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Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

Os 120 anos de Simon Kuznets

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publicado em 16/04/2021 às 07h45
atualizado em 16/04/2021 às 05h15

O presente artigo é uma justa homenagem ao célebre economista Simon Smith Kuznets, que nasceu em 30 de abril de 1901, na cidade de Pinsk, que na época pertencia ao Império Russo, atualmente, uma das cidades mais antigas da República de Belarus. A partir de 1915, Simon Kuznets morou em Kharkov, território também do vasto Império Russo, hoje, Kharkiv, uma das maiores cidades da Ucrânia. Entre 1941 e 1945, com a ocupação da Alemanha nazista muitas famílias judias em Kharkov, na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), foram obrigadas a um forçado exílio, mas, infelizmente, muitas foram mortas em campos de concentração.

Simon Kuznets estudou entre 1918 e 1921 no Kharkiv Institute of Commerce e trabalhou aos 19 anos no Departamento de Estatística do Trabalho, em Kharkov, até 1922, quando emigrou para os Estados Unidos da América (EUA). No país mais rico do mundo, Kuznets ingressou no Curso de Graduação em Ciências Econômicas na Universidade de Columbia, na cidade de Nova York, onde conquistou o título de bacharel em 1923, mestre em 1924 e Ph.D. em Economia em 1926. No ano de 1927, aos 26 anos, Kuznets foi trabalhar no National Bureau of Economic Research (NBER), liderado pelo seu fundador, o economista americano Wesley Clair Mitchell (1874-1948). Simon Kuznets foi o mais destacado aluno do Prof. Wesley C. Mitchell. Ele foi professor universitário inicialmente, na Pennsylvania University, entre 1930 e 1954, em seguida, na John Hopkins University, entre 1954 e 1960, e por último, na Harvard University, entre 1960 e 1971.

O economista Simon Kuzents foi laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 1971, “por sua interpretação empírica do crescimento econômico, que levou a novas e aprofundadas percepções sobre a estrutura econômica e social e o processo de desenvolvimento” (MACHADO, 2019, p. 350). Na relevante obra intitulada Modern Economic Growth (em português, Crescimento Econômico Moderno), de 1966, Kuznets buscou entender o processo de crescimento econômico sustentado de uma nação e ao mesmo tempo realizar um “estudo comparativo do crescimento econômico entre as nações” (KUZNETS, 1983, p. 7).

De acordo com o economista russo e naturalizado norte-americano Simon Kuznets (1983, p. 7), “identificamos o crescimento econômico das nações com um aumento sustentado do produto per capita ou por trabalhador, (…)”. O aumento da capacidade produtiva da economia em termos per capita é uma das maiores preocupações dos líderes das nações capitalistas ou não capitalistas.

Em sua obra, Kuznets analisou em vários quadros, os indicadores de 14 países europeus, Alemanha Ocidental (hoje, Alemanha), Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Finlândia, Holanda (hoje, Países Baixos), Luxemburgo, Itália, Noruega, Reino Unido, Suécia, Suíça e URSS (nos dias de hoje, Rússia), além de dois países da América do Norte, Canadá e EUA; dois países da Oceania, Austrália e Nova Zelândia; e três países da Ásia, China, Índia e Japão.

De acordo com Kuznets (1983, p. 27), “é o povo que gera o crescimento econômico e consome os seus frutos; e o aumento de população é uma característica e uma condição peculiar do crescimento econômico moderno”. O Prof. Simon Kuznets apresentou suas opiniões sobre o complexo processo de crescimento econômico de uma nação, analisando empiricamente a população, a agricultura, a urbanização, a industrialização e o comércio exterior entre as nações, revelando claramente, uma mudança na estrutura produtiva, em outras palavras, a diminuição da participação do setor primário no crescimento econômico e o aumento da participação dos setores secundário e terciário.

Conforme Kuznets (1983, p. 61), “no curso do crescimento econômico moderno, as elevadas taxas de aumento da população e do produto têm sido associadas a modificações pronunciadas nas participações de várias indústrias – no produto total e nos recursos produtivos utilizados”. Simon Kuznets é o inventor do Produto Interno Bruto (PIB), que é o valor monetário da produção total de bens e serviços finais de um país em determinado período de tempo. Com o trabalho de compilar dados diuturnamente, Kuznets durante a Grande Depressão dos anos 30, formulou cientificamente o Gross Domestic Product (em português, Produto Interno Bruto), em 1934, sendo adotado oficialmente a partir do Acordo de Bretton Woods, em julho de 1944, antes do fim da Segunda Guerra Mundial.

