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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Carta para Descartes

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publicado em 19/12/2020 às 07h00
atualizado em 18/12/2020 às 20h57

É dezembro, ainda. Eu amava dezembro. Eu amava Jobim – “Parece dezembro, de um ano dourado, parece bolero, te quero, te quero, dizer que não quero, teus beijos nunca mais…” Quero começar esse texto com uma ideia sobre um sonho inacabado.

Alguém escreveu a respeito: algo como uma viagem, todo sonho não tem que ter começo e fim bem definidos, uma estrutura ideal para narrar. Mas estou longe disso, estou sonhando com a Varanda Tropical aberta, a casa, meus livros, meus discos não consigo viver sem isso. 

Em geral, me excitam mais os preparativos do que a festa em si. Talvez porque neles a imaginação seja muito poderosa, e tudo é possível antes de se colocar em movimento. 

Os preparativos lembram àquele momento de liberdade que vivenciamos ao começar a escrever um texto, e não ignoramos que assim que colocamos os dedos no teclado, seremos prisioneiros do território verbal contido na primeira linha. De todo modo, também gosto de sonhar.

Sonhei que sobrevoava a cidade e fiquei a ver João Pessoa em miniatura, encontrando telhados velhos conhecidos para sentir que, mesmo num sonho eu não sonho mais.

Passei pela avenida Gal. Osório e vi os casario onde morei quando aqui cheguei na década de 70. Depois vi os cinemas Plaza e Municipal e senti saudade da quantidade de cenas que ficaram para trás.

Estava na avenida Epitácio Pessoa desobstruindo de maneira inteligente rotas e caminhos (hoje), impossíveis. Eu queria chegar bem depressa ao mar, mas antes fui na avenida João Câncio (praia de Manaira), onde morei pela primeira vez sozinho. Eu adorava. 

Voltei ao centro, entrei na Rua Santo Elias e sai pela Rua Santos Dumont, onde morei com minha Tia Mercês e numa curva já estava em Tambauzinho, onde residi na avenida Hermenegildo di Láscio, em frente a antiga escola da professora Zarinha. 

Sonhei tanto essa noite sobrevoando a cidade! Passei pelo telhado do edifício Santo Antonio em Tambaú, onde morei e namorei muito entre blues e manhãs quentes.

No eco silencioso de antigas alegrias, quando se apagam as luzes para irmos dormir onde moramos no Cabo Branco, escuto algo parecido com as minhas risadas dentro dos cinemas da cidade. Muita gente encontrava comigo e dizia: “K, eu ouvi sua risada você estava no cinema assistindo Os Pássaros de Hitchcock”.E eu – engano seu. Aliás, bom dia cartesianos o que vamos categorizar hoje?  Mas eles não conheciam Descartes.

Tem coisas que vão além da vida, que palavras exatas não poderão descrever.

Cartas de amor? Sim, cartas amorosas talvez sejam a maior prova da solidão, a necessidade de uma oração, toda intenção seja atendida. Ou correspondida. 

Acorda Senhor K, e escreva uma carta de amor para Descartes. Vamos inverter Descartes?  (foto) 

Kapetadas

1 – Nos seus isqueiros, os alquimistas usavam pedra filosofal.

2 –Queria dizer que a minha torrada acabou de pular da torradeira e cair exatamente sobre o prato. Um bom dia a todos.

3 – Som na caixa: “Diz que me ama e eu não sonho mais”, Chico Buarque.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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