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João Medeiros é pediatra e presidente da Academia Paraibana de Medicina. E-mail: [email protected]

Medicina e Espiritualidade

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publicado em 03/09/2020 às 07h57

Na abordagem desse tema, é necessário esclarecer de início, a diferença entre espiritualidade e religiosidade.Esta última se refere à participação ou o envolvimento da pessoa com a crença, a seita ou a religião que professa; espiritualidade diz respeito à forma como indivíduo reage a situações desfavoráveis ou adversas que enfrenta no dia a dia. Nesse contexto, situam-se os sentimentos, que são considerados experiências subjetivas das emoções – tristeza, medo, hostilidade,frustração,raiva,desespero,felicidade,alegria,amor, gratidão, esperança, compaixão, etc. -. que podem influir na saúde humana, segundo estudos científicos.

Os sentimentos originam-se na neocórtex; são reações às emoções e têm implicações no processo de adoecimento cardiovascular e até de determinados tipos de câncer, e na expectativa de vida. O indivíduo que não perdoa, por exemplo, por meses, anos ou décadas, tem uma descarga hormonal significativa que, atuando nas artérias, pode levar à vasoconstrição e favorecer a formação de coágulos.

O cardiologista Roque Savioli, (foto) no seu livro Curando Corações, defende com clareza a relação entre medicina, espiritualidade e o estilo de vida, tomando como exemplo a influência dos sete Pecados Capitais – a Gula, a Luxúria , a Soberba, a Inveja, a Preguiça, a Ira e a Avareza – na saúde humana.

Segundo São Tomás de Aquino, os pecados citados representam uma distorção de certas propriedades decorrentes de desvios comportamentais do indivíduo. Saciar a fome é uma necessidade inerente à autopreservação, mas comer em excesso é Gula, por exemplo.Da mesma forma, ter autoconfiança faz parte do psiquismo sadio, mas os exageros podem levar à Vanglória e à Soberba. Praticar esportes, sentir prazer com certas atividades fazem parte do dia a dia das pessoas, mas o exagero de sentir prazer, a idolatria do corpo, do sexo e de coisas materiais representam a Luxúria.

Maus hábitos espirituais conduzem a procedimentos inadequados que estão inevitavelmente relacionados a doenças físicas.

Nessa linha de raciocínio, Savioli pontua que a Ira aumenta a probabilidade de danos à saúde, desde uma reação alérgica a um infarto do miocárdio, cujo risco, segundo estudos, é três vezes maior em indivíduos que se irritam de forma intensa e frequente, em relação àqueles que encaram os desafios com serenidade.

Entristecer-se, desapontar-se com o sucesso dos outros, é o pecado da Inveja que, por sua vez, leva ao ódio, à tristeza, ao ressentimento e à depressão, cujos efeitos danosos se materializam sob a forma de hipertensão arterial, infarto, câncer, aterosclerose, etc.

A Avareza, que se caracteriza pela necessidade de ter cada vez mais e gastar menos, causa um desequilíbrio entre o psíquico e o espiritual, predispondo a doenças físicas.

A Gula, ou seja, a compulsão por comida, leva à obesidade, com as complicações muito conhecidas: síndrome metabólica, hipertensão arterial, diabetes, infarto do miocárdio e morte. Caminhamos para uma epidemia avassaladora de obesidade no século XXI, conforme se evidencia pelo seu crescimento em todo o mundo.

A Soberba é considerada a mãe de todos os pecados capitais: da inveja, da avareza, da preguiça e da ira.

Na Luxúria, no exagero de prazeres sexuais, na liberdade e na libertinagem emergem as drogas e doenças como infarto, o acidente vascular encefálico, o câncer e as doenças sexualmente transmissíveis.

Os reflexos da inatividade física, da preguiça são reconhecidamente fatores de risco cardiovascular.

Essa abordagem nos leva, portanto, a uma reflexão sobre o estilo de vida que devemos adotar, reforçando a importância da relação entre a higidez física e emocional, binômio indissociável e essencial para uma vida saudável e longa.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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