Para Kuznets (1983, p. 103), “a estrutura industrial do produto nacional e dos recursos produtivos é um aspecto-chave de uma economia em processo de crescimento, uma vez que nos permite observar o impacto do avanço no conhecimento tecnológico, (…)”. Foi presidente da American Economic Association (AEA) em 1954, fundada em 1885, com reuniões anuais desde 1950 e a partir de 2021 de forma virtual por causa da pandemia da COVID-19 nos EUA e no mundo. Em 1946, Simon Kuznets foi professor orientador na tese de doutorado em Economia, na Columbia University, do economista norte-americano Milton Friedman (1912-2006), Prêmio Nobel de Economia em 1976. No ano de 1977, Kuznets ganhou a Medalha Francis Walker pela AEA.

Simon Kuznets é conhecido internacionalmente pela Curva de Kuznets, de 1955, que representa graficamente a hipótese que, à medida que a economia se desenvolve, as forças de mercado primeiro aumentam e depois diminuem a desigualdade econômica. Ele analisou a relação entre a desigualdade de renda e o crescimento econômico mensurado pela renda per capita de uma economia de mercado, além disso, o gráfico se assemelha a uma parábola com concavidade para baixo, ou seja, idêntico a letra U invertida. Kuznets foi um estudioso sobre a desigualdade de renda nos EUA e no mundo.

Simon Kuznets contribuiu também com a Teoria dos Ciclos Econômicos, os Ciclos de Kuznets, de 1930, um crescimento econômico com duração aproximadamente de 15 a 25 anos, seguido por uma recessão econômica. É possível apontar um ciclo de construção de moradias e de transporte da população nos EUA, ou seja, investimentos em infraestrutura. São quatro fases no ciclo econômico: a prosperidade, a recessão, a depressão e a recuperação. Temos expansões e retrações econômicas irregulares em diversos países. Conforme Kuznets (1983, p. 128), “em geral, o crescimento econômico moderno tem sido acompanhado por um aumento substancial da idade de ingresso na força de trabalho e por uma redução na idade de aposentadoria”.

Em 4 de janeiro de 1934, o economista Simon Kuznets foi o autor do relatório intitulado “National Income, 1929-32”, ao Congresso dos EUA, que deu origem ao PIB (em inglês, GDP), o principal indicador econômico da economia. Na ótica da demanda, é a soma do consumo das famílias (C), dos investimentos das empresas privadas (I) e dos gastos governamentais (G), mais as exportações (X) de bens e serviços para o resto do mundo menos as importações (M). Em outras palavras, numa simples fórmula, PIB = C + I + G + (X – M).

Kuznets analisou o PIB de várias nações em sua obra e podemos encontrar o PIB dos EUA de US$ 406,5 bilhões em 1958, com população total de 174,9 milhões de habitantes (hab.), logo, o PIB per capita foi de US$ 2.234. O PIB da China continental era de US$ 55,0 bilhões no ano de 1958, população de 657,0 milhões de hab., logo, o PIB per capita foi de US$ 84. Passados 62 anos depois, o PIB americano é de US$ 20,8 trilhões, população é de 325,7 milhões de hab. e a renda per capita é de US$ 63.862 em 2020. Já o PIB chinês é de US$ 14,8 trilhões, população total é de 1,394 bilhão de hab. e a renda per capita é de US$ 10.616 no ano de 2020, em pleno Grande Confinamento (FMI, 2021).

O demógrafo Simon Kuznets, em 1929, casou-se com a judia russa-canadense Edith Handler e com ela tiveram dois filhos, Paul Kuznets e Judith Stein, e depois, quatro netos. Kuznets foi autor de 31 livros de economia e mais de 200 artigos até sua morte em 08 de julho de 1985, aos 84 anos, em Cambridge, em Massachusetts, nos EUA, em sua casa, de um ataque cardíaco. Sua medalha de ouro de 23 quilates do Prêmio Nobel de Economia, que ganhou aos 70 anos, foi vendida num leilão em Los Angeles por mais de US$ 390 mil em 2015. Segundo o economista norte-americano Paul Samuelson (1915-2009), Prêmio Nobel de Economia de 1970, “Simon Kuznets foi um gigante na economia do século 20. Ele foi o fundador da medição da renda nacional e criou a história econômica quantitativa”, em entrevista ao jornal The New York Times, em 11 de julho de 1985.

