez o ponteio, da canção de Edu Lobo, do que está para acontecer, acontecendo, já aconteceu. “Eh! tem jangada no mar/ Hei! hei! hei! Hoje tem arrastão”

Dois mil e vinte um, ano antropoceno e tantos precisando acordar.

Desculpem minha emoção despreparada, vida que segue, a de Seu Martinho Minervino.

Kapatedas
1 – A juventude perdida dos anos 80, está se encontrando na fila de vacinação para sexagenários.
2 – Se já está essa treta com o povo entocado, imagina quando começar a diáspora.
3 – Som na caixa: “O que passa é mais que claro/É todo mundo e é ninguém”, Caetano Veloso.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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