João Pessoa, 17 de novembro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Saudosa Maloca

Comentários: 0
publicado em 17/11/2020 às 06h19
atualizado em 17/11/2020 às 07h08

Com seres distintos, habitando lugares no coração vagabundo do cancioneiro baiano, a canção “Saudosa Maloca”, de Adoniram Barbosa, veio à tona na Live que Caetano Veloso fez na quinta-feira passada, para ajudar os candidatos a prefeitos de São Paulo, Guilherme Boulos e Manuela D’Ávila, de Porto Alegre. Ambos estão no Segundo Turno.

“Saudosa Maloca” é uma canção triste, plantada em nossa memória. Lá onde moravam “Eu, Mato Grosso e o Joca”. Quando Caetano Veloso começou a cantar “Saudosa maloca, maloca querida/ dim-dim donde nós passemos os dias feliz de nossas vidas”, bateu uma saudade.

O artista parecia triste e sua sensibilidade se espalhou pela biblioteca onde trabalho e o quarto onde durmo.

Parecia que Caetano cantava para um grande parque, já que a imagem da canção, mostrava a cena, quando: “Mato Grosso quis gritá/mas em cima eu falei/os homis tão cá razão/ nós arranja outro lugar”. A canção veio desenhada no rosto de Caetano.

Um acalanto e daí para “Podres Poderes” (dele), tudo muito forte, nada raivoso.

Elevado, via-se claramente o muro que separava e protegia “Eu, Mato Grosso e o Joca”: os três dessa massa humana, curvada, que ainda hoje encontramos nas ruas procurando um abrigo.

Fiquei com a dor do artista, um “prisma” que tudo ensina, pois, ao cantar “Saudosa Maloca”, edificada por Adoniram, Caetano mexeu na cumeeira das nossas casas.

Aquilo dele cantar num silencio maior, “peguemos tudo as nossas coisas e fumos pro meio da rua, apreciar a demolição, que tristeza que eu sentia, cada táuba que caía, doía no coração”, nos colocou dentro desse espaço, da demolição, do que um dia foi Maloca. Saudosa. Caetano parecia declamar a canção de Adoniram.

A canção serviu para tomar parte no diálogo, dizer que continua a fascinar-me a leitura do autor de “Terra”, interpretando Saudosa Maloca, como um silêncio servindo de amém.

É evidente que a música fez lembrar de Maurino, Dadá e Zé Caô da canção “Milagre” de Caymmi: “Quem sabe se muda o tempo, quem sabe se o tempo vira/ai o tempo virou”

A vida há muito me ensinou que nós arranja outro lugar. Onde? Saudosa Maloca…

Kapetadas
1 – O mundo gira em velozes canções e malocas queridas. Veremos!
2 – Vulcânico, inquieto, caetanico.
3 – Som na caixa: “Uns têm saudade/e dançam maracatus”, Chico Buarque.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

Leia Também