Nas comemorações alusivas aos 120 anos de Simon Kuznets, o criador do Produto Nacional Bruto (PNB), do PIB, da Curva de Kuznets e dos Ciclos de Kuznets, é fundamental entender que o declínio na atividade econômica é cíclico, doloroso e gera situações socioeconômicas difíceis. Estamos numa grave crise econômica no Brasil, segundo os dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Kuznets foi estatístico e presidente da American Statistical Association (ASA) em 1949 –, infelizmente, a recessão econômica foi de 4,1% em 2020 e o contingente de desempregados já alcançou 14,3 milhões de pessoas no trimestre de novembro de 2020 a janeiro de 2021. Entre os jovens de 18 a 24 anos, a taxa de desemprego já bateu um recorde de 31,4% da população economicamente ativa (PEA) no Brasil. O País já tem 19 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave (REDE PENSSAN, 2021). Todavia, iremos nos recuperar, mais cedo ou mais tarde. Em outras palavras, podemos sair da influência recessiva do SARS-CoV-2 sobre o PIB brasileiro.

No Brasil, continuamos numa grave crise sanitária, segundo os dados oficiais de 14 de abril de 2021 da Johns Hopkins University, – onde Kuznets foi professor de Economia Política em Baltimore –, infelizmente, mais de 13,5 milhões de casos e 358.425 mortes por causa da COVID-19. O Brasil mais a Índia (13,8 milhões de casos e 172.085 mortes) ainda não ultrapassaram os EUA (31,4 milhões de casos e 564.098 óbitos por COVID-19). Nos últimos 5 dias, a média móvel de mortes permaneceu acima de 3 mil por dia, no Brasil, desde 10 de abril de 2021 (G1, 2021).

Em relação a vacinação contra o SARS-CoV-2, de acordo com as estatísticas oficiais de 13 de abril de 2021 da Universidade de Oxford, a mais antiga universidade do Reino Unido, – onde Simon Kuznets escreveu vários artigos e foi diversas vezes citado em artigos de economia no histórico The Economic Journal –, felizmente, os EUA lideram com 189,6 milhões de doses aplicadas no ranking do Grupo dos Vinte (G-20), segundo a Our World in Data (CNN Brasil, 2021). A Índia encontra-se em terceiro lugar com 108,5 milhões. Já o Brasil apresenta-se em quinto lugar com 31,4 milhões de doses já aplicadas. No ranking mundial de doses já aplicadas a cada 100 pessoas, o Brasil encontra-se em 56ª colocação. Com 212,9 milhões de habitantes (IBGE, 2021), o Brasil é o sexto país mais populoso do planeta e só vacinou apenas 14,75% da população total.

O continental, populoso e emergente Brasil precisa, urgentemente, agilizar a vacinação em massa, nos 26 estados e no Distrito Federal, em seguida, realizar uma reforma tributária, pois as famílias e as empresas brasileiras não aguentam mais tantos impostos, taxas e contribuições, são 92 tributos. Depois, melhorar os cinco modais de transporte, nas cinco regiões do País, para exportar os produtos Made in Brazil para os países vizinhos ou não, e posteriormente, promover projetos economicamente viáveis, socialmente justos e ambientalmente corretos na Amazônia Verde e na Amazônia Azul. O melhor caminho para aumentar a produção de bens e serviços da 12ª maior economia do mundo, com PIB nominal de US$ 1,363 trilhões em 2020 (FMI) e diminuir a desigualdade do 8° país mais desigual do planeta, com Coeficiente de Gini de 53,9 em 2018 (PNUD), com certeza, são os grandes investimentos em educação de qualidade.

O Brasil foi citado nesta relevante obra de Simon Kuznets, mais a Argentina, o Uruguai, o México e a Jamaica, cinco países da região da América Latina e do Caribe. É necessário revelar que os dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) apontam que foi a região mais atingida do mundo pela Crise da COVID-19, com uma contração econômica de 7,7% no ano de 2020, além de queda de 13% nas exportações. Por fim, em pleno isolamento social, vamos ler o brilhante economista Simon Kuznets, nos 120 anos de seu nascimento em Pinsk, e valorizar seu legado às Ciências Econômicas.

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